São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

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Maior recessão desde Collor é amortecida

Divulgação do PIB do 1º trimestre amanhã deve confirmar recessão, mas perdas concentradas e ação fiscal atenuam crise

Queda acumulada da economia entre outubro e março deve ficar entre 4% e 5%, mas popularidade de Lula resiste à recessão

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Salvo uma revisão radical das estatísticas oficiais ou um erro coletivo nas projeções dos analistas de mercado, está para ser decretada a recessão mais aguda no país em duas décadas -ainda que seus efeitos políticos, ao menos até o momento, não sejam tão intensos quanto os de suas antecessoras.
Amanhã, será divulgada a variação do Produto Interno Bruto de janeiro a março deste ano, que, mesmo para os mais otimistas, apontará dois trimestres consecutivos de encolhimento da renda nacional. Embora não seja unanimidade, é a marca mais usada em todo o mundo para determinar quando uma redução da produção, dos empregos, dos salários, do consumo e dos investimentos é grave o bastante para ser chamada de recessão.
Das avaliações reservadas do governo aos cálculos dos bancos e empresas de consultorias, estima-se que a queda acumulada do PIB no período, que começa com o agravamento da crise econômica global, ficará na casa dos 4% ou 5%. Em qualquer caso, é a maior taxa desde que o Plano Collor promoveu o confisco da poupança e demais depósitos bancários em 1990.
Iniciada em outubro, com a parada brusca do crédito e do comércio exterior, a reviravolta econômica produziu no final do ano passado um PIB 3,6% menor que o do trimestre anterior. Ainda que o número deva ser revisto, espera-se, para o primeiro trimestre deste ano, nova queda, de 1,5% ou mais.
A retração é muito maior, por exemplo, do que a medida em 2001, quando o colapso da Argentina, a escassez de energia e a comoção mundial pós-11 de Setembro provocaram, em três trimestres seguidos no vermelho, perda de 1% do PIB.
Na época, em seu penúltimo ano de mandato, o presidente Fernando Henrique Cardoso era considerado ótimo ou bom por 24% dos entrevistados pelo Datafolha. Agora, no penúltimo ano de seu mandato, a aprovação de Luiz Inácio Lula da Silva, que havia caído a 65%, voltou ao patamar pré-crise de 69%.
Há casos mais dramáticos entre as dez recessões das últimas três décadas. As de 1981 e 1982/83, tempos de calote da dívida externa, contribuíram para apressar o fim da ditadura; as de 1988 e 1989 ajudaram a enterrar os projetos nacionais de PMDB e PFL, hoje DEM, que sustentavam o governo Sarney; Fernando Collor, que não chegou a ver crescimento econômico, teve de enfrentar um processo de impeachment.
As comparações não podem ser limitadas aos índices econômicos. Mas especialistas veem na recessão atual particularidades que atenuam o impacto para boa parte da população. "Há setores importantes que sofreram muito menos, como o de alimentos industrializados e outros que não dependem de crédito", diz o economista Paulo Picchetti, um dos sete membros do comitê recém-criado pela Fundação Getulio Vargas para fazer a datação dos ciclos de expansão e contração da economia do país.
Para Luiz Fernando Lopes, do Pátria Investimentos, a crise está localizada, principalmente, nas empresas voltadas ao mercado externo, porque as exportações estão se recuperando mais lentamente que o crédito.
Exemplos emblemáticos são a Vale, que cortou mais de um terço dos investimentos, e a Embraer, que demitiu 4.200.
Já a indústria automobilística, que ensaiou demissões em massa após a secura do crédito, teve apoio do governo via redução de imposto, e segurou a produção. A construção civil, outra grande empregadora em crise, também foi socorrida.
Bráulio Borges, da LCA Consultores, endossa. "O setor que está puxando o emprego para baixo é a indústria exportadora. Para os demais, o único mês ruim mesmo foi o de dezembro", argumenta, com base no cadastro do emprego formal do Ministério do Trabalho.
Em situação fiscal privilegiada após anos de bonança, o governo pôde ampliar programas que afetam o consumo, especialmente da maioria mais pobre. Segundo a consultoria MB Associados, os reajustes concedidos ao funcionalismo público, ao salário mínimo e ao Bolsa Família impulsionarão crescimento de 1,2% no consumo geral das famílias neste ano.
Estudiosos dos fenômenos demográficos argumentam, ainda, que o novo perfil etário da população pode minimizar os efeitos da crise. Por esse raciocínio, a entrada de jovens no mercado de trabalho tem caído ano a ano, o que atenua o desemprego e a informalidade, como exemplifica o pesquisador José Eustáquio Diniz Alves, do IBGE.


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