São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

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Taxa de juro reanima disputa Fazenda-BC

Copom deve reduzir Selic na quarta, mas Mantega gostaria de cortes maiores para estimular economia e segurar dólar

Já Meirelles afirma que a política monetária busca apenas segurar a inflação na meta e não realizar política cambial

LEANDRA PERES
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Travando mais uma vez uma guerra de bastidores com o Banco Central, o Ministério da Fazenda espera que o Copom (Comitê de Política Monetária) reduza a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual na quarta-feira.
Se dependesse da vontade da equipe do ministro Guido Mantega (Fazenda), o corte seria maior, de um ponto. Na avaliação de assessores de Mantega, há espaço para essa queda maior da chamada Selic diante da redução no ritmo da economia e da valorização do real.
Nas últimas semanas, BC e Fazenda têm trocado farpas por conta da desvalorização do dólar. Preocupada com os efeitos negativos do dólar barato sobre as exportações, a equipe de Mantega avalia que o BC precisa agir para diminuir o diferencial entre as taxas de juros aqui e no exterior, contribuindo para reduzir a entrada de capital estrangeiro. Do outro lado, o presidente do BC, Henrique Meirelles, tem insistido no discurso de que a política monetária não pode ser cambiante. Seu principal objetivo, segundo ele, é conter a inflação e não definir a taxa de câmbio.
A Fazenda avalia, porém, que as pressões sobre o BC terão pelo menos um efeito parcial. Para um assessor de Mantega, não fosse isso, o Copom optaria por uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic. A equipe de Meirelles tem emitido sinais de que a economia já dá sinais de recuperação que podem recomendar maior prudência na política monetária.
Um dos dados levantados nessa discussão é o comportamento dos preços das commodities. O aumento dos preços neste ano seria sinal de que os alimentos podem voltar a subir. O argumento contrário é que a valorização do real anula qualquer pressão inflacionária, já que barateia as importações.
Além disso, os cortes já feitos pelo BC desde o fim do ano passado começarão a fazer efeito ao longo do segundo semestre.
Por esse raciocínio, seria preciso avaliar com mais cuidado como será a retomada da economia até o final do ano. Se o crescimento for forte, cortes nos juros agora poderão gerar uma pressão na inflação de 2010. Assim, seria mais prudente reduzir menos os juros agora do que ter que fazer uma elevação mais forte em ano eleitoral.
Confirmada a expectativa do governo, a taxa básica irá cair para um dígito -de 10,25% para 9,50%, com os juros reais (descontando a inflação) se situando na casa dos 5%. Mantendo, com isso, o país fora do topo da lista dos campeões de taxas de juros no mundo, posto que liderou nos últimos anos.
A Fazenda avalia que um corte mais ousado do BC seria uma contribuição fundamental para o debate econômico nessa semana, já que na véspera da decisão o IBGE divulgará o resultado do PIB no primeiro trimestre do ano, confirmando tecnicamente recessão no país.
O esforço do governo nos próximos dias será insistir na tecla de que o dado do IBGE refletirá uma situação superada e que a recuperação já começou. Nas palavras de um assessor de Mantega, agora o debate tem de ser feito sobre a velocidade de recuperação da economia.
Os sinais de recuperação teriam contribuído, na avaliação do Planalto, para a melhora do índice de aprovação do governo Lula, que voltou ao patamar pré-crise econômica segundo a última pesquisa do Datafolha.
Os dados são comemorados pelo presidente Lula porque, segundo ele, a oposição apostava que a recuperação iria demorar mais tempo.


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