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Taxa de juro reanima disputa Fazenda-BC
Copom deve reduzir Selic na quarta, mas Mantega gostaria de cortes maiores para estimular economia e segurar dólar
Já Meirelles afirma
que a política monetária busca apenas segurar a inflação na meta e não realizar política cambial
LEANDRA PERES
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Travando mais uma vez uma
guerra de bastidores com o
Banco Central, o Ministério da
Fazenda espera que o Copom
(Comitê de Política Monetária)
reduza a taxa básica de juros
(Selic) em 0,75 ponto percentual na quarta-feira.
Se dependesse da vontade da
equipe do ministro Guido Mantega (Fazenda), o corte seria
maior, de um ponto. Na avaliação de assessores de Mantega,
há espaço para essa queda
maior da chamada Selic diante
da redução no ritmo da economia e da valorização do real.
Nas últimas semanas, BC e
Fazenda têm trocado farpas
por conta da desvalorização do
dólar. Preocupada com os efeitos negativos do dólar barato
sobre as exportações, a equipe
de Mantega avalia que o BC
precisa agir para diminuir o diferencial entre as taxas de juros
aqui e no exterior, contribuindo para reduzir a entrada de capital estrangeiro. Do outro lado, o presidente do BC, Henrique Meirelles, tem insistido no
discurso de que a política monetária não pode ser cambiante. Seu principal objetivo, segundo ele, é conter a inflação e
não definir a taxa de câmbio.
A Fazenda avalia, porém, que
as pressões sobre o BC terão
pelo menos um efeito parcial.
Para um assessor de Mantega,
não fosse isso, o Copom optaria
por uma redução de 0,50 ponto
percentual na taxa Selic. A
equipe de Meirelles tem emitido sinais de que a economia já
dá sinais de recuperação que
podem recomendar maior prudência na política monetária.
Um dos dados levantados
nessa discussão é o comportamento dos preços das commodities. O aumento dos preços
neste ano seria sinal de que os
alimentos podem voltar a subir.
O argumento contrário é que a
valorização do real anula qualquer pressão inflacionária, já
que barateia as importações.
Além disso, os cortes já feitos
pelo BC desde o fim do ano passado começarão a fazer efeito
ao longo do segundo semestre.
Por esse raciocínio, seria preciso avaliar com mais cuidado
como será a retomada da economia até o final do ano. Se o
crescimento for forte, cortes
nos juros agora poderão gerar
uma pressão na inflação de
2010. Assim, seria mais prudente reduzir menos os juros
agora do que ter que fazer uma
elevação mais forte em ano
eleitoral.
Confirmada a expectativa do
governo, a taxa básica irá cair
para um dígito -de 10,25% para 9,50%, com os juros reais
(descontando a inflação) se situando na casa dos 5%. Mantendo, com isso, o país fora do
topo da lista dos campeões de
taxas de juros no mundo, posto
que liderou nos últimos anos.
A Fazenda avalia que um corte mais ousado do BC seria uma
contribuição fundamental para
o debate econômico nessa semana, já que na véspera da decisão o IBGE divulgará o resultado do PIB no primeiro trimestre do ano, confirmando
tecnicamente recessão no país.
O esforço do governo nos
próximos dias será insistir na
tecla de que o dado do IBGE refletirá uma situação superada e
que a recuperação já começou.
Nas palavras de um assessor de
Mantega, agora o debate tem de
ser feito sobre a velocidade de
recuperação da economia.
Os sinais de recuperação teriam contribuído, na avaliação
do Planalto, para a melhora do
índice de aprovação do governo
Lula, que voltou ao patamar
pré-crise econômica segundo a
última pesquisa do Datafolha.
Os dados são comemorados
pelo presidente Lula porque,
segundo ele, a oposição apostava que a recuperação iria demorar mais tempo.
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