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BC pressiona para elevar juro de longo prazo
Banco vê descasamento com política monetária na decisão do CMN de manter em 6,25% taxa que é referência para crédito do BNDES
TJLP está menor que a expectativa de inflação e incide sobre 17% do crédito da economia; presidente do BNDES é contra elevar taxa
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O Banco Central está diante
de uma nova queda-de-braço
com a Fazenda para a definição
da política de combate à inflação. O motivo da disputa, agora,
é a taxa de juros usada como referência para os empréstimos
do BNDES, a TJLP (Taxa de
Juros de Longo Prazo), que foi
mantida na semana passada em
6,25% pelo CMN (Conselho
Monetário Nacional).
Num momento em que o
Banco Central voltou a subir a
Selic para combater a inflação,
a decisão do governo de manter
estacionada a TJLP é um sinal
na direção contrária.
Para a autoridade monetária,
trata-se de um descasamento
na política monetária. De um
lado, o Banco Central sinalizando que o crédito ficará mais
caro, e, de outro, o BNDES correndo na direção oposta.
Para compensar esse descasamento, o Banco Central tem
dito em discussões internas no
governo que poderá ter de elevar ainda mais os juros na próximas reuniões do Copom para
frear a demanda. Os empréstimos do BNDES têm hoje um
peso importante na economia e
crescem a 36% ao ano.
A Selic não incide sobre o
crédito total no país. A taxa tem
influência sobre o chamado
crédito livre, que corresponde a
70% do total, que está na faixa
de R$ 1 trilhão. Já os 30% restantes são os chamados créditos direcionados, cujos juros
são fixados por outros instrumentos, entre eles a TJLP.
O total de empréstimos do
BNDES na economia soma R$
170 bilhões, praticamente dois
terços dos R$ 300 bilhões do
crédito direcionado. A TJLP incide, portanto, sobre praticamente 17% do crédito total na
economia. O restante do crédito direcionado é de operações
de crédito rural e habitacional,
que também são fixadas por lei.
O Banco Central alega que o
fato de 30% do estoque do crédito no país ter como referência taxas de juros menores do
que as de mercado, entre elas a
TJLP, é um empecilho para a
execução da política monetária, já que se trata de um subsídio. O juro fixado em 6,25% para a TJLP é negativo, já que o
IPCA projetado para este ano
está 6,4%.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirma que a
TJLP é uma taxa de muito longo prazo e que é usada como referência para os empréstimos
em investimentos em setores
de infra-estrutura, como de
energia e transporte, entre outros, e, por isso, não pode ser
comparada à Selic, que incide
sobre o crédito de curto prazo.
Como os empréstimos do
BNDES têm prazo de maturação de 12 a 15 anos, Coutinho
diz que a TJLP não pode ser
comparada à taxa de inflação
do ano presente, e sim à dos
anos futuros. Como ele acredita que, nos próximos dois anos,
a taxa de inflação volte para os
4,5% do centro da meta, a TJLP
não poderia, assim, ser vista como um subsídio.
Falta de confiança
"Subir a TJLP agora, num
momento em que a inflação
ainda não se elevou muito, é
não só prematuro como também poderia ser entendido como uma demonstração de falta
de confiança na capacidade do
próprio governo de manutenção do controle da inflação no
médio e longo prazos", diz. "O
que precisa ser moderado agora é o crescimento do consumo,
e não do investimento."
O presidente do BNDES diz,
ainda, que o investimento já
vem crescendo a taxas de 12% a
15% a 12 trimestres seguidos
-acima, portanto, da expansão
do PIB- e não seria, a seu ver,
uma decisão inteligente subir a
TJLP e interromper esse ciclo.
Já o economista José Márcio
Camargo, da Opus Gestão de
Recursos e da PUC-RJ, diz, no
entanto, que, antes de se tornar
investimento, o dinheiro do
BNDES ajuda a pressionar ainda mais a demanda. Para ele, a
TJLP deveria acompanhar o
aumento da Selic para ajudar
na política de combate à inflação do Banco Central.
"O BNDES está hoje trabalhando contra a estabilização
da economia", diz.
Para Camargo, o que o
BNDES deveria fazer, agora, é
diminuir a quantidade de empréstimos ao setor privado para gerar menor pressão sobre a
demanda. Até porque o
BNDES, segundo ele, empresta
para empresas que têm acesso a
créditos em mercados nos
quais o custo também é baixo.
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