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Crise fica em segundo plano em cúpula desidratada do G8
Encontro não terá caráter deliberativo; EUA, Alemanha e França dizem preferir G20
Mudança climática, agenda
rara no G8, será o principal
tema hoje, mas definição de
medidas ambientais deve
ficar só para dezembro
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
O G8, o clube dos sete países
mais ricos do mundo mais a
Rússia, faz a partir de hoje a sua
cúpula mais estranha, após 35
anos de existência. Estranha,
para começar, porque a sobrevivência do grupo, no formato
atual, é condenada até pelos
seus principais integrantes
(Estados Unidos, Alemanha,
França), que preferem o formato G20, também defendido pelo
Brasil, cujo presidente só entra
na cúpula amanhã.
Estranha também pela geografia: o governo anfitrião, o
italiano, deslocou a cúpula de
uma ilha na Sardenha para a cidadezinha de L'Aquila, a 120
quilômetros de Roma, embora
a única construção de porte que
tenha sobrevivido ao terremoto de abril tenha sido o quartel
da Guarda de Finanças, um
complexo de 55 hectares.
É nele que se reunirão os governantes, por ser supostamente imune a terremotos.
Mas, "do ponto de vista sísmico, ninguém pode prever nada",
admite até o chanceler anfitrião, Franco Frattini.
Estranho ainda porque continua a haver uma divisão entre
primeira e segunda classe, como brinca o chanceler Celso
Amorim. O G8 faz a sua cúpula
primeiro para apenas no dia seguinte chamar para conversar o
G5+1 (Brasil, China, Índia, África do Sul, México e Egito, o convidado especial da Itália).
Se os principais líderes
acham que o G20 é o formato
ideal para discutir economia e
finanças -antes o principal tema do G8-, o correto seria adotar de uma vez tal formato, em
vez de adicionar e tirar números da sopa de letrinhas em que
se vai transformando a governança global.
Como nenhuma dessas reuniões tem caráter deliberativo,
elas acabam se transformando
em uma espécie de "talk-show"
das maiores estrelas da política
global, neste ano comandadas
por Barack Obama, em seu primeiro G8 e G8+G5.
Este segundo formato tem
também um fator novo e estranho: a China participa, 48 horas
depois da matança de uigures
da região de Xinjiang, no noroeste do país, fronteira com o
Paquistão.
Se, como pedem Angela Merkel e o governo canadense, o G8
deve emitir um "forte sinal" a
respeito da situação no Irã, criticadíssimo pela violência empregada na repressão aos protestos contra a reeleição do
presidente Mahmoud Ahmadinejad, fica hipócrita calar diante dos chineses.
Aliás, o presidente italiano, o
ex-comunista Giorgio Napolitano, não calou. Recebeu anteontem o presidente Hu Jintao e reclamou respeito aos direitos humanos.
Por fim, as cúpulas são estranhas também porque o grande
tema em L'Aquila será mudança climática, uma agenda que
nem existia quando o G8 foi
criado e que, nos 35 anos seguintes, pouco relevo teve, a
não ser nos dois ou três últimos
anos.
De L'Aquila sairá, em princípio, um acordo essencial para
evitar uma catástrofe ambiental: cravar 2 como o máximo
que a temperatura da Terra pode aumentar, na comparação
com o período pré-industrial.
Como se fará para chegar a
essa meta, no entanto, fica para
a mais importante cúpula do
ano, em dezembro, em Copenhague.
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