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LUÍS NASSIF
A hora das políticas conservadoras
Nos últimos dias houve
um movimento frenético
em várias frentes ante a constatação da gravidade da situação
cambial brasileira. No âmbito
do governo, o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) já estava se
preparando para utilizar de
US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões das
reservas cambiais do Banco
Central para o financiamento
das exportações. A aposta era
que esse valor permitisse destravar as linhas de financiamento
bancário para o comércio exterior. Mas era uma aposta apenas, e com margem de risco alta,
dado o nível das reservas disponíveis.
Em outras frentes, houve reuniões sigilosas de membros das
equipes dos diversos presidenciáveis com autoridades do
atual governo e também com
empresários, visando a saída
conjunta para a situação. Do lado do PT, o interlocutor preferencial foi o presidente nacional
do partido, José Dirceu.
Apesar de não haver concordância pública em relação ao
acordo com o FMI, os vários
candidatos emitiram sinais positivos, que permitiram chegar
ao bom acordo com o FMI.
O acordo foi vantajoso para as
circunstâncias, mas é um primeiro passo. Não exige metas
maiores de superávit, deixa recursos à disposição do próximo
presidente, que poderá ou não
renovar o acordo -evidentemente renovará.
Os US$ 24 bilhões previstos para 2003 batem com as previsões
de necessidade de financiamento externo. Portanto, asseguram
um ano de tranqüilidade.
É possível que, em um primeiro momento, o acordo destrave
as linhas de comércio exterior.
Mas nada garante que o mercado internacional retomará o fluxo de investimentos para o país
após o acordo.
Se os últimos anos deixaram
lições, a mais séria delas é que o
país tem de atuar preventivamente. Não poderá mais moldar
sua política econômica confiando na concretização do cenário
ideal. A política econômica tem
de ser conservadora. E ser conservadora significa preparar o
país para o pior cenário possível.
Se não ocorrer o pior cenário,
melhor.
O que deflagrou a especulação
com dólar nos últimos meses
não foi uma corrida contra o
real. Foi a falta de liquidez internacional que levou as empresas
brasileiras a adquirirem dólares
por não poder renovar seus compromissos, e, quem tinha possibilidade, a remeter dólares para
fora.
A crise foi parcialmente contida, primeiro pela presteza do Tesouro norte-americano ao emprestar US$ 1,5 bilhão ao Uruguai e conter o receio de um novo "corralito". Agora, pelo apoio
do FMI ao país.
No entanto, a aversão internacional ao risco continua muito
forte. Nesta semana, por exemplo, o Itaú não conseguiu renovar uma linha de US$ 45 milhões. Na semana passada, a Votorantim não conseguiu renovar
US$ 3 milhões. A Ford norte-americana lançou bônus de dois
anos a 7% ao ano contra 2% dos
títulos do Tesouro norte-americano. As avaliações sobre as Bolsas norte-americanas continuam preocupantes, e poucos
acreditam que o mercado internacional vá se normalizar nos
próximos três anos. Portanto, a
falta de dinheiro prosseguirá por
bom tempo.
Posto isso, o BC tem duas alternativas com o dinheiro recebido
e a receber. A primeira é apostar
na normalização do mercado e
prosseguir no movimento de irrigá-lo com cotas diárias de dólar. De um lado, passa a impressão de normalidade. Mas, se o
quadro não for de normalidade,
corre-se o risco de esgotar as reservas e ter, como resultado, apenas a dívida com o FMI.
A segunda alternativa é, de alguma forma, usar essas reservas para administrar os pontos cruciais da crise: as linhas de financiamento às exportações e a oferta de dólares para empresas que não conseguirem rolar e quitar compromissos externos.
Está certo que esse tipo de política vai contra a visão de mercado do BC. Mas não se pode correr o risco de acalmar o mercado agora e vê-lo explodir no primeiro mês do próximo governo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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