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Bioenergia chega à agricultura familiar
Pequenos produtores em grupos ou em cooperativas passam a ter acesso a miniusinas para produzir álcool e biodiesel
Feira especializada em produtos para agricultura familiar, realizada em São Paulo, negocia R$ 14,5 mi, com crescimento de 179%
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A AGUDOS
A agricultura familiar começa a sair do noticiário político
dos jornais e avançar para o de
economia. Visto antes como
uma atividade improdutiva e
de subsistência, o setor mostra
desempenho melhor até do que
a agricultura empresarial, que
passa por momentos difíceis
devido ao câmbio e à redução
de renda dos produtores.
A análise é de José Carlos Pedreira, diretor da Hecta, empresa que organizou a 4ª Agrifam (feira da agricultura familiar) da Fetaesp (federação dos
trabalhadores) neste final de
semana, em Agudos (SP).
Os resultados da feira mostram que a agricultura familiar
toma impulso, com as negociações atingindo R$ 14,5 milhões
neste ano -avanço de 179%.
Braz Albertini, presidente da
Fetaesp, diz que a situação da
agricultura familiar é melhor
porque ela se endividou menos.
Mas, para ele, essa é uma das
barreiras do setor. "Os bancos
têm dinheiro, mas preferem
emprestar para os grandes."
A maior estruturação da agricultura familiar atrai a atenção
de grandes empresas, como a
multinacional Amanco, o Pão
de Açúcar, o Carrefour e a Jacto
(implementos). Abre as portas,
também, para a formação de
outras indústrias com o foco específico no pequeno produtor.
É o caso da Stoker Máquinas
Agrícolas, que "resgatou" um
modelo de plantadeira manual
muito usada há 60 anos.
Além do interesse das grandes empresas no setor, os agricultores familiares também começam a se interessar por novas tecnologias desenvolvidas
basicamente para grandes produtores: álcool e biodiesel.
Com investimento de R$ 150
mil, o produtor pode montar
uma usina de biodiesel para
produzir 500 litros/dia usando
1.500 quilos de girassol. A usina
é ideal para cooperativas ou para vários produtores em assentamentos, diz Rainier Cortes
Ferreira, da RC Projetos e Assessoria Técnica Industrial.
Os investimentos em uma
miniusina de álcool vão custar
um pouco mais: R$ 255 mil. Segundo José Limana, proprietário da Limana Poliserviços, o
investimento é ideal para um
grupo de produtores ou para
cooperativas. A miniusina produz 50 litros de álcool por hora,
utilizando 20 a 25 toneladas
diárias de cana-de-açúcar.
Repensar a agricultura
Shiro Nishimura, diretor-presidente da Jacto, uma das
principais fornecedoras de
equipamentos agrícolas no
país, diz que "a agricultura precisa ser revista".
Se a coisa vai mal do lado da
agricultura empresarial, o mesmo não ocorre com a familiar.
Esta produz alimentos para o
consumo interno, que não tem
problemas de demanda ou com
o real forte, diz Nishimura.
Nishimura diz que a Jacto
demitiu mil funcionários do setor de produtos para a agricultura empresarial nos últimos
12 meses. Já a demanda crescente de máquinas e equipamentos para a produção de frutas e verduras fez a empresa dobrar o turno de produção nesse
segmento nos últimos meses.
A presença dos grandes supermercados na feira tem dois
objetivos: conhecer melhor o
mercado e colocar nas lojas
produtos que dêem sustentabilidade ao pequeno produtor.
Para os representantes dos
supermercados, as escalas de
vendas desses produtores são
pequenas, mas é um produto
que interessa ao varejo.
É fundamental, no entanto,
que eles se organizem em associações para aprender a produzir o mais adequado para o
mercado e também para desenvolver técnicas de negociação e
de distribuição.
A multinacional suíça Amanco também vê na agricultura familiar um bom campo de vendas. A empresa fornece sistemas de irrigação para pequenas
áreas. Um dos objetivos é o fornecimento de tecnologia para
que o pequeno produtor possa
ser inserido no processo produtivo, diz o supervisor de vendas
da empresa, André Breda.
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