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OPINIÃO
O Supremo, o governo e o monopólio postal
JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
NESTA SEMANA o Supremo manteve o monopólio dos Correios.
Independentemente do mérito
dessa decisão, um aspecto chama a atenção. É o seguinte. A
sessão começou na segunda-feira e o resultado estava empatado: cinco ministros a favor e
cinco contra. Foi então suspensa. Tudo apontava para a confirmação do empate, o que
complicaria o processo decisório. A sessão recomeçou na
quarta-feira. E o governo ganhou: seis a quatro.
O relevante é o ministro das
Comunicações na terça-feira
ter tido encontro no próprio
Supremo para defender o monopólio. E alertar os julgadores
para possíveis graves consequências econômicas e políticas se o monopólio fosse quebrado.
Ora, quem fala em nome do
governo junto ao Supremo não
é o ministro das Comunicações.
É o advogado-geral da
União. E essa manifestação
tem que ser dentro das regras
previstas pelo direito processual. Para assegurar a igualdade
entre as partes em litígio. Para
assegurar o que a Constituição
chama de devido processo legal. A questão então é: ministros do Supremo devem receber interessados quando o julgamento já começou? Quando
ministros já votaram?
Quando
o resultado já se advinha?
Questão fundamental, se não
para a legalidade, pelo menos
para a legitimidade do encontro. Aliás, público, transparente e divulgado no site do STF.
Nenhuma escuridão. Nada de
conspiração.
Pesquisa da FGV de 2009
aponta para possível déficit de
imparcialidade do Judiciário,
na opinião dos brasileiros
-63% acreditam que o Judiciário se deixa influenciar pela mídia, por empresários e políticos. Os próprios magistrados,
quando questionados sobre a
imparcialidade dos tribunais
em pesquisa da AMB/ 2005,
consideram a do Supremo apenas 28% boa, ante 31% ruim.
Na democracia, além de ser
independente, o Judiciário
precisa mais. Precisa que o cidadão e os Poderes acreditem
que ele assim é. Essa saudável e
indispensável crença tem que
ser confirmada pelos fatos. Desejo e realidade.
Não se trata no caso de fazer
análise causal simplista: dado
que o ministro de Comunicações se encontrou com julgadores, os votos foram direcionados. Nada na história do atual
Supremo nos permite pensar
assim. Ao contrário.
Recentes
decisões expressam saudável
capacidade do atual Supremo
de se manter altivo.
Trata, sim, de ter bem nítida
para todos -opinião pública,
governo, magistrados e interessados- uma prática que reforce sempre o desejo e a realidade
da independência. Em 2006 o
Supremo nem sequer admitiu
juntada de parecer em julgamento já iniciado. É sempre necessário aperfeiçoar um processo que, sendo previsível,
proteja os próprios ministros e
o Supremo de influências intermitentes e dramáticas.
JOAQUIM FALCÃO é professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da FGV-Rio.
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