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São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2003

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SOLDADO RASO

Apesar da alta no investimento em defesa, total de vagas no setor recua ao menor nível em quase 50 anos

Indústria militar dos EUA elimina empregos

Arko Datta - 1º.set.03/ Associated Press
Tanque Abrams em exercício no Iraque; indústria militar dos EUA cortou empregos e aumentou produtividade dos últimos anos


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Diferentemente do que se poderia esperar, o aumento significativo no orçamento e nos gastos militares no governo do republicano George W. Bush não vem sendo acompanhado de uma recuperação no nível de emprego na indústria militar norte-americana.
As vendas do setor apresentaram uma recuperação de cerca de 15% nos anos Bush se comparadas com a média do faturamento dos últimos dez anos.
Mas o complexo industrial-militar norte-americano conta hoje com o menor número de empregados em quase 50 anos e a metade da força de trabalho que empregava em 1989 -ano que marcou o fim da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a então União Soviética.
Hoje o setor emprega aproximadamente 580 mil pessoas, contra 1,2 milhão em 1989.
Durante os quase três anos da administração George W. Bush, que empreendeu duas guerras (Afeganistão, em 2001, e Iraque, em 2003), as vendas do setor para o Departamento de Defesa subiram a uma média anual de US$ 53 bilhões (com um pico de US$ 58,3 bilhões neste ano), contra US$ 46,3 bilhões/ano durante a década de 90.
Os cálculos são da AIA (Associação da Indústria Aeroespacial), que representa a maior parcela do complexo industrial-militar dos EUA e que tem mais de um terço de seu faturamento oriundo do setor militar.
No segundo trimestre deste ano (abril a julho), a rubrica ""defesa" respondeu por 70% do aumento do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos verificado no período, que concentrou um crescimento de 44% nos gastos militares em razão da campanha empreendida no Iraque.

Equipamentos existentes
""O grosso dos novos gastos militares nos dois últimos anos vem se concentrando em operações com equipamentos existentes, manutenção, deslocamentos e salários de pessoal", afirma David Napier, diretor da AIA.
""O setor militar, diferentemente do que muitos imaginam, passou pelo mesmo processo que a indústria manufatureira nos últimos anos. Cortou emprego e aumentou a produtividade", afirma Napier.
A indústria norte-americana como um todo representa apenas 13% da força de trabalho do país, mas respondeu por 90% do aumento na taxa de desemprego desde julho de 2000.
No total, as indústrias americanas cortaram 2,6 milhões de vagas em três anos, o equivalente a 15% do total de empregados.

Gastos em 2004
Para o ano que vem, os Estados Unidos aprovaram um orçamento militar de quase US$ 380 bilhões (o equivalente a mais de um terço do Produto Interno Bruto brasileiro).
O valor ficou US$ 15 bilhões acima do orçamento de 2003 e representa cerca de US$ 70 bilhões a mais em relação ao que Bush teve em seu primeiro ano de mandato, iniciado em 2001.
Dentro dos US$ 380 bilhões, no entanto, houve um aumento de apenas 4% no dinheiro destinado para novos equipamentos, cuja produção poderia ajudar a reduzir o desemprego no setor industrial-militar.
De acordo com Gordon Adams, professor da Universidade George Washington e responsável pela supervisão de orçamentos no governo do democrata Bill Clinton (1993 a 2001), foram cortados, desde o início da administração George W. Bush, quase uma centena programas que incluiriam novas linhas de produção de armas e equipamentos.
A maior parte dos novos investimentos tem sido dirigida agora para tornar mísseis e bombas convencionais em unidades ""inteligentes", diminuindo a necessidade de mais aviões e caças sofisticados.
Anunciado como uma das prioridades da Força Aérea há dois anos, o projeto do caça F-22 Raptor, por exemplo, teve uma dotação de apenas US$ 5,2 bilhões no orçamento de 2004. O valor é um dos maiores para novos equipamentos, ao lado de US$ 12,2 bilhões para sete navios e US$ 3,5 bilhões para jatos.

Salários e deslocamentos
Embora o número de militares nos Estados Unidos tenha sido reduzido de 2,2 milhões em 1989 para menos de 1,4 milhão atualmente -outra causa para a redução da indústria militar-, o grosso do orçamento da área continua sendo gasto com salários, bases e deslocamentos.
Nos US$ 60 bilhões a mais -além dos US$ 79 bilhões aprovados no primeiro semestre- que o presidente Bush agora pede ao Congresso para continuar a campanha no Iraque, também não há nenhuma verba destinada a novos equipamentos.



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