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ONU quer moeda global no lugar do dólar
Unctad avalia que sistema atual de reserva internacional é um dos culpados pela crise econômica e pede reforma abrangente
Estudo do órgão também
mostra que, em proporção do
PIB, Brasil gastou mais que os
EUA e os demais países ricos
em estímulo à economia
DA REDAÇÃO
A ONU defendeu a criação de
uma nova moeda global para
proteger os mercados emergentes do "jogo de confiança"
da especulação financeira, em
mais um dos golpes recentes
contra o papel do dólar como
divisa de reserva internacional.
Para a Unctad (o braço das
Nações Unidas para o comércio
e o desenvolvimento), uma das
hipóteses é a criação de uma espécie de banco central global
(que também poderia ser o
FMI, reformado), que emitiria
uma moeda de reserva "artificial" -como o bancor, proposto por John Keynes, em Bretton Woods, em 1944.
O bancor seria uma moeda
internacional destinada a ajustar os desequilíbrios nos balanços de pagamento dos países
(que, no entanto, continuariam
com suas próprias divisas).
"Uma possibilidade é que os
países concordem em trocar
suas próprias moedas por uma
nova, de modo que a moeda global seria lastreada por uma cesta de divisas de todos os membros", diz relatório da entidade,
que considera o atual sistema
de moeda de reserva (em que
predomina o dólar) como um
dos culpados da atual crise.
Pela proposta, serão necessárias regras que determinem
que os BCs mundiais intervenham no mercado de câmbio
(para que suas moedas se valorizem ou fiquem mais baratas),
dependendo do comportamento da economia global.
A Unctad afirma ainda que,
ao contrário de hoje, tanto países que têm grande deficit (como os Estados Unidos) como os
que possuem enormes superavit (caso da China) terão que
ajustar as suas contas, não ficando mais a responsabilidade
apenas com os primeiros.
Segundo a entidade, o modelo atual tem um viés deflacionário, já que os países deficitários são obrigados a reduzir as
suas compras no exterior quando não conseguem mais financiamento, enquanto os superavitários não têm o dever de aumentar as suas importações. A
demanda menor, portanto, reduz o preço dos produtos.
Críticas ao dólar
As críticas ao dólar como divisa de reserva e a necessidade
da criação de uma moeda global
para substituí-lo não são novidades, com países como China
e Rússia aparecendo na linha
de frente dos ataques, mas a posição do organismo das Nações
Unidas é a mais forte de uma
instituição multilateral.
Ao contrário, porém, da
maioria dos críticos, o relatório
da Unctad não defende a substituição do dólar pelo SDR (Direito Especial de Saque, na sigla
em inglês, a moeda do FMI que
é composta por quatro divisas:
dólar, iene, libra e franco suíço). Para a Unctad, a valorização do SDR não é suficiente para ajudar os países emergentes
em busca de liquidez.
Isso porque os países em desenvolvimento, diz, estão sub-representados no Fundo, o que
reduz os efeitos de uma maior
emissão de SDRs -cada país
recebe um montante proporcional à sua cota no FMI.
Na semana passada, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, defendeu o
papel do dólar como a moeda
de reserva internacional, mas
disse que a sua importância deve ser reduzida. Para ele, porém, essa mudança deve ocorrer na próxima década, e não
nos próximos meses.
Estímulo fiscal
O estudo da Unctad mostrou
ainda que, em porcentagem do
PIB, o Brasil gastou mais em estímulo fiscal do que os EUA e os
demais países desenvolvidos.
Segundo o organismo, o governo usou 5,6% do PIB brasileiro (de cerca de US$ 1,6 trilhão) em programas como o
corte do IPI sobre carros, eletrodomésticos e material de
construção, enquanto o dos
EUA gastou 5,5% do maior PIB
mundial (de mais de US$ 14 trilhões) em planos para estimular a sua economia -porém, os
americanos gastaram 81,1% do
seu PIB com ajuda a bancos,
ante 1,5% do Brasil.
Na média, os países ricos gastaram 3,7% do PIB com planos
de estímulo à economia. Nos
emergentes, esses gastos representaram 4,7% do PIB.
Com agências internacionais
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