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Disputa por mais "voz" no FMI será prioridade do país no G20
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O governo brasileiro pretende extrair da cúpula do G20 em
Pittsburgh, nos dias 24 e 25,
números concretos para a reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, com o objetivo de dar mais
voz e voto aos países emergentes e em desenvolvimento.
Até a reunião de ministros da
Fazenda e presidentes de banco centrais das 20 maiores economias do mundo, realizada no
fim de semana em Londres,
bastou ao Brasil a menção reiterada ao espírito da reforma.
Ainda mais que, desta vez, o comunicado final diz que "a voz e
a representação das economias
emergentes e em desenvolvimento, incluindo as mais pobres, têm que ser aumentadas
significativamente, para refletir as mudanças na economia
mundial".
O "significativamente" é a
novidade. Mas ainda é um conceito subjetivo.
Os Bric (Brasil, Rússia, Índia
e China) pediram, antes da reunião, um esquema tipo "Robin
Hood": tirar dos países ricos 7%
de suas cotas no FMI e 6% das
cotas no Banco Mundial para
transferi-las para países emergentes e em desenvolvimento.
Feita a operação, significaria
que o mundo não-rico teria a
metade das cotas (o que equivale, grosso modo, a seu peso na
economia mundial). Hoje, os ricos detêm 60% do voto tanto
no Fundo Monetário como no
Banco Mundial, contra apenas
40% dos emergentes e em desenvolvimento.
Documento norte-americano de circulação interna, que
não chegou à reunião propriamente dita, propunha um remanejamento de 5% das cotas,
o que já reduziria o desequilíbrio, mas não o eliminaria.
A batalha pelas cotas no FMI
é o principal ponto da agenda
do Brasil para a terceira cúpula
do G20 em apenas dez meses.
Consenso ameaçado
É também um tema que tende a afetar o consenso que marcou as cúpulas anteriores porque o que se fez até agora foi
imensamente importante para
a recuperação da economia,
mas foi a parte mais fácil: ninguém perdia nada com os pacotes de estímulo à economia e
com as iniciativas para uma regulação mais firme do sistema
financeiro.
Agora, os ricos perdem cotas,
especialmente os europeus,
que estão sobre-representados
no FMI. "Em termos de poder
de voto no FMI, a Bélgica é
maior que o Brasil; a Holanda,
maior que a Austrália; a Áustria, maior que a África do Sul; a
Dinamarca, maior que a Turquia; a Itália; maior que a Rússia; o Reino Unido, maior que a
China", escreveu na quinta-feira passada, nesta Folha, Paulo
Nogueira Batista Jr., diretor-executivo no FMI do Brasil e
de mais oito países latino-americanos.
A implementação da reforma
do FMI está prevista para 2011,
mas o governo brasileiro calcula que, se não houver determinação política -dos chefes de
governo, portanto-, os técnicos poderão ou retardar a mudança ou fazê-la de forma insuficiente para de fato refletir "as
mudanças na economia mundial", representadas pela ascensão dos emergentes.
Por isso, a cúpula do G20 parece o foro adequado para essa
pressão.
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