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BCs divergem sobre bancos que terão vigilância maior
Até o fim do ano, 27 BCs definirão instituições cuja quebra poderia afetar o sistema
Instituições nessa lista terão que providenciar "colchão de capital" maior como prevenção; presidente do BCE elogia emergentes
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A BASILEIA
Apesar de terem se comprometido a elaborar até o fim deste ano uma lista de instituições
financeiras consideradas "sistemicamente importantes",
que serão submetidas a exigências e limites especiais, os presidentes dos bancos centrais
das 27 maiores economias estão longe de um consenso sobre
os nomes que nela aparecerão.
Segundo uma fonte familiarizada com a discussão, não se
sabe ainda nem se é uma "lista
negra" ou uma "lista branca", já
que os critérios para formulá-la
foram motivo de intenso debate entre os banqueiros reunidos na sede do BIS (Banco de
Compensações Internacionais,
instituição máxima dos BCs)
em Basileia, na Suíça.
O grupo anunciou anteontem regras mais rígidas para os
bancos, com vistas a evitar o
aparecimento de bolhas financeiras como a que detonou a
crise econômica atual e a preparar melhor as instituições
para contratempos globais.
Comprometeu-se também a
identificar as instituições "sistemicamente importantes"
-aquelas com risco menor de
quebrar, mas que, quando quebram, causam mais estrago.
Isso será levado em conta,
por exemplo, para uma das
principais novas medidas: a
criação de um "colchão de capital" (dinheiro que os bancos terão de guardar em momentos
de expansão para usarem durante a escassez). No caso daquelas que estiverem na lista, o
colchão exigido será maior.
Por outro lado, essas instituições terão um limite mais alto
para alavancagem, o que significa que poderão fazer apostas
de investimento maiores com
dinheiro emprestado.
Os detalhes das novas regras
-uma revisão dos chamados
Acordos de Basileia, que regem
o sistema bancário- ficaram
para ser anunciados até o fim
do ano, e alguns deles devem
ser alvo de discussão contínua.
Fim da queda livre
O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, afirmou que a reunião "foi
muito boa" e produziu "resposta abrangente à crise global".
Trichet reiterou o pedido de
cautela e ressaltou riscos como
o protecionismo, mas disse que
o grupo de banqueiros identificou sinais de que "uma boa parte da economia mundial já está
fora da fase de queda livre".
O otimismo foi refletido por
Henrique Meirelles, presidente
do BC brasileiro. Segundo ele, o
grupo dividiu os países em três
categorias quanto à retomada
econômica: aqueles que "vislumbram" o fim da crise; aqueles que têm uma saída tênue,
mas podem reincidir; e os que
estão em uma trajetória de recuperação sólida. O Brasil foi
encaixado neste último grupo.
A percepção entre os banqueiros é que o país tem as melhores condições para reagir a
crises, graças à concentração de
funções atribuídas ao BC (autoridade monetária, reguladora,
interventora e liquidadora).
Em entrevista coletiva, Trichet elogiou os emergentes como um todo, afirmando que
eles demonstraram um "nível
de resiliência impressionante
devido a políticas inteligentes
praticadas nos últimos anos
após experiências dolorosas".
Ele reiterou que o momento
de deixar as medidas contingenciais para combater a crise
deve ser definido país a país,
ainda que haja unidade de objetivo entre os BCs.
Segundo Meirelles, o foco do
grupo de governança do BIS
agora será exatamente monitorar o efeito dessas medidas
conforme os países saiam da
crise e, depois, o da retirada
desse estímulo.
"Mais imediatamente, [estamos atentos ao] comportamento do sistema financeiro -o total do prejuízo ainda deverá ser
contabilizado e reconhecido,
principalmente pelos bancos
pequenos e médios dos Estados
Unidos, que não passaram por
teste de estresse e, portanto,
não tiveram aporte de capital
suficiente para evitar as perdas
que ainda virão."
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