São Paulo, terça-feira, 08 de setembro de 2009

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BCs divergem sobre bancos que terão vigilância maior

Até o fim do ano, 27 BCs definirão instituições cuja quebra poderia afetar o sistema

Instituições nessa lista terão que providenciar "colchão de capital" maior como prevenção; presidente do BCE elogia emergentes


LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A BASILEIA

Apesar de terem se comprometido a elaborar até o fim deste ano uma lista de instituições financeiras consideradas "sistemicamente importantes", que serão submetidas a exigências e limites especiais, os presidentes dos bancos centrais das 27 maiores economias estão longe de um consenso sobre os nomes que nela aparecerão.
Segundo uma fonte familiarizada com a discussão, não se sabe ainda nem se é uma "lista negra" ou uma "lista branca", já que os critérios para formulá-la foram motivo de intenso debate entre os banqueiros reunidos na sede do BIS (Banco de Compensações Internacionais, instituição máxima dos BCs) em Basileia, na Suíça.
O grupo anunciou anteontem regras mais rígidas para os bancos, com vistas a evitar o aparecimento de bolhas financeiras como a que detonou a crise econômica atual e a preparar melhor as instituições para contratempos globais.
Comprometeu-se também a identificar as instituições "sistemicamente importantes" -aquelas com risco menor de quebrar, mas que, quando quebram, causam mais estrago.
Isso será levado em conta, por exemplo, para uma das principais novas medidas: a criação de um "colchão de capital" (dinheiro que os bancos terão de guardar em momentos de expansão para usarem durante a escassez). No caso daquelas que estiverem na lista, o colchão exigido será maior.
Por outro lado, essas instituições terão um limite mais alto para alavancagem, o que significa que poderão fazer apostas de investimento maiores com dinheiro emprestado.
Os detalhes das novas regras -uma revisão dos chamados Acordos de Basileia, que regem o sistema bancário- ficaram para ser anunciados até o fim do ano, e alguns deles devem ser alvo de discussão contínua.

Fim da queda livre
O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, afirmou que a reunião "foi muito boa" e produziu "resposta abrangente à crise global".
Trichet reiterou o pedido de cautela e ressaltou riscos como o protecionismo, mas disse que o grupo de banqueiros identificou sinais de que "uma boa parte da economia mundial já está fora da fase de queda livre".
O otimismo foi refletido por Henrique Meirelles, presidente do BC brasileiro. Segundo ele, o grupo dividiu os países em três categorias quanto à retomada econômica: aqueles que "vislumbram" o fim da crise; aqueles que têm uma saída tênue, mas podem reincidir; e os que estão em uma trajetória de recuperação sólida. O Brasil foi encaixado neste último grupo.
A percepção entre os banqueiros é que o país tem as melhores condições para reagir a crises, graças à concentração de funções atribuídas ao BC (autoridade monetária, reguladora, interventora e liquidadora).
Em entrevista coletiva, Trichet elogiou os emergentes como um todo, afirmando que eles demonstraram um "nível de resiliência impressionante devido a políticas inteligentes praticadas nos últimos anos após experiências dolorosas".
Ele reiterou que o momento de deixar as medidas contingenciais para combater a crise deve ser definido país a país, ainda que haja unidade de objetivo entre os BCs.
Segundo Meirelles, o foco do grupo de governança do BIS agora será exatamente monitorar o efeito dessas medidas conforme os países saiam da crise e, depois, o da retirada desse estímulo.
"Mais imediatamente, [estamos atentos ao] comportamento do sistema financeiro -o total do prejuízo ainda deverá ser contabilizado e reconhecido, principalmente pelos bancos pequenos e médios dos Estados Unidos, que não passaram por teste de estresse e, portanto, não tiveram aporte de capital suficiente para evitar as perdas que ainda virão."


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