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Teles descumprem meta na mudança de operadoras
Taxa de efetivação de pedidos da portabilidade é de 75%, mas deveria ser de 95%
Consumidores reclamam na Anatel; cancelamento de pedidos chega a 25%, dizem técnicos, devido a conflitos de dados entre operadoras
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Trocar de operadora mantendo o número do telefone,
um serviço conhecido como
portabilidade numérica, está se
tornando uma operação cada
vez mais complicada no Brasil.
Tanto que a taxa de portabilidade está muito abaixo do que
projetou a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A
agência contava com 1,5 milhão
de pedidos por mês. Em agosto
foram 320 mil e, desde que a
portabilidade entrou em vigor,
em setembro de 2008, os pedidos somam 2,6 milhões.
O que compromete a qualidade do serviço é o volume de
pedidos não efetivados e a
quantidade de cancelamentos.
A Folha apurou que, até 23 de
agosto, só 75% dos pedidos foram portados num prazo de até
cinco dias úteis -limite máximo previsto pela Anatel. A
agência também impôs um limite mínimo de 95% de efetivação às operadoras.
A ABR Telecom, associação
criada para gerenciar a portabilidade no país, diz que esse índice está perto de 90%, considerando que 12% dos números
não são portados porque o próprio cliente cancela o pedido.
Técnicos que lidam com a base
de dados da ABR contestam.
Eles dizem que entre os pedidos de cancelamento (25% do
total) existem poucos realizados pelos clientes.
Os técnicos acusam as operadoras de cancelarem os pedidos deliberadamente para evitar multas. A afirmação tem
respaldo técnico. Um mesmo
número cancelado volta à base
de dados da operadora receptora logo após o cancelamento.
Há casos curiosos. Em junho,
um número do interior paulista foi o campeão em cancelamento (31 vezes). Em julho, outro paulista liderou (14 vezes).
Em agosto, o recordista foi um
número do Rio (18 vezes).
Para esses técnicos, isso
ocorre porque, pelas regras da
Anatel, as operadoras receptoras podem ser multadas se não
cumprirem o prazo de efetivação da portabilidade em cinco
dias úteis. Com o cancelamento antes do vencimento do prazo, elas escapam da multa.
Há outro motivo. O maior
volume de cancelamentos
ocorre por operadoras que estão com o sistema funcionando
perfeitamente. O problema é
que, tecnicamente, esse sistema funciona com o da operadora doadora. Quando existe inconsistência ou conflito de informações cadastrais de um
cliente que pede a portabilidade, o sistema "trava", impedindo a efetivação do pedido.
Há cerca de seis meses, a
Anatel pediu que ajustes fossem realizados nesse sistema
para que ele aceitasse detalhes
cadastrais irrelevantes (como
um sobrenome escrito diferente em uma das operadoras).
A dificuldade agora é maior.
Os conflitos ocorrem com número de documentos e há casos até de pedidos realizados
por pessoas que não são os titulares das linhas.
Como as operadoras que recebem os clientes ficam com o
ônus da portabilidade, elas estariam cancelando o pedido.
Automaticamente, o número
entraria novamente na fila de
novos pedidos e, assim, a Anatel não poderia aplicar multas.
A Folha apurou que a agência
está monitorando essa prática.
Outro problema levantado
pelos técnicos: a equipe de
atendimento das operadoras
poderia estar cancelando os
pedidos em nome dos clientes
que pretendem deixá-la.
Na briga por clientes, atendentes da Oi já se fizeram passar por assinantes que haviam
pedido portabilidade para a
GVT, há quase seis meses. O caso foi parar na Justiça e levou a
Anatel a baixar uma regra específica, proibindo essa prática.
Os técnicos da ABR Telecom
e das operadoras envolvidas
ainda estão apurando se há esse tipo de prática nos cancelamentos atuais. Mas, até o momento, a hipótese é remota. Isso porque, segundo eles, a perda de clientes entre as operadoras via portabilidade é menor ainda que a perda provocada pelo cancelamento dos contratos, algo que sempre existiu.
Reclamações
A insatisfação do consumidor já chega à Anatel. Entre junho e agosto, quando os problemas se intensificaram, a agência registrou cerca de 3.500 reclamações contra a portabilidade. Um terço dos reclamantes
não conseguiu a efetivação da
portabilidade. Outros 7% disseram que o número foi portado
após o prazo de cinco dias.
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