São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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EM TRANSE

Bancos querem ver Serra subindo ou, se isso não ocorrer, que Lula defina equipe econômica antes do 2º turno

Depois da eleição, Wall Street tem pressa

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Terminado o primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras e com mais três semanas de indefinição pela frente, Wall Street demonstra estar com pressa. Pelo menos é o que sinalizaram relatórios das principais corretoras de valores, bancos de investimentos e agências classificadoras de risco divulgados ontem.
Em comum, os textos condicionam sua fé na economia brasileira a dois pontos excludentes e urgentes: 1) que o candidato governista, o ex-ministro José Serra (PSDB), suba nas pesquisas doravante; 2) caso isso não ocorra, que o oposicionista, Luiz Inácio Lula da Silva, anuncie o quanto antes sua equipe econômica, mesmo que faça isso antes do dia 27.
A primeira a se manifestar foi a agência Standard & Poors, que classifica o Brasil como B+, ligeiramente pior que o Senegal. Para mudar seu gabarito, a entidade espera dos concorrentes o que chamou de "sinais positivos". "Isso inclui a formação de um time econômico fortemente técnico", diz a analista de crédito Lisa M. Schineller, de Nova York.
Mas não só. Os outros dois sinais seriam, sempre segundo a S&P, o rápido desenvolvimento de um programa econômico efetivo, que serviria para diminuir as pressões financeiras de curto prazo, e a negociação de alianças políticas fortes, que dariam sustentação ao futuro governo.
"Vamos ficar na ponta de nossas cadeiras pelas próximas três semanas", disse Douglas Smith, economista-chefe para a as Américas da filial nova-iorquina do banco Standard Chartered. "As pesquisas de opinião têm de mostrar ganhos significativos para Serra já nos primeiros dias."
Para o analista, o governista tem de atacar Lula agressivamente nas questões econômicas mais polêmicas se quiser vencer. "De agora em diante, as pessoas vão se concentrar só nos dois, então Serra pode provocar mais o petista nos assuntos dos quais até então ele vinha evitando tratar."
Na mesma linha vão dois dos principais bancos estrangeiros com presença no Brasil. "O alívio do mercado não vai durar se Lula se mantiver como o favorito para o segundo turno", afirmou em declaração oficial o HSBC, que aproveitou para elogiar a confiabilidade das pesquisas feitas por institutos brasileiros ao longo do primeiro turno.
Opinião semelhante tiveram analistas do Deutsche Bank, para os quais uma alta dos títulos da dívida brasileira depende do crescimento de candidato governista nas pesquisas de intenção de voto. "Para que os papéis cheguem a 60% de seu valor nominal, seria preciso a certeza de que Lula e Serra têm as mesmas chances de serem eleitos", diz o texto.
Mais direto foi Thierry Wizman, do Bear Stearns. Em entrevista dada ontem ao canal pago de notícias CNBC, o estrategista de mercados emergentes disse que acredita que Lula deve vencer o segundo turno e que ainda é cedo para saber para que direção a economia brasileira vai.
"Eu aconselho cautela aos investidores", disse Wizman, acrescentando que Serra é o candidato mais próximo do mercado por ser visto como mais disposto a fazer as reformas julgadas necessárias por Wall Street.


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