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São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2003

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FIM DO SUFOCO?

Produção cresce em agosto pelo segundo mês consecutivo; instituto vê recuperação do consumo doméstico

Indústria saiu da "recessão técnica", diz IBGE

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após um primeiro semestre ruim, a indústria iniciou em agosto uma fase de recuperação e deixou para trás "a recessão técnica", segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em agosto, a produção cresceu 1,5% na comparação com julho, já excluídos os efeitos sazonais (típicos de cada época do ano).
"Tudo indica que a recessão, se ocorreu, já foi superada", disse Silvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE. Na divulgação da pesquisa de junho, Sales afirmara que a indústria brasileira estava "tecnicamente em recessão" -ou seja, viveu dois trimestres consecutivos de retração. No primeiro trimestre, recuou 1% ante os três meses anteriores. No segundo, 2,6%.
Agosto foi o segundo mês consecutivo de crescimento na produção, na comparação com o mês anterior. De acordo com o IBGE, os dados apontam que o final do ano poderá ser melhor para a indústria. O instituto revisou também o indicador de julho -de 0,4% para 0,9%.
A indústria parece reagir aos sucessivos cortes nos juros (Selic), iniciados em junho pelo BC na tentativa de reanimar a economia. De 26,5%, a taxa foi para 22% ao ano em agosto -cairia mais dois pontos percentuais em setembro.
Na comparação com 2002, porém, o desempenho da indústria continuou negativo. Houve um recuo de 1,8% sobre agosto do ano passado. Nos oito primeiros meses do ano, comparados a igual período de 2002, o recuo acumulado é de 0,5% -a queda era de 0,3% até julho.
"Já há sinais de uma recuperação do consumo doméstico. Mais: as indústrias parecem estar se preparando para um aumento de consumo no final do ano, elevando a produção", disse Sales.
O destaque negativo ficou com os bens de consumo não-duráveis (roupa, comida, remédio etc.), que tiveram retração de 0,8% sobre julho. Foi o terceiro mês seguido de queda. Em relação a agosto de 2002, o recuo foi de 7,8%. A produção da indústria de alimentos caiu 1,1% em agosto, ante o mesmo mês de 2002. A de vestuário, 22,9%.
Sales afirmou que, para inverter o fraco desempenho dos não-duráveis, o mercado de trabalho precisa melhorar, especialmente a renda do trabalhador, que caiu 13,8% em agosto sobre 2002.
Já a produção de bens duráveis registrou a terceira alta consecutiva, ao aumentar 5,2% em relação a julho. O motivo foi a alta da produção de veículos -1,9% na comparação com agosto de 2002.
Também cresceu a fabricação de bens intermediários e bens de capital -1,2% e 1,5%, respectivamente. A queda dos juros elevou a encomenda de insumos.

Fundo do poço
Uma simulação feita pelo IBGE revela que, caso setembro repita o resultado de agosto, o terceiro trimestre terá uma taxa positiva de 0,2%. Na visão de Sales, a "indústria atingiu o fundo do poço" em junho, quando recuou 2,5%. Ao ser questionado se o resultado do ano será positivo, Sales respondeu: "Vai depender do fôlego dessa reação e da sua intensidade".
Especialistas ouvidos pela Folha dizem que o resultado de agosto foi surpreendente, principalmente pelo comportamento positivo dos bens duráveis.
Paulo Levy, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), acredita que "os empresários, ao ver um horizonte melhor, estão ampliando a produção".


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