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FIM DO SUFOCO?
Produção cresce em agosto pelo segundo mês consecutivo; instituto vê recuperação do consumo doméstico
Indústria saiu da "recessão técnica", diz IBGE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Após um primeiro semestre
ruim, a indústria iniciou em agosto uma fase de recuperação e deixou para trás "a recessão técnica",
segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em agosto, a produção cresceu
1,5% na comparação com julho, já
excluídos os efeitos sazonais (típicos de cada época do ano).
"Tudo indica que a recessão, se
ocorreu, já foi superada", disse
Silvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE. Na divulgação da pesquisa de junho,
Sales afirmara que a indústria
brasileira estava "tecnicamente
em recessão" -ou seja, viveu
dois trimestres consecutivos de
retração. No primeiro trimestre,
recuou 1% ante os três meses anteriores. No segundo, 2,6%.
Agosto foi o segundo mês consecutivo de crescimento na produção, na comparação com o mês
anterior. De acordo com o IBGE,
os dados apontam que o final do
ano poderá ser melhor para a indústria. O instituto revisou também o indicador de julho -de
0,4% para 0,9%.
A indústria parece reagir aos sucessivos cortes nos juros (Selic),
iniciados em junho pelo BC na
tentativa de reanimar a economia.
De 26,5%, a taxa foi para 22% ao
ano em agosto -cairia mais dois
pontos percentuais em setembro.
Na comparação com 2002, porém, o desempenho da indústria
continuou negativo. Houve um
recuo de 1,8% sobre agosto do
ano passado. Nos oito primeiros
meses do ano, comparados a igual
período de 2002, o recuo acumulado é de 0,5% -a queda era de
0,3% até julho.
"Já há sinais de uma recuperação do consumo doméstico. Mais:
as indústrias parecem estar se
preparando para um aumento de
consumo no final do ano, elevando a produção", disse Sales.
O destaque negativo ficou com
os bens de consumo não-duráveis
(roupa, comida, remédio etc.),
que tiveram retração de 0,8% sobre julho. Foi o terceiro mês seguido de queda. Em relação a
agosto de 2002, o recuo foi de
7,8%. A produção da indústria de
alimentos caiu 1,1% em agosto,
ante o mesmo mês de 2002. A de
vestuário, 22,9%.
Sales afirmou que, para inverter
o fraco desempenho dos não-duráveis, o mercado de trabalho precisa melhorar, especialmente a
renda do trabalhador, que caiu
13,8% em agosto sobre 2002.
Já a produção de bens duráveis
registrou a terceira alta consecutiva, ao aumentar 5,2% em relação
a julho. O motivo foi a alta da produção de veículos -1,9% na
comparação com agosto de 2002.
Também cresceu a fabricação
de bens intermediários e bens de
capital -1,2% e 1,5%, respectivamente. A queda dos juros elevou a
encomenda de insumos.
Fundo do poço
Uma simulação feita pelo IBGE
revela que, caso setembro repita o
resultado de agosto, o terceiro trimestre terá uma taxa positiva de
0,2%. Na visão de Sales, a "indústria atingiu o fundo do poço" em
junho, quando recuou 2,5%. Ao
ser questionado se o resultado do
ano será positivo, Sales respondeu: "Vai depender do fôlego dessa reação e da sua intensidade".
Especialistas ouvidos pela Folha
dizem que o resultado de agosto
foi surpreendente, principalmente pelo comportamento positivo
dos bens duráveis.
Paulo Levy, do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), acredita que "os empresários,
ao ver um horizonte melhor, estão ampliando a produção".
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