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Com Real, Santander divide território de grandes bancos
Compra tira BB, Bradesco e Itaú da "zona de conforto" no mercado de crédito
Maior negócio bancário do mundo deve levar bancos nacionais a novas aquisições; queda dos juros aumentará peso do crédito para o setor
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Confirmado o maior negócio
da indústria bancária mundial,
a instituição financeira resultante no Brasil da soma de forças entre os bancos Real e Santander terá um porte jamais alcançado por um estrangeiro e
poder para dividir o território
até então dominado pelo Bradesco, Itaú e Banco do Brasil,
que agora terão de se mexer para recuperar a "zona de conforto" com que trabalhavam.
Em um dos lances mais ousados do setor, o Santander deve
pagar caro mais uma vez -a
primeira foi no leilão do Banespa- para abrir espaço entre os
grandes bancos no Brasil. O espanhol avalia em pouco mais de
US$ 17 bilhões as operações do
Real. O Banespa saiu por R$
7,05 bilhões, 281% mais do que
o mínimo estipulado em 2000.
A aquisição do Real faz parte
da estratégia de consolidar a
presença na América Latina,
onde o Santander deve ficar
com 15% do mercado.
A expectativa é que o negócio, que deve ser anunciado oficialmente hoje, leve a um aquecimento nas operações de fusões e aquisições (leia texto
abaixo). A compra do Real
ocorre em momento de mudança do modelo de negócios
do setor, que deverá se basear
cada vez mais das operações de
crédito, principal atividade
bancária, e cuja expansão depende de juros baixas, prazos
maiores e aumento da renda
-mudanças que já ocorreram
nos últimos meses, ainda que
de maneira tímida.
"O ponto chave para os bancos passa a ser fazer crédito e
aumentar a base de clientes. As
exigências de renda mínima
para abertura de conta foram
muito flexibilizadas. Antes
eram levadas a sério porque dependiam dos recursos que
transitavam pelas contas. O foco é crédito, mas, como o banco
cobra tarifa, o cliente não precisa ter uma renda tão elevada
mais", disse o economista Domingos Pandelo, do Ibmec-SP.
Com os juros altos, os bancos
ganhavam dinheiro fácil com
títulos da dívida do governo. Na
transição de um modelo para
outro, os bancos descobriram
na cobrança de tarifas outra
importante fonte de receita
-faturaram R$ 23,286 bilhões
no primeiro semestre, mais do
que os gastos com a folha de pagamentos, segundo a consultoria Austin Rating. Os ganhos
chamam tanta atenção que o
governo tenta limitá-los, além
de buscar instrumentos que facilitem a vida do cliente na hora
de trocar de banco.
O Brasil é visto como uma
das últimas fronteiras pouco
exploradas do crédito, que
mantém-se em níveis insignificantes diante do peso da economia -33,1% do PIB, enquanto a
média dos emergentes fica em
60% e nos países ricos passa de
100%, segundo a Merrill Lynch.
"Empréstimo ainda não é um
grande negócio no Brasil. Os
bancos estão ganhando dinheiro com serviços. Para crescer,
os bancos brasileiros de porte
vão ter de se internacionalizar,
assim como aconteceu com a
Odebrecht, a Camargo Corrêa e
a Gerdau. O Santander era um
Bradesco 30 anos atrás. E olha
só agora", disse Carlos Daniel
Coradi, da EFC Consultores.
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