São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

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Com Real, Santander divide território de grandes bancos

Compra tira BB, Bradesco e Itaú da "zona de conforto" no mercado de crédito

Maior negócio bancário do mundo deve levar bancos nacionais a novas aquisições; queda dos juros aumentará peso do crédito para o setor

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Confirmado o maior negócio da indústria bancária mundial, a instituição financeira resultante no Brasil da soma de forças entre os bancos Real e Santander terá um porte jamais alcançado por um estrangeiro e poder para dividir o território até então dominado pelo Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, que agora terão de se mexer para recuperar a "zona de conforto" com que trabalhavam.
Em um dos lances mais ousados do setor, o Santander deve pagar caro mais uma vez -a primeira foi no leilão do Banespa- para abrir espaço entre os grandes bancos no Brasil. O espanhol avalia em pouco mais de US$ 17 bilhões as operações do Real. O Banespa saiu por R$ 7,05 bilhões, 281% mais do que o mínimo estipulado em 2000.
A aquisição do Real faz parte da estratégia de consolidar a presença na América Latina, onde o Santander deve ficar com 15% do mercado.
A expectativa é que o negócio, que deve ser anunciado oficialmente hoje, leve a um aquecimento nas operações de fusões e aquisições (leia texto abaixo). A compra do Real ocorre em momento de mudança do modelo de negócios do setor, que deverá se basear cada vez mais das operações de crédito, principal atividade bancária, e cuja expansão depende de juros baixas, prazos maiores e aumento da renda -mudanças que já ocorreram nos últimos meses, ainda que de maneira tímida.
"O ponto chave para os bancos passa a ser fazer crédito e aumentar a base de clientes. As exigências de renda mínima para abertura de conta foram muito flexibilizadas. Antes eram levadas a sério porque dependiam dos recursos que transitavam pelas contas. O foco é crédito, mas, como o banco cobra tarifa, o cliente não precisa ter uma renda tão elevada mais", disse o economista Domingos Pandelo, do Ibmec-SP.
Com os juros altos, os bancos ganhavam dinheiro fácil com títulos da dívida do governo. Na transição de um modelo para outro, os bancos descobriram na cobrança de tarifas outra importante fonte de receita -faturaram R$ 23,286 bilhões no primeiro semestre, mais do que os gastos com a folha de pagamentos, segundo a consultoria Austin Rating. Os ganhos chamam tanta atenção que o governo tenta limitá-los, além de buscar instrumentos que facilitem a vida do cliente na hora de trocar de banco.
O Brasil é visto como uma das últimas fronteiras pouco exploradas do crédito, que mantém-se em níveis insignificantes diante do peso da economia -33,1% do PIB, enquanto a média dos emergentes fica em 60% e nos países ricos passa de 100%, segundo a Merrill Lynch.
"Empréstimo ainda não é um grande negócio no Brasil. Os bancos estão ganhando dinheiro com serviços. Para crescer, os bancos brasileiros de porte vão ter de se internacionalizar, assim como aconteceu com a Odebrecht, a Camargo Corrêa e a Gerdau. O Santander era um Bradesco 30 anos atrás. E olha só agora", disse Carlos Daniel Coradi, da EFC Consultores.


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