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Disparada do dólar paralisa negócios entre empresas
Forte variação do câmbio dificulta definição de preços nos mercados interno e externo
Desvalorização do real em relação ao dólar, de mais de 20% em 3 semanas, leva empresas a reavaliar planos e a suspender novos contratos
FÁTIMA FERNANDES
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A abrupta desvalorização do
real provocou paralisação nos
negócios entre fornecedores de
matérias-primas, indústrias e
comércio e atingiu as exportações, as importações e as vendas no mercado interno.
Fabricantes de produtos eletroeletrônicos, como TVs,
DVDs e computadores, de bens
de capital e de alimentos estão
com dificuldades para definir
preços por conta da forte variação da taxa de câmbio -nas últimas três semanas, a desvalorização do real em relação ao
dólar chegou a 21%.
"Ninguém consegue fazer
preço neste momento, e o setor
vive uma espécie de estagnação. A desvalorização do real foi
muito violenta, e fica difícil estabelecer preços de venda",
afirma Lourival Kiçula, presidente da Eletros, associação da
indústria eletroeletrônica.
A atitude da Semp Toshiba
de parar temporariamente de
vender seus produtos, segundo
Kiçula, foi sensata. "É preciso
parar para reavaliar os negócios. Vale ou não a pena importar tal produto ou tal componente? É isso que as empresas
avaliam neste momento", diz.
Humberto Barbato, presidente da Abinee, associação da
indústria elétrica e eletrônica,
diz que, além de ter dificuldade
para estabelecer preços de venda para o mercado interno, as
empresas não conseguem exportar porque não sabem que
taxa de câmbio devem utilizar.
E quem quer exportar tem
dificuldade para enviar os produtos para o exterior por conta
da restrição de linhas de crédito para realizar os chamados
ACCs (Adiantamentos de Contrato de Câmbio).
"As linhas de crédito secaram. Quem tem dinheiro para
continuar operando está bem.
Quem não tem pode ter de parar a produção", afirma José
Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de
Comércio Exterior do Brasil).
Os produtos manufaturados,
segundo Castro, são os que
mais sofrem neste momento
com a variação da taxa de câmbio. "Estamos próximos do Natal, um período em que as exportações de manufaturados se
intensificam", afirma.
O presidente da Abinee diz
que as empresas só estão vendendo neste momento o que já
está produzido. "Os novos negócios estão paralisados. Os
empresários não sabem que taxa de câmbio devem utilizar."
A Marcopolo, multinacional
fabricante de carrocerias de
ônibus, é uma das empresas
que enfrentam dificuldades
agora para definir preços.
"A taxa de câmbio é um problema para a formação de preço de qualquer produto que se
compra ou que se vende neste
momento", afirma Ruben De la
Rosa, diretor-presidente da
Marcopolo. Para ele, a desvalorização do real favorece o exportador, mas não quando
ocorre de forma tão brusca.
"A primeira preocupação é a
de que evidentemente qualquer flutuação do câmbio exagerada, para cima ou para baixo, deixa aquele que lida com
câmbio tonto. Tudo fica desmontado com uma oscilação
muito forte desse tipo", diz.
Para o empresário Lawrence
Pih, presidente do grupo Moinho Pacífico S.A., a súbita alta
do dólar pode criar um forte desequilíbrio no setor. Boa parte
dos moinhos negociou a produção de farinha no mercado interno com base nos preços de
R$ 1,60 por dólar. Em poucos
meses, o dólar subiu cerca de
50% ante o real. "Isso é uma
maxidesvalorização do real.
Provocará um impacto muito
forte nos moinhos."
O setor, segundo ele, não
consegue importar trigo porque os financiamentos de importação sumiram do mercado.
Preços
O vice-presidente da Abimed
(Associação Brasileira de Importadores de Equipamentos,
Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares), Abrão Melnik, chega a prever alta nos custos dos procedimentos médicos devido à taxa de câmbio.
Isso porque 40% dos materiais médicos são importados.
Para este ano, a Abimed previa
importações de US$ 2,5 bilhões, mas, com a desvalorização do real, a estimativa deverá
ser revista. Os implantes ortopédicos e os marca-passos, por
exemplo, são alguns dos equipamentos médicos mais importados.
Com PAULO ARAÚJO, colaboração para a Folha
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