São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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BNDES prevê crédito normal em 3 meses

Para Luciano Coutinho, presidente do banco, dólar reflete momento de grande tensão, mas não se sustenta no patamar atual

Linha de financiamento para pré-embarque vai receber recursos adicionais de R$ 5 bilhões para tentar suprir a escassez de crédito

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, afirmou ontem que espera a normalização do crédito para o setor exportador em até três meses. O banco detalhou ontem as condições da linha de financiamento para pré-embarque, que receberá recursos adicionais de R$ 5 bilhões para tentar suprir a escassez de crédito.
Coutinho destacou que o papel do banco no suporte às exportações é complementar. Uma parcela expressiva do mercado é regida por adiantamentos de contratos de câmbio (os chamados ACCs), mecanismo em que as instituições financeiras adiantam recursos ao exportador e ele se compromete a entregar divisas à instituição após o embarque da mercadoria.
O banco triplicou para US$ 150 milhões o limite de tomada de crédito para o setor de bens de consumo. O teto foi definido para evitar que uma só empresa obtenha a maior parte do montante disponível. Há também recursos para o setor de bens de capital e fabricação de caminhões e tratores.
De janeiro a agosto deste ano, o banco desembolsou cerca de US$ 3,5 bilhões para exportações. Segundo Coutinho, com a injeção extra de recursos, a estimativa para os desembolsos nessa área em 2008 passa de US$ 6 bilhões para um valor em torno de US$ 8 bilhões.

Juros maiores
Apesar da oferta maior de recursos para o setor, o banco está oferecendo empréstimos com juros mais altos. Segundo Coutinho, é um reflexo do aumento do custo para o "funding" do banco. De modo geral, o exportador pode optar entre financiamentos em real, com taxa de 15% mais "spread" (diferença entre a taxa que o banco paga para captar recursos e a que repassa ao cliente) do agente financeiro ou uma taxa de cerca de 8% mais "spread" do agente para operações em dólar. Na segunda opção, o tomador fica sujeito ao risco de variação da moeda americana.
O banco manteve a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) para os empréstimos de exportações a setores de equipamentos industrias, infra-estrutura e equipamentos aeronáuticos.
Mesmo após a forte alta do dólar ontem, que fechou cotado a R$ 2,31, Coutinho afirmou que o câmbio não se sustenta no patamar atual.
"O câmbio atual está refletindo um momento de grande tensão no sistema de crédito mundial. Esse momento não pode perdurar indefinidamente, senão pode quebrar a economia mundial toda. Isso é um processo de alta tensão que em algum momento vai se resolver. A pressão está muito forte na Europa. Até o novo governo tomar posse nos Estados Unidos e ter capacidade de implementar uma política mais ampla para atacar a questão da crise financeira, ainda teremos um período de tensão financeira grande, mas não nesse patamar de gravidade", disse.

Pedidos mantidos
Segundo Coutinho, os pedidos de financiamento no banco ainda não foram afetados pela crise. Segundo Coutinho, é necessário ainda avaliar a eficácia das medidas anunciadas pelo Banco Central na segunda-feira para evitar um processo de contaminação da economia.
Coutinho ressalta ainda que é preciso considerar os efeitos de uma recessão nos países desenvolvidos, a intensidade dela e as conseqüências para o comércio internacional.
"O que parece hoje bastante realista é que, dada a gravidade da crise nos países desenvolvidos, a recuperação do sistema bancário financeiro nas economias desenvolvidas tenderá a ser um processo lento", disse.


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