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BNDES prevê crédito normal em 3 meses
Para Luciano Coutinho, presidente do banco, dólar reflete momento de grande tensão, mas não se sustenta no patamar atual
Linha de financiamento para pré-embarque vai
receber recursos adicionais de R$ 5 bilhões para tentar suprir a escassez de crédito
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
Luciano Coutinho, afirmou ontem que espera a normalização
do crédito para o setor exportador em até três meses. O banco
detalhou ontem as condições
da linha de financiamento para
pré-embarque, que receberá
recursos adicionais de R$ 5 bilhões para tentar suprir a escassez de crédito.
Coutinho destacou que o papel do banco no suporte às exportações é complementar.
Uma parcela expressiva do
mercado é regida por adiantamentos de contratos de câmbio
(os chamados ACCs), mecanismo em que as instituições financeiras adiantam recursos
ao exportador e ele se compromete a entregar divisas à instituição após o embarque da
mercadoria.
O banco triplicou para US$
150 milhões o limite de tomada
de crédito para o setor de bens
de consumo. O teto foi definido
para evitar que uma só empresa
obtenha a maior parte do montante disponível. Há também
recursos para o setor de bens de
capital e fabricação de caminhões e tratores.
De janeiro a agosto deste ano,
o banco desembolsou cerca de
US$ 3,5 bilhões para exportações. Segundo Coutinho, com a
injeção extra de recursos, a estimativa para os desembolsos
nessa área em 2008 passa de
US$ 6 bilhões para um valor em
torno de US$ 8 bilhões.
Juros maiores
Apesar da oferta maior de recursos para o setor, o banco está oferecendo empréstimos
com juros mais altos. Segundo
Coutinho, é um reflexo do aumento do custo para o "funding" do banco. De modo geral,
o exportador pode optar entre
financiamentos em real, com
taxa de 15% mais "spread" (diferença entre a taxa que o banco paga para captar recursos e a
que repassa ao cliente) do agente financeiro ou uma taxa de
cerca de 8% mais "spread" do
agente para operações em dólar. Na segunda opção, o tomador fica sujeito ao risco de variação da moeda americana.
O banco manteve a TJLP
(Taxa de Juros de Longo Prazo)
para os empréstimos de exportações a setores de equipamentos industrias, infra-estrutura e
equipamentos aeronáuticos.
Mesmo após a forte alta do
dólar ontem, que fechou cotado
a R$ 2,31, Coutinho afirmou
que o câmbio não se sustenta
no patamar atual.
"O câmbio atual está refletindo um momento de grande tensão no sistema de crédito mundial. Esse momento não pode
perdurar indefinidamente, senão pode quebrar a economia
mundial toda. Isso é um processo de alta tensão que em algum momento vai se resolver.
A pressão está muito forte na
Europa. Até o novo governo tomar posse nos Estados Unidos
e ter capacidade de implementar uma política mais ampla para atacar a questão da crise financeira, ainda teremos um
período de tensão financeira
grande, mas não nesse patamar
de gravidade", disse.
Pedidos mantidos
Segundo Coutinho, os pedidos de financiamento no banco
ainda não foram afetados pela
crise. Segundo Coutinho, é necessário ainda avaliar a eficácia
das medidas anunciadas pelo
Banco Central na segunda-feira para evitar um processo de
contaminação da economia.
Coutinho ressalta ainda que
é preciso considerar os efeitos
de uma recessão nos países desenvolvidos, a intensidade dela
e as conseqüências para o comércio internacional.
"O que parece hoje bastante
realista é que, dada a gravidade
da crise nos países desenvolvidos, a recuperação do sistema
bancário financeiro nas economias desenvolvidas tenderá a
ser um processo lento", disse.
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