São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2005

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CRISE NO AR

Credores ainda não haviam aprovado plano até o fechamento desta edição

Fundo de Macau participa de proposta para a Varig

BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Os representantes de cerca de 12 mil credores da Varig conheceram a proposta fechada entre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a direção da Varig para a injeção emergencial de recursos na companhia com a venda das subsidiárias VEM (manutenção) e VarigLog (cargas) a uma empresa criada no Brasil, que tem como sócias a TAP, um fundo de Macau (território chinês) e uma empresa brasileira cujo nome não foi revelado. A proposta depende da aprovação dos credores.
Depois de tentar adiar a decisão para quinta-feira, os principais credores foram convocados para uma reunião na sede do BNDES. O banco ameaçou sair do negócio caso a proposta não fosse aprovada ontem. Fernando Pinto, principal executivo da TAP e ex-presidente da Varig, participou da assembléia de credores no Rio. A reunião, que estava marcada para as 9h, começou por volta das 11h30 e, até o fechamento desta edição, não havia terminado.
A TAP se comprometeu a depositar hoje US$ 62 milhões em conta vinculada criada por determinação da Justiça americana, que decidirá processos em que empresas de leasing credoras da Varig pedem a retomada de aeronaves. Segundo a direção da Varig, a companhia corre o risco de perder até 40 aviões se o dinheiro não chegar à conta até amanhã.
"O cheque está pronto", disse Fernando Pinto, principal executivo da aérea estatal portuguesa TAP e ex-presidente da Varig.
Dos US$ 62 milhões, no entanto, nenhum centavo virá da TAP e do governo português, segundo Pinto. O BNDES financiará US$ 42 milhões, e o restante virá do fundo Geocapital, de Macau, ligado ao magnata do jogo luso-chinês Stanley Ho, e de empresários brasileiros. Ele disse que a portuguesa será a "garantidora final" da operação. "A TAP tem uma carta de fiança e a obrigatoriedade de, em seis meses, adquirir parte desse investimento que está sendo feito na VarigLog e na VEM."
A proposta apresentada ontem é diferente da anunciada anteriormente pelo BNDES, que frisou, quando prometeu apoio à Varig, que agia como um braço do governo, que tomara a decisão política de ajudar a companhia.
Se antes o BNDES financiaria dois terços do preço avaliado para VEM e VarigLog, seja qual fosse o resultado da avaliação que seria feita em 90 dias, ontem o compromisso se restringiu a um financiamento de US$ 42 milhões à TAP -dois terços dos US$ 62 milhões. O banco também não participará mais como quotista do FIP (Fundo de Investimento em Participações), que, conforme o plano inicial, reuniria vários investidores que controlariam as subsidiárias. O FIP não será criado, já que a TAP exigiu exclusividade, trazendo parceiros seus para o negócio.
As mudanças levaram à união das duas vertentes de representação dos trabalhadores, cuja rivalidade é antiga -sindicatos e TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), entidade que reúne associações de funcionários da aérea-, que, juntos, passaram a defender o adiamento da assembléia para melhor conhecimento da proposta. Segundo o BNDES, as premissas foram mantidas e só houve "pequenas alterações".
"É preciso que os credores se ponham de acordo sobre a proposta da TAP. O BNDES não coordena as negociações, o que fazemos é ajudar a solucionar o financiamento", disse o presidente do BNDES, Guido Mantega.
Se aprovada a proposta pela assembléia, a Varig tem até dia 12 de dezembro para comunicar à TAP se conseguiu valor melhor para a venda das subsidiárias. Se a venda não for efetivada, a TAP terá direito a uma multa de 20% do valor do negócio. Sem pôr dinheiro seu no negócio, a TAP, em um mês, ganhar US$ 12,4 milhões, que honrariam despesas pelo "risco" de comprometer dinheiro de terceiros nas lucrativas subsidiárias da Varig -empresa que deve R$ 7,7 bilhões- ou adquirir, por um preço mais que atrativo (US$ 62 milhões), duas empresas que foram avaliadas pela Ernst & Young por US$ 277 milhões.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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