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Produção industrial recua e provoca revisão do PIB
Com fraco desempenho do setor, projeção de crescimento agora é de no máximo 3%
Efeitos do câmbio e greve
em montadoras afetaram
resultados do segmento em
setembro, após dois meses
de expansão, aponta IBGE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de dois meses consecutivos de expansão (0,7% em
julho e agosto), a indústria pisou no freio em setembro, e a
produção caiu 1,4% em relação
ao mês anterior na comparação
livre de influências sazonais.
Trata-se da maior retração desde julho de 2005 --2,8%.
No terceiro trimestre, houve
expansão de 0,4% ante o segundo trimestre. Foi a quarta taxa
positiva seguida nesse tipo de
comparação. Em relação ao terceiro trimestre de 2005, o incremento foi de 2,7%, na 12ª variação positiva consecutiva.
O fraco desempenho da indústria no período fez economistas revisarem para baixo
suas projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano.
As expectativas apontam para
uma expansão de 2,8% a 3%.
"Os 3% passaram a ser o teto
diante do resultado ruim do
terceiro trimestre", disse Solange Srour, economista-chefe
da Mellon Global Investments.
Segundo o IBGE, a intensidade da queda foi determinada
por greves em montadoras, que
levaram a uma retração de
9,3% na produção do ramo de
veículos automotores. Dos 23
ramos pesquisados, 12 registraram queda de agosto para setembro. Outros destaques negativos foram: fumo (-26,6%),
produtos químicos (-3,2%) e
outros equipamentos de transporte (-11,8%).
Por trás do baixo nível de atividade, porém, também há o
câmbio. Percebe-se seu reflexo
negativo especialmente na categoria de bens de consumo duráveis, cuja produção caiu 4,4%
em setembro e 1,7% no terceiro
trimestre. "Em setembro repete-se o patamar de que a indústria fica num sobe-e-desce. A
diferença é que o saldo desses
movimentos vinha mostrando
tendência de suave crescimento. Com o recuo de setembro,
vê-se clara estabilidade", disse
Sílvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE.
Na avaliação de Sales, o melhor desempenho relativo do
comércio e taxas maiores de expansão de importações do que
de exportações revelam o impacto negativo do câmbio sobre
a atividade industrial.
"Além da greve de setembro,
há um conjunto de fatores. Parte da explicação se deve à perda
de ritmo das exportações de
duráveis, principalmente da indústria automobilística. Outro
fator é a chegada de bens importados, principalmente entre
os eletroeletrônicos, e o fato de
que o segmento de duráveis nos
últimos três anos acumula
crescimento de 44% [de janeiro
de 2004 a setembro de 2006]."
Em setembro, houve greve
em três montadoras: Volkswagen/Audi, Renault e Volvo. Naquele mês, as vendas de veículos recuaram 9,3%, de acordo
com a Anfavea.
Solange Srour, da Mellon, diz
que fica nítido que as vendas do
varejo estão sendo supridas pelo mercado externo, quando
são observados os dados de importações, o que explica o descompasso entre o consumo e a
produção. De janeiro a setembro, as importações, em volume, subiram 14,6%. Já as exportações, aumentaram apenas
3,7%. No caso dos bens duráveis, houve incremento de
79,8% no volume importado.
Aparente contradição
Divulgadas ontem pela CNI
(Confederação Nacional da Indústria), as vendas reais do setor cresceram 1,82% em setembro na comparação ajustada sazonalmente com agosto. Apesar da aparente contradição
com a produção, o crescimento
das vendas revela um ajustamento de estoques, o que abre
espaço para aumento futuro de
produção, diz Sales, do IBGE.
Em setembro, o desempenho
dos bens de capital também decepcionou. A queda de 2,1%
praticamente "devolveu" o
crescimento de 2,8% registrado
no mês de agosto.
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