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Anistia a grande empresa zera déficit de SP
Grande parte do R$ 1 bilhão arrecadado veio de companhias supostamente envolvidas em esquema de exportação fictícia
Desconto de até 90%
em multas e juros devidos deve permitir a José Serra iniciar o seu governo
com dinheiro em caixa
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
No final de outubro entrou
nos cofres da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo
ao menos R$ 1 bilhão devido à
lei da anistia, que permite descontos de até 90% nas de multas e nos juros para quem tem
dívidas de ICMS. Boa parte dos
recursos veio de grandes empresas devedoras.
Com esse dinheiro em caixa,
o Estado elimina a possibilidade de encerrar o ano com déficit nas contas, de ao menos R$
500 milhões a até R$ 1,2 bilhão,
como chegou a ser previsto.
Grande parte do R$ 1 bilhão
foi paga à Fazenda paulista por
empresas supostamente envolvidas em esquema de exportação fictícia de soja e derivados
-sugerido por consultorias de
planejamento tributário- para
obter créditos de ICMS.
Em julho e agosto do ano passado, a Folha noticiou que o
rombo causado aos cofres públicos com as falsas exportações de soja e derivados era de
cerca de R$ 2 bilhões. Cerca de
dez empresas teriam se beneficiado desse esquema.
A Folha apurou que as redes
Pão de Açúcar e Casas Pernambucanas pagaram cada uma -e
de uma só vez- cerca de R$
100 milhões à Fazenda para
quitar débitos de ICMS.
Também teriam pago ou feito contatos para o pagamento
de dívidas tributárias em atraso a Bausch & Lomb, a Sucos
Del Valle, a Tigre Tubos e Conexões e a Beraca Sabará.
Essas empresas se beneficiaram no passado com créditos
de ICMS devido à exportação
fictícia de soja. Até o final do
ano há descontos escalonados
de multas e juros para saldar
dívidas em atraso de ICMS.
As empresas que rechearam
os cofres do fisco paulista com
R$ 1 bilhão fizeram questão de
deixar expresso nas guias de recolhimento de imposto que o
fato de pagarem as dívidas de
ICMS não significava reconhecimento de eventual prática de
ato ilícito para escapar do pagamento de impostos. Informaram ainda à Fazenda paulista
que não estavam renunciando
ao direito de obter o dinheiro
de volta, se ficar comprovado
que as operações de exportação
de soja e derivados que deram
créditos de ICMS são lícitas.
Essas operações são possíveis, segundo informam agentes da Fazenda paulista, desde
que sejam de fato realizadas -e
não aconteçam só no papel, como apontaram as investigações
do fisco estadual.
O pagamento de R$ 1 bilhão
fará com que o Estado termine
o ano, na pior das hipóteses,
com déficit zero em suas contas. A expectativa era a de que a
anistia possibilitasse a entrada
de R$ 500 milhões nos cofres
da Fazenda, não de R$ 1 bilhão.
Isso sem contar os pagamentos
de dívidas de ICMS que devem
ocorrer neste mês e em dezembro. "O Serra [José Serra, governador eleito] vai pegar o Estado de São Paulo redondinho,
com sobras em caixa", disse o
consultor tributário Clovis
Panzarini.
Na sua análise, o governo
paulista errou nas projeções
para este ano e, por conta disso,
corria o risco de fechar 2006
com déficit da ordem de R$ 1,2
bilhão. Previa uma inflação ao
redor de 5% e um crescimento
do PIB de 4%. "A inflação e o
PIB vão ficar em 3%. O governo
precisou fechar a torneira."
A lei da anistia veio para ajudar a equilibrar as contas. "Significa que o governo tem responsabilidade fiscal, só que não
pode dar anistia com regularidade. O perdão fiscal tem de ser
feito de forma ajuizada para
não prejudicar os bons pagadores", disse Panzarini.
A decisão do governo de conceder anistia para empresas
envolvidas no esquema de exportação fictícia de soja vai na
contramão do que pensava a
Fazenda paulista em 2005.
"Não há hipótese de falar em
anistia", disse, em julho daquele ano, Eduardo Guardia, então
secretário da Fazenda.
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