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Bolívia não garante mais gás, diz Petrobras
Estatal diz que eventual aumento na produção após mais investimentos no vizinho não virá necessariamente ao mercado brasileiro
Segundo Gabrielli, abastecimento aumentará no país após ampliação da produção de gás brasileira nos próximos anos
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
A "nova fase" da Petrobras na
Bolívia será essencialmente
voltada ao aumento da exploração e da produção de gás natural, mas sem relação direta com
o aumento da demanda do
combustível no Brasil, afirma o
presidente da empresa, José
Sergio Gabrielli. "Somos produtores na Bolívia", disse Gabrielli à Folha anteontem à
noite, em La Paz, após reunião
com autoridades bolivianas.
Na visita, Gabrielli enfatizou
que, para investir, a Petrobras
não quer mais mudanças na legislação do setor, o que poderia
ocorrer na Assembléia Constituinte boliviana.
A Petrobras negocia com a
Bolívia o desenvolvimento de
ao menos dois campos de gás
hoje sob administração da Total (francesa), que estaria saindo do país. A expectativa é de
que um acordo amplo seja fechado até a visita do presidente
Lula, em 12 de dezembro.
FOLHA - Para onde iria o aumento
da produção de gás boliviana?
JOSÉ SERGIO GABRIELLI - Um campo de produção de petróleo ou
de gás declina. Se você não investe, a produção cai. Para você
manter os 30 milhões de metros cúbicos diários na Bolívia,
tem de fazer novas atividades
exploratórias. Se ficar só em
San Alberto e San Antonio [megacampos operados pela Petrobras], não consegue. É preciso
ampliar a atividade exploratória. Em razão disso, a produção
vai crescer, não necessariamente para o mercado brasileiro, você não pode dizer antecipadamente o que vai acontecer
daqui a cinco, seis anos.
FOLHA - A prioridade da Bolívia,
neste momento, é o mercado interno e a Argentina.
GABRIELLI - Nós estamos avaliando a possibilidade de produção enquanto produtor de
gás na Bolívia, não estamos falando desde o ponto de vista de
demandador de gás brasileiro.
A análise é enquanto produtor
de gás na Bolívia, para manter a
proporção que nós temos do
GSA [contrato de compra e
venda de gás entre a Bolívia e a
Petrobras]. Somos parte da
produção que entrega à [estatal
boliviana] YPFB, temos de ampliar a produção.
FOLHA - Mas a Petrobras já vinha
dizendo que faria o investimento
para cumprir o GSA. Qual é a novidade das novas negociações?
GABRIELLI - A novidade é que
nós vamos ampliar nossos investimentos na área de exploração, o que pode significar que
nós possamos descobrir mais.
E aí, se não precisa no GSA, dizer: "Olha, [o contrato] é até
2019, 30 milhões de metros cúbicos, ponto. Agora, se eu descobrir mais gás, o que eu faço?".
FOLHA - E quais as condições que a
Petrobras pede à Bolívia?
GABRIELLI - Queremos manter
as condições de contrato atuais.
FOLHA - O presidente Lula tem dito
que é necessário investir na Bolívia
para abastecer, dando a entender
que aumentará a importação.
GABRIELLI - Nós temos no Brasil
um programa de ampliação forte da produção de gás brasileira. Nós pretendemos crescer a
produção de gás brasileira, vamos aumentar a produção de
gás brasileira em 40 milhões de
metros cúbicos/dia até 2008,
até 73 milhões até 2012, estamos construindo dois terminais de regaseificação no Brasil,
que vão viabilizar até 32 milhões de metros cúbicos para a
regaseificação de GNL (Gás Natural Liqüefeito) e queremos
manter os 30 milhões da Bolívia. Precisamos ter contratos
que permitam volumes de gás
firmes e volumes de gás flexíveis porque temos a demanda
termelétrica brasileira cíclica,
que varia com o regime das
águas. O que nós estamos construindo é uma contratualidade
crescente no mercado brasileiro porque não achamos que
exista um grande problema para acompanhar a oferta e a demanda no Brasil. Precisa apenas perceber que o mercado de
gás é uma indústria de rede,
que tem todos os segmentos integrados e que precisa de investimentos de longo prazo.
FOLHA - Portanto, no médio prazo,
o aumento da importação de gás
boliviano não está no horizonte.
GABRIELLI - O aumento da produção na Bolívia não é relacionado com a demanda brasileira, somos produtores na Bolívia, como estamos fazendo
prospecção de gás na Tanzânia.
FOLHA - As negociações entre a Bolívia e a Petrobras costumam ter um
envolvimento político, até por iniciativa do presidente Morales. Nessa retomada, como será o equilíbrio
entre as negociações técnicas e empresariais e a vontade do presidente
Lula em investir aqui?
GABRIELLI - O setor de hidrocarbonetos é um setor em que as
questões políticas e de mercado
são muito próximas. Não há
país no mundo em que você
possa dizer que as decisões das
grandes empresas, principalmente, sejam só econômicas. A
Petrobras não pode, nem no
Brasil nem na Bolívia, pensar
que as suas decisões são independentes da geopolítica.
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