São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2007

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Bolívia não garante mais gás, diz Petrobras

Estatal diz que eventual aumento na produção após mais investimentos no vizinho não virá necessariamente ao mercado brasileiro

Segundo Gabrielli, abastecimento aumentará no país após ampliação da produção de gás brasileira nos próximos anos

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

A "nova fase" da Petrobras na Bolívia será essencialmente voltada ao aumento da exploração e da produção de gás natural, mas sem relação direta com o aumento da demanda do combustível no Brasil, afirma o presidente da empresa, José Sergio Gabrielli. "Somos produtores na Bolívia", disse Gabrielli à Folha anteontem à noite, em La Paz, após reunião com autoridades bolivianas.
Na visita, Gabrielli enfatizou que, para investir, a Petrobras não quer mais mudanças na legislação do setor, o que poderia ocorrer na Assembléia Constituinte boliviana.
A Petrobras negocia com a Bolívia o desenvolvimento de ao menos dois campos de gás hoje sob administração da Total (francesa), que estaria saindo do país. A expectativa é de que um acordo amplo seja fechado até a visita do presidente Lula, em 12 de dezembro.

 

FOLHA - Para onde iria o aumento da produção de gás boliviana?
JOSÉ SERGIO GABRIELLI - Um campo de produção de petróleo ou de gás declina. Se você não investe, a produção cai. Para você manter os 30 milhões de metros cúbicos diários na Bolívia, tem de fazer novas atividades exploratórias. Se ficar só em San Alberto e San Antonio [megacampos operados pela Petrobras], não consegue. É preciso ampliar a atividade exploratória. Em razão disso, a produção vai crescer, não necessariamente para o mercado brasileiro, você não pode dizer antecipadamente o que vai acontecer daqui a cinco, seis anos.

FOLHA - A prioridade da Bolívia, neste momento, é o mercado interno e a Argentina.
GABRIELLI - Nós estamos avaliando a possibilidade de produção enquanto produtor de gás na Bolívia, não estamos falando desde o ponto de vista de demandador de gás brasileiro. A análise é enquanto produtor de gás na Bolívia, para manter a proporção que nós temos do GSA [contrato de compra e venda de gás entre a Bolívia e a Petrobras]. Somos parte da produção que entrega à [estatal boliviana] YPFB, temos de ampliar a produção.

FOLHA - Mas a Petrobras já vinha dizendo que faria o investimento para cumprir o GSA. Qual é a novidade das novas negociações?
GABRIELLI - A novidade é que nós vamos ampliar nossos investimentos na área de exploração, o que pode significar que nós possamos descobrir mais. E aí, se não precisa no GSA, dizer: "Olha, [o contrato] é até 2019, 30 milhões de metros cúbicos, ponto. Agora, se eu descobrir mais gás, o que eu faço?".

FOLHA - E quais as condições que a Petrobras pede à Bolívia?
GABRIELLI - Queremos manter as condições de contrato atuais.

FOLHA - O presidente Lula tem dito que é necessário investir na Bolívia para abastecer, dando a entender que aumentará a importação.
GABRIELLI - Nós temos no Brasil um programa de ampliação forte da produção de gás brasileira. Nós pretendemos crescer a produção de gás brasileira, vamos aumentar a produção de gás brasileira em 40 milhões de metros cúbicos/dia até 2008, até 73 milhões até 2012, estamos construindo dois terminais de regaseificação no Brasil, que vão viabilizar até 32 milhões de metros cúbicos para a regaseificação de GNL (Gás Natural Liqüefeito) e queremos manter os 30 milhões da Bolívia. Precisamos ter contratos que permitam volumes de gás firmes e volumes de gás flexíveis porque temos a demanda termelétrica brasileira cíclica, que varia com o regime das águas. O que nós estamos construindo é uma contratualidade crescente no mercado brasileiro porque não achamos que exista um grande problema para acompanhar a oferta e a demanda no Brasil. Precisa apenas perceber que o mercado de gás é uma indústria de rede, que tem todos os segmentos integrados e que precisa de investimentos de longo prazo.

FOLHA - Portanto, no médio prazo, o aumento da importação de gás boliviano não está no horizonte.
GABRIELLI - O aumento da produção na Bolívia não é relacionado com a demanda brasileira, somos produtores na Bolívia, como estamos fazendo prospecção de gás na Tanzânia.

FOLHA - As negociações entre a Bolívia e a Petrobras costumam ter um envolvimento político, até por iniciativa do presidente Morales. Nessa retomada, como será o equilíbrio entre as negociações técnicas e empresariais e a vontade do presidente Lula em investir aqui?
GABRIELLI - O setor de hidrocarbonetos é um setor em que as questões políticas e de mercado são muito próximas. Não há país no mundo em que você possa dizer que as decisões das grandes empresas, principalmente, sejam só econômicas. A Petrobras não pode, nem no Brasil nem na Bolívia, pensar que as suas decisões são independentes da geopolítica.


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