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Dólar eleva preços e pode estourar meta de inflação
IPCA sobe 0,45% em outubro e acumula 6,41% em 12 meses; teto da meta é de 6,5%
Analistas esperam que alta da moeda americana por causa da crise seja sentida com mais força ainda nos últimos meses do ano
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A inflação já mostrou em outubro os primeiros sinais de
contágio da crise, ressaltando
as dificuldades crescentes do
Banco Central para cumprir a
meta inflacionária neste e no
próximo ano.
Já influenciado pela alta do
dólar, o IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) subiu
em outubro para 0,45% -contra 0,26% em setembro, segundo o IBGE. A taxa acumulada
em 12 meses bateu em 6,41%,
muito perto do teto da meta de
inflação de 2008 (6,5%). É a
maior marca em 12 meses desde julho de 2005 (6,57%).
Com a crise, muitos especialistas já esperam que o IPCA
supere o teto da meta (o centro
é de 4,5% com tolerância de
dois pontos), ainda mais num
cenário de dólar mais alto e índices de preço no atacado em
forte ascensão. O índice estava
em desaceleração havia quatro
meses, tendência rompida agora em outubro.
Apesar de não ser "determinante" para a inflação de outubro, o câmbio já mostrou seus
efeitos: "Há indícios de pressão
do dólar em certos produtos,
mas não se pode dizer que toda
a alta ocorreu por causa do dólar", disse Eulina Nunes dos
Santos, coordenadora de Índices de Preços dos IBGE.
Os alimentos, que deram um
refresco em agosto e setembro,
voltaram a puxar a inflação em
outubro. Subiram 0,69%, acima da inflação média. Só esse
grupo foi responsável por 35%
da alta do IPCA. As maiores
pressões vieram dos principais
ingredientes do prato típico
brasileiro: arroz (1,46%), feijão
(5,66%) e carne (3,61%).
No caso do feijão e do arroz,
diz Nunes, a alta foi impulsionada pela menor oferta dos
produtos, complementada por
importações a um custo elevado por causa da disparada do
câmbio. Já a carne sofre o efeito
do aumento das exportações
em razão da competitividade
gerada pelo aumento do dólar.
"Em outubro, a inflação atingiu em cheio e encareceu o prato típico do brasileiro", disse
Nunes dos Santos. E novas
pressões, diz, já se configuram:
"Dependendo de como a situação evoluir, há a possibilidade
de a alta do atacado se manifestar no varejo. Em novembro, é
possível que ocorra um forte
contágio do câmbio."
Também puxado por importações mais caras, o grupo vestuário subiu 1,27% em outubro,
acima do 0,70% de setembro.
A crise, porém, não traz apenas más notícias. Muitos alimentos caíram na esteira da
desaceleração da economia
mundial, que reduziu as cotações das commodities, especialmente da soja e do trigo: o
óleo de soja recuou 3,38%, a farinha de trigo caiu, 2,84%, e o
biscoito, 1,27%.
"A queda das commodities
acabou por compensar parcialmente a alta do dólar. Mas, no
curto prazo, a depreciação
cambial deve se mostrar mais
forte e elevar os índices de inflação em novembro e dezembro", avalia Marcela Prada, da
Tendências Consultoria.
Para Fábio Romão, da LCA,
os efeitos da valorização do dólar serão sentidos com mais
força em novembro e dezembro deste ano, quando o IPCA
tende a se acelerar.
Diante da alta da moeda norte-americana, a Tendências revisou sua projeção para o IPCA
dos dois últimos meses do ano.
O índice deve ficar em 0,60%
em cada mês.
"Há muita pressão do câmbio
já apontada no atacado e que
não chegou ainda ao varejo. Por
isso, a inflação deve se acelerar
neste final de ano", diz Prada.
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