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Para EUA, hacker causou apagão no Brasil
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Agentes de segurança e informação do governo dos Estados
Unidos têm vários indícios de
que empresas de energia do
Brasil já sofreram ataques de
hackers. Alguns apagões que
deixaram dezenas de cidades
no escuro nos últimos anos podem ter sido obra de cibercriminosos, como mencionou de
forma indireta o presidente
americano, Barack Obama.
Num discurso em maio deste
ano, Obama disse: "Nós sabemos que esses invasores cibernéticos têm colocado à prova
nosso sistema interligado de
energia e que, em outros países,
ataques assim jogaram cidades
inteiras na escuridão".
A referência a "outros países"
feita pelo chefe da Casa Branca
incluía o Brasil, segundo a Folha apurou.
De acordo com agentes de segurança que fazem relatórios
para dar subsídios aos discursos de Obama, os apagões brasileiros que teriam ocorrido por
causa da ação de hackers foram
os de janeiro de 2005 e de setembro de 2007, entre outros,
sempre atingindo regiões no
Espírito Santo e no Rio.
A responsável por aquela região é a estatal federal Furnas.
A Folha entrou em contato
com a empresa, que negou ter
conhecimento da ação de hackers em seu sistema. A Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica) e o ONS (Operador
Nacional do Sistema Elétrico)
também afirmaram desconhecer o envolvimento de criminosos cibernéticos nos apagões.
As quedas de energia são sempre atribuídas a fenômenos climáticos, falha de manutenção
ou sobrecarga do sistema.
Autoridades dos EUA já chegaram até a mencionar o assunto em público. Em junho de
2007, o então secretário assistente de Defesa dos EUA, John
Grines, numa conferência em
Paris, disse o seguinte: "Não faz
muito tempo, houve um ataque
[de hackers] ao sistema de
energia do Brasil, à chamada
rede Scada [um tipo de sistema
de gerenciamento], que causou
grandes distúrbios".
No mês passado, em uma reportagem publicada pela revista norte-americana "Wired",
um ex-assessor especial no governo de George W. Bush (que
deixou a Casa Branca neste
ano), também mencionou o
Brasil. "Dado o grau de seriedade com que a administração
Obama trata a segurança cibernética e a rede inteligente [de
transmissão de energia], nós
podemos nos preparar para
acontecer aqui o tipo de coisa
que aconteceu no Brasil, onde
hackers conseguiram, com sucesso, derrubar o fornecimento
de energia", disse Richard
Clarke, hoje presidente da
Good Harbor, uma empresa
que faz consultoria nessa área.
Raphael Mandarino Junior,
diretor do Departamento de
Segurança da Informação e Comunicação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, diz ter
checado o assunto com empresas de energia "sem encontrar
rastros".
"Há sempre a possibilidade
de um ataque de hackers para
tentar derrubar uma subestação de energia, mas creio que
estamos de certa forma protegidos pelo fato de termos chegado tarde aos avanços tecnológicos. As empresas não têm
os seus sistemas operacionais
conectados diretamente à internet. Isso dificulta muito a
um hacker entrar na rede interna", diz Mandarino.
Mas ele acredita que quase
todos os setores na administração pública no Brasil estão
atrasados na preparação para
enfrentar esse risco relativamente novo de ataques de hackers. "Quem trabalha na segurança muitas vezes é um gato
gordo e lento. Quem está atacando é um rato magro e ágil,
que sempre toma a iniciativa."
A fragilidade do fornecimento de energia no Brasil e o risco
de ataques de hackers deve ser
assunto hoje à noite no programa jornalístico "60 Minutes",
da rede norte-americana CBS,
segundo a Folha apurou.
A reportagem falará também
das vulnerabilidades locais,
mas o caso brasileiro será citado. Amanhã, a reportagem poderá ser assistida na internet,
no site da emissora americana
(www.cbsnews.com).
(FR)
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