São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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Rendimento baixo estimula maior consumo

DA REPORTAGEM LOCAL

Embora economistas acreditem que o Banco Central vá reagir à recente disparada da inflação e elevar novamente os juros, novas possíveis fontes de pressão inflacionária já preocupam.
O forte aumento do volume de dinheiro que é rolado no chamado mercado overnight (que remunera as aplicações com taxas de juros diárias), por exemplo, traz o risco de maior inflação.
Entre maio e os últimos dias, o montante de recursos que circula diariamente pelo overnight saltou de cerca de R$ 6 bilhões para mais de R$ 60 bilhões.
"Esse salto reflete, principalmente, a incerteza de investidores em relação ao futuro da economia sob a gestão do próximo governo. O adiamento do anúncio do nome do futuro presidente do Banco Central aumentou essa tensão nos últimos dias", afirma Carlos Carvalho, sócio da Questus Asset Management.

Alta generalizada
O grande risco, alerta Carvalho, é que esse dinheiro que não está preso em nenhum investimento de médio prazo acabe contribuindo para o aumento da inflação.
"O problema é que esse dinheiro que está solto pode ser usado para o consumo, principalmente se os investidores começarem a temer a disparada da inflação."
Outra preocupação de economistas é a alta generalizada dos preços. Isso começa a indicar que a inflação não está restrita a produtos cujos preços são afetados pela alta do dólar e já chega, por exemplo, ao setor de serviços.
Segundo o último informativo econômico do Itaú, dos 525 subitens que compõem o IPC calculado pela Fipe, 43% subiram mais de 2%. Em setembro passado, o percentual de preços que tiveram reajuste acima de 2% era de 50%. No total, 60% dos subitens tiveram aumento superior a 1% em novembro.
Por isso, economistas acreditam que o BC será obrigado a subir novamente a Selic, atualmente em 22% ao ano.
Isso contribuiria para a recuperação da rentabilidade real das aplicações financeiras que vêm perdendo para os índices de preços ao consumidor. Segundo analistas, os IPCs são os índices ideais para a medição dos juros reais, já que refletem o verdadeiro custo de vida do consumidor.
"Os IPCs retratam mais fielmente os juros reais em comparação aos retornos das aplicações. O custo de oportunidade de um investimento é medido pelos bens que o investidor poderá comprar no futuro", diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN-Amro Asset Management.
Quando o investidor começa a se dar conta de que não vale a pena poupar porque os preços subirão mais, em determinado período, do que a rentabilidade de seu investimento, pode partir para o consumo imediato.
Segundo Penteado, no entanto, esse risco deverá ser bastante reduzido com a elevação dos juros. "Esperamos um aumento da Selic para, no mínimo, 24%." Por isso, o economista não aconselha que os investidores saiam de suas aplicações agora. "Os ganhos reais tendem a voltar", diz Penteado.
De qualquer modo, analistas alertam que as aplicações financeiras tendem a oferecer rendimentos reais menores no futuro do que os conseguidos nos últimos anos. Isso poderá aumentar a demanda por aplicações mais arriscadas, como os fundos de ações. (EF)


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