São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Juro cairá em ritmo mais lento, aponta BC

Copom não sinaliza, porém, quando começará a frear queda da Selic; mercado ainda vê chance de corte maior em janeiro

Ata divulgada ontem volta a traçar perspectivas positivas para a economia, com a ajuda de "impulsos fiscais" para o crescimento em 2007


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de reduzir os juros seguidamente durante um ano e três meses, a diretoria do Banco Central já dá como certa a necessidade de começar a baixar a taxa Selic de forma mais lenta. A única dúvida é o momento em que essa maior cautela será adotada em 2007.
Esse foi o principal motivo de discórdia na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, na semana passada, reduziu a Selic de 13,75% ao ano para 13,25%. Dos oito membros do Copom, três defenderam uma queda de 0,25 ponto percentual nos juros, em vez do corte de 0,50.
Ontem, o BC divulgou a ata da reunião. Segundo o documento, "houve consenso entre os membros do comitê de que diversos fatores respaldariam tal decisão [reduzir a Selic em 0,25 ponto]". Mas o que valeu foi a opinião da maioria: "As informações disponíveis neste momento ainda não justificariam uma mudança de ritmo".
De forma geral, o mercado financeiro não reagiu mal ao conteúdo da ata, por considerar que, apesar da indicação de cortes menores nos juros, o BC não afastou totalmente a possibilidade de voltar a promover uma redução de 0,5 ponto na próxima reunião do Copom, marcada para o mês que vem.
"O mercado ficou muito impressionado com aquele 5 a 3, como se fosse um sinal inexorável de um corte de 0,25 [ponto percentual] em janeiro", diz Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management.
Na avaliação de Póvoa, a ata da reunião do Copom realmente indica que o corte de janeiro pode ser de 0,25 ponto, mas tudo dependerá do comportamento de alguns indicadores. Ele ressalta, por exemplo, que o resultado da produção industrial em outubro ficou abaixo do esperado, o que favorece queda maior dos juros.
Por outro lado, diz o economista, o BC continua preocupado em manter um equilíbrio entre o consumo das pessoas e a produção das empresas. A ata do Copom afirma que "os dados referentes à atividade econômica ainda sugerem uma baixa probabilidade de que observemos pressões significativas sobre a inflação", mas lembra que o aumento das importações é um dos fatores que mantêm essa situação favorável.
Em tese, se o consumo cresce de forma mais acelerada que a produção, o resultado é um aumento de preços. Esse parece ser o cenário atual, já que a expansão da demanda -impulsionada por uma maior oferta de crédito e pela recuperação da renda- não tem sido acompanhada por uma maior produção da indústria.

Importações
Com o dólar barato, porém, esse maior nível de consumo tem sido atendido pelos importados, reduzindo a pressão sobre a inflação. A dúvida, nesse caso, é se essa situação é sustentável no longo prazo.
Daí a preocupação do governo em estimular os investimentos das empresas, pois, se entender que a capacidade de produção não está crescendo em níveis satisfatórios, o BC pode decidir conter a alta da demanda -ou seja, frear o ritmo de crescimento econômico, usando, para isso, os juros.
Mesmo com a possibilidade de uma queda mais lenta dos juros, o BC volta a afirmar que as perspectivas para a economia são boas. Apesar das pressões para uma redução no nível dos gastos públicos, o documento divulgado ontem afirma esperar que "impulsos fiscais ocorridos desde o último trimestre do ano passado e esperados para o próximo ano" continuem colaborando para a retomada do crescimento.


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