São Paulo, terça-feira, 09 de janeiro de 2007

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Camarão vira fonte de subsistência para grupo de pescadores em Recife

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Moradores da ilha de Deus, comunidade de pescadores em uma região de rios e mangues na zona urbana de Recife, trocaram a pesca pelo cultivo de camarões.
Foi uma resposta à crise provocada pela redução de peixes na bacia do rio Tejipió, de onde tiravam o sustento. Na ilha, vivem 2.000 pessoas. Cerca de 200 sobrevivem hoje só dos camarões.
Os crustáceos crescem próximos a palafitas e habitações precárias, em viveiros cavados à mão às margens de rios e em ilhotas cercadas pelo mangue.
Os criadouros não dispõem de tecnologia, o que torna a produção uma incerteza. Um mesmo criador pode perder tudo ou recolher até 1.500 kg do produto por safra, em uma área de aproximadamente um hectare.
Nesse mesmo espaço, produtores com tecnologia obtêm regularmente ao menos 3.000 kg de camarões cinza, a mesma espécie escolhida pelos pescadores da ilha de Deus pela rusticidade, sabor e resistência a variações de salinidade da água.
Na ilha, o medo de imprevistos, como uma maré mais alta ou uma chuva mais forte, leva os pescadores a coletar os crustáceos de dois em dois meses -30 dias antes do recomendado.
"É melhor garantir um pouco de lucro do que arriscar", diz Geovani de Sá Barreto, 27. "Se a barreira transbordar e entrar a sujeira do rio, não sobra um", diz.
Além da poluição provocada pelo despejo de esgoto "in natura" nos rios que cercam a ilha, os carcinocultores locais se preocupam também com ladrões de camarões.
Quem pode contrata um vigia. A maioria, porém, reveza-se na segurança. Outros, como o pescador Arlindo Joaquim Firmino, 66, preferem morar ao lado de seus viveiros. Da janela do barraco que construiu em uma ilhota, Firmino enxota quem se aproxima demais.
Os criadores dizem já ter sofrido "prejuízo demais" até conseguirem adaptar e padronizar as criações à realidade local. "Nossa escola é o nosso dia-a-dia", afirma.
A água represada nos viveiros vem dos mangues e das marés mais altas, acima de dois metros. As larvas do crustáceo, compradas de criadores, desenvolvem-se em pequenos açudes.
Pesando em torno de dez gramas, os camarões são comprados por intermediários que pagam R$ 8 o quilo. O produto chega ao consumidor a R$ 12. O lucro dos criadores é de cerca de R$ 3.
"Não é uma renda grande, mas é melhor do que passar o dia inteiro pescando e voltar para casa à noite com menos de um quilo de peixe", afirma Firmino.


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