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Camarão vira fonte de subsistência para grupo
de pescadores em Recife
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Moradores da ilha de
Deus, comunidade de pescadores em uma região de rios
e mangues na zona urbana
de Recife, trocaram a pesca
pelo cultivo de camarões.
Foi uma resposta à crise
provocada pela redução de
peixes na bacia do rio Tejipió, de onde tiravam o sustento. Na ilha, vivem 2.000
pessoas. Cerca de 200 sobrevivem hoje só dos camarões.
Os crustáceos crescem
próximos a palafitas e habitações precárias, em viveiros
cavados à mão às margens de
rios e em ilhotas cercadas
pelo mangue.
Os criadouros não dispõem de tecnologia, o que
torna a produção uma incerteza. Um mesmo criador pode perder tudo ou recolher
até 1.500 kg do produto por
safra, em uma área de aproximadamente um hectare.
Nesse mesmo espaço, produtores com tecnologia obtêm regularmente ao menos
3.000 kg de camarões cinza,
a mesma espécie escolhida
pelos pescadores da ilha de
Deus pela rusticidade, sabor
e resistência a variações de
salinidade da água.
Na ilha, o medo de imprevistos, como uma maré mais
alta ou uma chuva mais forte, leva os pescadores a coletar os crustáceos de dois em dois meses -30 dias antes
do recomendado.
"É melhor garantir um
pouco de lucro do que arriscar", diz Geovani de Sá Barreto, 27. "Se a barreira transbordar e entrar a sujeira do
rio, não sobra um", diz.
Além da poluição provocada pelo despejo de esgoto "in
natura" nos rios que cercam
a ilha, os carcinocultores locais se preocupam também
com ladrões de camarões.
Quem pode contrata um
vigia. A maioria, porém, reveza-se na segurança. Outros, como o pescador Arlindo Joaquim Firmino, 66,
preferem morar ao lado de
seus viveiros. Da janela do
barraco que construiu em
uma ilhota, Firmino enxota
quem se aproxima demais.
Os criadores dizem já ter
sofrido "prejuízo demais"
até conseguirem adaptar e
padronizar as criações à realidade local. "Nossa escola é
o nosso dia-a-dia", afirma.
A água represada nos viveiros vem dos mangues e
das marés mais altas, acima
de dois metros. As larvas do
crustáceo, compradas de
criadores, desenvolvem-se
em pequenos açudes.
Pesando em torno de dez
gramas, os camarões são
comprados por intermediários que pagam R$ 8 o quilo.
O produto chega ao consumidor a R$ 12. O lucro dos
criadores é de cerca de R$ 3.
"Não é uma renda grande,
mas é melhor do que passar
o dia inteiro pescando e voltar para casa à noite com menos de um quilo de peixe",
afirma Firmino.
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