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Governo avalia racionalização de energia
Área técnica quer campanha para redução do consumo e plano de contingência se o nível de hidrelétricas não melhorar
Autoridades do setor vão se reunir para analisar situação dos reservatórios; para Aneel, racionamento em 2008 "não é impossível"
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O diretor-geral da Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica), Jerson Kelman, defendeu ontem a deflagração de
uma campanha para a redução
no consumo de energia elétrica
e a elaboração de um plano de
contingência para um eventual
racionamento. "Assim deve ser
com coisas desagradáveis, como o racionamento. Deveria se
discutir muito antes, não sob
pressão", disse.
Numa campanha de racionalização, a população é incentivada a gastar menos por meio
de campanhas educativas (como troca de lâmpadas normais
por fluorescentes). Já no racionamento, as medidas de restrição são impostas, com punição
a quem as descumprir.
Kelman considera muito
pouco provável, mas não impossível, a imposição de um racionamento neste ano. "Não é
impossível ter [racionamento].
O mais provável é que não tenha." A situação para 2009, no
entanto, segue indefinida, dependendo da quantidade de
chuvas até o fim de abril na região da bacia dos principais rios
do Sudeste e do Centro-Oeste.
Amanhã, as principais autoridades do governo na área se
reúnem no CMSE (Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico) para analisar a situação
nos reservatórios das hidrelétricas e as medidas que estão
sendo adotadas para evitar risco de falta de energia. Kelman,
em férias, não participará.
Hoje com 44,7% de sua capacidade (dado de anteontem), os
reservatórios das hidrelétricas
do Sudeste e do Centro-Oeste
precisam chegar ao menos a
68% até o fim de abril para que
haja mais segurança no abastecimento de energia. Por essa
avaliação, o esvaziamento dos
reservatórios das hidrelétricas
do Sudeste e do Centro-Oeste
ao longo de 2007 não teve como principal causa a
alta do consumo, e sim a frustração na oferta de energia.
Termelétricas a gás com potência de até 8.000 MW (megawatts) não conseguem produzir mais do que cerca de 3.200
MW médios de energia por falta do combustível. A hidrelétrica de Itaipu também vem gerando menos que o esperado.
À medida que o nível dos reservatórios baixa, aumenta o
custo da energia, medido por
uma variável chamada no setor
de CMO (Custo Marginal de
Operação). Segundo o sistema
adotado no Brasil, as termelétricas, que geram energia mais
cara, só são acionadas quando o
preço de sua energia se iguala
ao CMO. Para a maior parte
dessas usinas, isso aconteceu
na semana passada, quando o
CMO chegou a cerca de R$ 250
por MWh (megawatt hora).
A lógica desse sistema é a seguinte: com muita água nos reservatórios, a energia hidrelétrica deve ser usada porque é
mais barata, e o CMO fica baixo. Nessa situação, as termelétricas ficam desligadas, evitando que a sociedade pague mais
caro pela energia. O CMO sobe
com reservatórios mais vazios
para que a geração de energia
hidrelétrica diminua e a água
comece a ser poupada.
Outro mecanismo de segurança do sistema é a "curva de
aversão ao risco" -um nível
mínimo de água nos reservatórios. Quando é atingido, as termelétricas têm que ser acionadas, mesmo que a energia hidrelétrica ainda esteja mais barata. O nível mínimo para as hidrelétricas do Sudeste e do
Centro-Oeste é de 36,5%. Se as
chuvas continuarem fracas, o
nível mínimo deverá ser atingido até o final do mês. Hoje, está
chovendo na região 47% da média histórica -menos da metade do que seria normal.
Se os reservatórios ficarem
mais vazios do que o nível considerado mínimo, haverá poucas medidas a serem adotadas
pelo governo, uma vez que as
termelétricas já estão ligadas.
No último domingo, foram gerados 4.428 MW médios de
energia termelétrica (sem contar as usinas nucleares). Desse
total, 3.198 MW médios vieram
de termelétricas a gás, e o restante de usinas movidas a óleo
ou carvão.
O presidente da Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia), Paulo Mayon, defende o uso racional de
energia elétrica e o pagamento
de bônus a consumidores que
reduzirem o consumo como
formas de evitar a escassez.
Entre as propostas da entidade, que representa 18 grandes
empresas, estão os leilões de
eficiência energética. Pelo sistema, os consumidores que reduzirem o consumo, poderiam
vender a diferença para empresas que aumentarem o uso.
Com MARINA GAZZONI, colaboração para a Folha
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