São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

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Governo avalia racionalização de energia

Área técnica quer campanha para redução do consumo e plano de contingência se o nível de hidrelétricas não melhorar

Autoridades do setor vão se reunir para analisar situação dos reservatórios; para Aneel, racionamento em 2008 "não é impossível"

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Jerson Kelman, defendeu ontem a deflagração de uma campanha para a redução no consumo de energia elétrica e a elaboração de um plano de contingência para um eventual racionamento. "Assim deve ser com coisas desagradáveis, como o racionamento. Deveria se discutir muito antes, não sob pressão", disse.
Numa campanha de racionalização, a população é incentivada a gastar menos por meio de campanhas educativas (como troca de lâmpadas normais por fluorescentes). Já no racionamento, as medidas de restrição são impostas, com punição a quem as descumprir.
Kelman considera muito pouco provável, mas não impossível, a imposição de um racionamento neste ano. "Não é impossível ter [racionamento]. O mais provável é que não tenha." A situação para 2009, no entanto, segue indefinida, dependendo da quantidade de chuvas até o fim de abril na região da bacia dos principais rios do Sudeste e do Centro-Oeste.
Amanhã, as principais autoridades do governo na área se reúnem no CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) para analisar a situação nos reservatórios das hidrelétricas e as medidas que estão sendo adotadas para evitar risco de falta de energia. Kelman, em férias, não participará.
Hoje com 44,7% de sua capacidade (dado de anteontem), os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste precisam chegar ao menos a 68% até o fim de abril para que haja mais segurança no abastecimento de energia. Por essa avaliação, o esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste ao longo de 2007 não teve como principal causa a alta do consumo, e sim a frustração na oferta de energia. Termelétricas a gás com potência de até 8.000 MW (megawatts) não conseguem produzir mais do que cerca de 3.200 MW médios de energia por falta do combustível. A hidrelétrica de Itaipu também vem gerando menos que o esperado.
À medida que o nível dos reservatórios baixa, aumenta o custo da energia, medido por uma variável chamada no setor de CMO (Custo Marginal de Operação). Segundo o sistema adotado no Brasil, as termelétricas, que geram energia mais cara, só são acionadas quando o preço de sua energia se iguala ao CMO. Para a maior parte dessas usinas, isso aconteceu na semana passada, quando o CMO chegou a cerca de R$ 250 por MWh (megawatt hora).
A lógica desse sistema é a seguinte: com muita água nos reservatórios, a energia hidrelétrica deve ser usada porque é mais barata, e o CMO fica baixo. Nessa situação, as termelétricas ficam desligadas, evitando que a sociedade pague mais caro pela energia. O CMO sobe com reservatórios mais vazios para que a geração de energia hidrelétrica diminua e a água comece a ser poupada.
Outro mecanismo de segurança do sistema é a "curva de aversão ao risco" -um nível mínimo de água nos reservatórios. Quando é atingido, as termelétricas têm que ser acionadas, mesmo que a energia hidrelétrica ainda esteja mais barata. O nível mínimo para as hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste é de 36,5%. Se as chuvas continuarem fracas, o nível mínimo deverá ser atingido até o final do mês. Hoje, está chovendo na região 47% da média histórica -menos da metade do que seria normal.
Se os reservatórios ficarem mais vazios do que o nível considerado mínimo, haverá poucas medidas a serem adotadas pelo governo, uma vez que as termelétricas já estão ligadas.
No último domingo, foram gerados 4.428 MW médios de energia termelétrica (sem contar as usinas nucleares). Desse total, 3.198 MW médios vieram de termelétricas a gás, e o restante de usinas movidas a óleo ou carvão.
O presidente da Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia), Paulo Mayon, defende o uso racional de energia elétrica e o pagamento de bônus a consumidores que reduzirem o consumo como formas de evitar a escassez.
Entre as propostas da entidade, que representa 18 grandes empresas, estão os leilões de eficiência energética. Pelo sistema, os consumidores que reduzirem o consumo, poderiam vender a diferença para empresas que aumentarem o uso.


Com MARINA GAZZONI, colaboração para a Folha

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