São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sarkozy e Merkel rejeitam hegemonia norte-americana

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, decretaram ontem, ao menos retoricamente, o fim dos EUA como potência econômica mundial única.
"Sempre fui partidário de uma aliança muito próxima com os EUA, mas sejamos claro: no século 21, já não é o tempo para que uma única nação possa dizer o que devemos fazer, o que devemos pensar", disparou Sarkozy, ao abrir o seminário "Novo Mundo, Novo Capitalismo", ontem, em Paris.
Emendou: "Não aceitaremos o regresso a uma ideia única".
A expressão "ideia única" é muito cara à esquerda, que assim se refere ao "neoliberalismo", hegemônico no mundo até a crise do ano passado. Que seja usada por um presidente tido como de direita diz bem como está mudando a agenda de debates no planeta.
Merkel, também conservadora, foi na mesma direção, ao dizer que, "no mundo de hoje, nenhum país pode agir sozinho, nem mesmo os EUA".
Merkel, coerente com essa ideia, apresentou as propostas mais concretas: para reforçar a governança econômica planetária, sugere a criação, no âmbito da ONU, de um Conselho Econômico, que seria a versão econômico-financeira do Conselho de Segurança.
Merkel propõe também uma Carta Econômica, à semelhança do mais célebre documento da ONU, a Carta dos Direitos Humanos. Até Tony Blair, o ex-premiê britânico que durante sua longa gestão (dez anos, a partir de 1997) alinhou-se incondicionalmente aos EUA, adotou o discurso contra a hegemonia americana, ao afirmar que, "hoje, nem mesmo o mais potente sistema nacional pode funcionar sem uma noção de governança mundial".
Sarkozy foi, no entanto, o autor da crítica mais severa ao capitalismo. Primeiro, comemorou "o principal fato desta crise (que) é o retorno do Estado". Mas, acrescentou, não se trata apenas de um Estado regulador e protetor. Sarkozy defendeu um Estado também "empreendedor", que agiria principalmente via fundos soberanos. Tratar-se-ia de encontrar "um capitalismo de empreendedores", "animado" pelo Estado.
Parece uma versão mais francesa -e, portanto, mais intervencionista- do que o "capitalismo popular", defendido pela campeã mundial do "neoliberalismo", a ex-premiê britânica Margaret Thatcher. Para ela, no entanto, o Estado deveria ficar longe do empreendedorismo, a cargo dos cidadãos.
Sarkozy afirmou também que "o sonho da globalização feliz acabou com o 11 de setembro de 2001". "Esperava-se a competição e a abundância. Tivemos a escassez, o triunfo da economia rentista, da especulação e do dumping", espetou.


Texto Anterior: Vendas nos EUA têm pior fim de ano desde 1969, e crédito para o consumidor afunda
Próximo Texto: Crise global
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.