São Paulo, sábado, 09 de janeiro de 2010

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Madeira sobe 8,5% após suspensão de IPI

Associação da indústria moveleira afirma que os aumentos de preço podem frear impulso dado com a desoneração

Setor, que sofre com queda nas exportações, acha que desoneração pode não surtir efeito; custo da medida ao governo é de R$ 217 milhões

Eduardo Knapp - 16.mar.09/Folha Imagem
Fábrica de móveis no interior de São Paulo; desoneração do setor pode não chegar a consumidor

FILIPE COUTINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de 45 dias depois de o governo zerar o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a indústria moveleira, a medida está ameaçada.
A renúncia fiscal estimada em R$ 217 milhões pode se tornar inútil: os fabricantes de painéis para móveis (matéria-prima do setor) driblaram o governo e aproveitaram a redução de imposto para aumentar preços.
Segundo a Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), entidade representativa das indústrias que compram as chapas de madeira, os preços aumentaram, em média, 8,5% desde o primeiro dia do ano.
A alíquota antes era de 10% para as chapas de madeira. Para os móveis, de 5%.
"Não há momento pior para esse aumento. Não faz sentido aumentar preço justamente quando o IPI é reduzido. Houve um acordo informal com o governo, que foi quebrado", afirmou o presidente da Abimóvel, José Luiz Fernandez.
Numa conta simples, de cada R$ 1 reduzido pelo IPI nos preços dos painéis, o aumento de 8,5% nos custos da matéria-prima anula até R$ 0,85 do benefício oferecido à indústria moveleira. Os painéis representam em média 60% do valor dos móveis populares no varejo.
Os fabricantes de móveis acreditam que esse acréscimo no custo da matéria-prima possa frear o impulso dado ao setor pelo IPI zero.
"Qualquer aumento pode atrapalhar a nossa recuperação", diz Fernandez.
Em 2009, o setor foi abalado pela crise internacional que provocou uma queda nas exportações. No mercado interno, a redução do IPI na linha branca acelerou a venda de geladeiras e fogões, colocando os móveis em segundo plano para o consumidor.
Enquanto a linha branca teve momentos de aquecimento nas vendas de até 25%, o comércio de móveis caiu até 10% mensais entre maio e outubro -auge da crise no setor. Assim como aconteceu com os móveis, o governo federal pediu que os descontos da linha branca fossem repassados ao consumidor -e o acordo foi cumprido.
Como forma de compensar as perdas do setor moveleiro, o Ministério da Fazenda determinou no fim de novembro a alíquota zero para os produtos.
Após o descumprimento do acordo informal feito com o governo, os fabricantes de móveis declararam guerra à indústria dos painéis. Além de informar ao governo sobre os reajustes, a Abimóvel pedirá na próxima semana que o Imposto de Importação das chapas seja reduzido. A ideia é abrir o mercado para pressionar preços mais competitivos.
Quando anunciou o IPI zero, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que gostaria de ver promoções nas lojas e mais descontos. "Queremos que o consumidor dê uma melhorada nos móveis da casa. É o que funciona: você já aproveita o embalo da redução do governo para abaixar a margem e apostar nas vendas", afirmou.
A medida do governo vale até 31 de março. O ministério, entretanto, não pode intervir na política de preços das empresas. A expectativa das fábrica de móveis -antes do aumento de preço dos painéis - era recuperar os prejuízos e aumentar as vendas em 5% mensais durante o período de isenção.

Minha Casa, Minha Vida
O IPI zero para os móveis pode ser uma maneira de tornar mais atraente o programa Minha Casa, Minha Vida, da Casa Civil. Ao lado do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o programa é a principal vitrine da ministra Dilma Rousseff no ano eleitoral.
A Abimóvel negocia com a Caixa Econômica -que faz os financiamentos do Minha Casa, Minha Vida - linhas de créditos para o setor. A ideia é oferecer taxas de juros diferenciadas para quem quiser mobiliar as casas construídas com o dinheiro do programa do governo federal.


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