|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
País deverá desacelerar
OSCAR PILAGALLO
Editor de Dinheiro
Completado o maior período de crescimento da
história dos Estados Unidos
em tempos de paz, a pergunta é se há fôlego para a
manutenção do ciclo.
Se a pergunta for dirigida
a um economista, ele dirá,
provavelmente, que não.
A opinião consensual é
que haverá, pelo menos, alguma desaceleração. A
maioria acha que a economia não crescerá mais do
que 2% neste ano. Em 1998,
a expansão deve ter ficado
perto de 3,5%.
O consenso não é garantia
de que a previsão se torne
realidade. Nos últimos três
anos, projeções pessimistas
sobre a capacidade de a economia norte-americana
manter o vigor não se concretizaram, apesar de terem
sido predominantes.
Feita a ressalva, é bem
provável que, desta vez, haja mesmo desaquecimento,
ao contrário do que sugeriu
ontem o presidente, Bill
Clinton, que depende do
bom desempenho da economia para compensar o
desgaste político.
Talvez a maior fragilidade
do atual ciclo de expansão
seja a excessiva dependência do elevado nível de consumo dos americanos.
Os gastos são responsáveis por cerca de dois terços
do PIB (Produto Interno
Bruto, a medida mais genérica da riqueza de um país).
Há quem argumente que
o consumo continuará aumentando. Previsão divulgada pela revista "Business
Week" mostra que, enquanto os salários deverão
subir quase 7% neste ano,
os gastos aumentariam menos de 6%, o que é compatível e dá até alguma margem
para poupança.
A questão é que grande
parte do consumo, alavancada em crédito, se dá devido à sensação de riqueza
proporcionada por ganhos
na Bolsa (a de Nova York
subiu 16% no ano passado,
enquanto a de São Paulo
caiu 33%). Ontem, após o
anúncio de Clinton, o índice Dow Jones, principal termômetro do mercado acionário, teve alta de 1,11%.
Se as ações se desvalorizarem, portanto, haverá forte
desestímulo ao consumo. E
não falta quem diga que o
patamar recorde em que as
ações se encontram é insustentável, a começar pelo
presidente do banco central, Alan Greenspan.
Os mais pessimistas falam, não em desaquecimento, mas em recessão,
que tecnicamente é caracterizada pela queda do PIB
por pelo menos dois trimestres consecutivos.
Não é o cenário mais provável, mas, diante das incertezas da economia internacional, às quais agora se soma o "fator Itamar", não
pode ser descartado.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|