São Paulo, sábado, 9 de janeiro de 1999

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ANÁLISE

País deverá desacelerar

OSCAR PILAGALLO
Editor de Dinheiro

Completado o maior período de crescimento da história dos Estados Unidos em tempos de paz, a pergunta é se há fôlego para a manutenção do ciclo.
Se a pergunta for dirigida a um economista, ele dirá, provavelmente, que não.
A opinião consensual é que haverá, pelo menos, alguma desaceleração. A maioria acha que a economia não crescerá mais do que 2% neste ano. Em 1998, a expansão deve ter ficado perto de 3,5%.
O consenso não é garantia de que a previsão se torne realidade. Nos últimos três anos, projeções pessimistas sobre a capacidade de a economia norte-americana manter o vigor não se concretizaram, apesar de terem sido predominantes.
Feita a ressalva, é bem provável que, desta vez, haja mesmo desaquecimento, ao contrário do que sugeriu ontem o presidente, Bill Clinton, que depende do bom desempenho da economia para compensar o desgaste político.
Talvez a maior fragilidade do atual ciclo de expansão seja a excessiva dependência do elevado nível de consumo dos americanos.
Os gastos são responsáveis por cerca de dois terços do PIB (Produto Interno Bruto, a medida mais genérica da riqueza de um país).
Há quem argumente que o consumo continuará aumentando. Previsão divulgada pela revista "Business Week" mostra que, enquanto os salários deverão subir quase 7% neste ano, os gastos aumentariam menos de 6%, o que é compatível e dá até alguma margem para poupança.
A questão é que grande parte do consumo, alavancada em crédito, se dá devido à sensação de riqueza proporcionada por ganhos na Bolsa (a de Nova York subiu 16% no ano passado, enquanto a de São Paulo caiu 33%). Ontem, após o anúncio de Clinton, o índice Dow Jones, principal termômetro do mercado acionário, teve alta de 1,11%.
Se as ações se desvalorizarem, portanto, haverá forte desestímulo ao consumo. E não falta quem diga que o patamar recorde em que as ações se encontram é insustentável, a começar pelo presidente do banco central, Alan Greenspan.
Os mais pessimistas falam, não em desaquecimento, mas em recessão, que tecnicamente é caracterizada pela queda do PIB por pelo menos dois trimestres consecutivos.
Não é o cenário mais provável, mas, diante das incertezas da economia internacional, às quais agora se soma o "fator Itamar", não pode ser descartado.



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