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País precisa de "super-PAC", diz empresário
Para Josué Gomes da Silva, presidente do Iedi, Brasil tem de ter projeto "mais ousado" de investimento em infra-estrutura
Executivo diz que, somente com investimento "maciço", economia poderá crescer
mais do que 5% ao ano e por períodos mais longos
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Josué Gomes da Silva, presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial) e da Coteminas, diz
que o país tem de comemorar o
crescimento de 6% da produção industrial no ano passado.
Mas, para que essa expansão se
mantenha, na sua avaliação, o
país terá de executar um projeto nacional ousado de investimentos em infra-estrutura.
"O importante é o Brasil ter
um programa de investimento
maciço em infra-estrutura, algo mais ousado do que o PAC
[Programa de Aceleração do
Crescimento]. É preciso lançar
o "super-PAC"." Para ele, com
mais investimentos em infra-estrutura, o Brasil pode crescer
mais do que 5% ao ano e por períodos mais longos.
Uma possível recessão nos
Estados Unidos, segundo Gomes da Silva, pode, sim, atingir
outros países, Brasil incluído.
"Os países estão interligados
numa economia globalizada.
Mas o impacto no Brasil não será nada dramático, até porque a
economia brasileira está mais
preparada do que no passado
para enfrentar crises", afirma o
presidente da Coteminas, que
anunciou demissões ontem.
FOLHA - A produção industrial cresceu 6% em 2007, apesar de muitos
empresários se queixarem das políticas de juros e câmbio do governo.
Esse crescimento da indústria surpreendeu e pode se repetir neste
ano?
JOSUÉ GOMES DA SILVA - O país todo e o governo devem comemorar os resultados da indústria
em 2007, que garante um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro mais
próximo de 5,5% em 2007. É
cedo para fazer estimativa. Mas
o fato de 2007 ter terminado
muito bem, dá indicação de que
2008 será um ano positivo. O
crescimento expressivo da produção de bens de capital em
2007 demonstra que o governo
não precisa se preocupar com a
expansão do consumo, já que os
investimentos que estão sendo
feitos vão atender ao consumo
e evitar pressões inflacionárias.
FOLHA - E as importações também
estão contribuindo para dar conta
do consumo no mercado interno?
GOMES DA SILVA - O crescimento
das importações não é algo para
ser comemorado, já que está
nos custando alguns pontos a
menos no crescimento do PIB.
As importações estão crescendo muito mais rapidamente do
que as exportações. Porém, é
óbvio que essas importações
diminuem a pressão sobre a inflação. Ninguém, portanto, precisa ficar preocupado com o
crescimento do consumo e optar por uma política monetária
mais restritiva, o que pode levar a uma alta dos juros.
FOLHA - O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para compensar o fim da CPMF já não
deve inibir o consumo em alguns setores?
GOMES DA SILVA - Essa medida
onerou o crédito para alguns
setores, e isso pode contribuir
para o arrefecimento desses setores, como o automobilístico,
que é um dos mais dependentes
de financiamento. Aliás, esse é
mais um motivo para que o governo não pense em elevar juros. O Brasil já possui uma taxa
de juros que está entre as mais
elevadas do mundo, e isso, sim,
é grave e preocupante.
FOLHA - E o real valorizado também é outro obstáculo a ser enfrentado?
GOMES DA SILVA - Sim, pois houve inversão da balança comercial dos produtos industriais.
Em 2006, a balança comercial
de produtos manufaturados
apresentou superávit de US$ 5
bilhões e, em 2007, déficit de
US$ 7 bilhões. Isso se inverteu
por causa da taxa de câmbio.
Estamos preocupados também
com o fato de a produção de
bens intermediários ter crescido, em 2007, menos do que a
produção média da indústria.
Isso significa já uma porosidade que vai sendo criada na cadeia industrial brasileira, e isso
não é bom para o país. Os setores de bens duráveis e não-duráveis também poderiam ter
crescido mais. Quer dizer que o
crescimento de consumo desses produtos está sendo atendido pela importação.
FOLHA - O BNDES divulgou nesta
semana números recordes de desembolsos, especialmente para o setor de infra-estrutura. O que o sr.
achou dos números?
GOMES DA SILVA - Os números
são positivos e o BNDES é uma
das instituições que permitem
que o Brasil se desenvolva. Agora, infra-estrutura não deve ser
alguma coisa só do BNDES ou
só do PAC. Tem de ser prioridade absoluta nacional. O país
precisa lançar o "super-PAC".
Se os investimentos em infra-estrutura avançarem, o país vai
assegurar taxas de crescimento
maiores que 5% ao ano e por
prazos longos.
FOLHA - A ameaça de recessão nos
EUA pode inibir o crescimento da indústria e do país neste ano?
GOMES DA SILVA - Eu sou daqueles que não acreditam que os
EUA já não importam mais para o mundo. Acredito que os
EUA importam, e muito, para o
mundo, apesar de não terem
mais a participação no PIB
mundial que tinham no passado. O mundo está muito interligado. É muito difícil acreditar
que a diminuição de atividade
de um país com a relevância
dos EUA não afete o resto do
mundo. Mas o fato é que o Brasil está muito mais bem preparado para enfrentar crises.
FOLHA - A crise recente enfrentada
pelas Bolsas internacionais e a do
Brasil pode afetar uma fonte de recursos para as empresas, o mercado
de capitais?
GOMES DA SILVA - Quando você
pega o valor de mercado das
empresas com papéis na Bolsa
de Nova York em um período
longo, você nota que é sempre
crescente, apesar de sempre
existirem períodos de queda.
Agora, se a pessoa está pensando em investir no mercado de
capitais para obter ganho no
curto prazo, é melhor não ir por
esse caminho. Mas, se pensar
no mercado de capitais como
uma fonte de financiamento de
longo prazo, não existe nada
melhor, é claro, se selecionar
bem os papéis. Se pensar no
curto prazo, aí é como um cassino, é perigoso.
FOLHA - Os empresários reunidos
no Iedi sentem falta de uma política
industrial para o Brasil?
GOMES DA SILVA - Nós sempre
defendemos no Iedi que o melhor instrumento de política industrial é o que abrange uma
política tributária que reduza o
peso do tributo na produção, no
emprego e no investimento.
Que o país tenha também uma
política monetária que seja
compatível com a de nossos
competidores e uma política
cambial inteligente. Esse é o
tripé básico de uma política industrial. Só que há distorções
nesse tripé. Nós sempre tivemos uma política monetária
menos favorável à produção do
que a de nossos competidores.
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