São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

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País precisa de "super-PAC", diz empresário

Para Josué Gomes da Silva, presidente do Iedi, Brasil tem de ter projeto "mais ousado" de investimento em infra-estrutura

Executivo diz que, somente com investimento "maciço", economia poderá crescer mais do que 5% ao ano e por períodos mais longos

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Josué Gomes da Silva, presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e da Coteminas, diz que o país tem de comemorar o crescimento de 6% da produção industrial no ano passado. Mas, para que essa expansão se mantenha, na sua avaliação, o país terá de executar um projeto nacional ousado de investimentos em infra-estrutura.
"O importante é o Brasil ter um programa de investimento maciço em infra-estrutura, algo mais ousado do que o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. É preciso lançar o "super-PAC"." Para ele, com mais investimentos em infra-estrutura, o Brasil pode crescer mais do que 5% ao ano e por períodos mais longos. Uma possível recessão nos Estados Unidos, segundo Gomes da Silva, pode, sim, atingir outros países, Brasil incluído. "Os países estão interligados numa economia globalizada.
Mas o impacto no Brasil não será nada dramático, até porque a economia brasileira está mais preparada do que no passado para enfrentar crises", afirma o presidente da Coteminas, que anunciou demissões ontem.

 

FOLHA - A produção industrial cresceu 6% em 2007, apesar de muitos empresários se queixarem das políticas de juros e câmbio do governo. Esse crescimento da indústria surpreendeu e pode se repetir neste ano?
JOSUÉ GOMES DA SILVA -
O país todo e o governo devem comemorar os resultados da indústria em 2007, que garante um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro mais próximo de 5,5% em 2007. É cedo para fazer estimativa. Mas o fato de 2007 ter terminado muito bem, dá indicação de que 2008 será um ano positivo. O crescimento expressivo da produção de bens de capital em 2007 demonstra que o governo não precisa se preocupar com a expansão do consumo, já que os investimentos que estão sendo feitos vão atender ao consumo e evitar pressões inflacionárias.

FOLHA - E as importações também estão contribuindo para dar conta do consumo no mercado interno?
GOMES DA SILVA -
O crescimento das importações não é algo para ser comemorado, já que está nos custando alguns pontos a menos no crescimento do PIB. As importações estão crescendo muito mais rapidamente do que as exportações. Porém, é óbvio que essas importações diminuem a pressão sobre a inflação. Ninguém, portanto, precisa ficar preocupado com o crescimento do consumo e optar por uma política monetária mais restritiva, o que pode levar a uma alta dos juros.

FOLHA - O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para compensar o fim da CPMF já não deve inibir o consumo em alguns setores?
GOMES DA SILVA -
Essa medida onerou o crédito para alguns setores, e isso pode contribuir para o arrefecimento desses setores, como o automobilístico, que é um dos mais dependentes de financiamento. Aliás, esse é mais um motivo para que o governo não pense em elevar juros. O Brasil já possui uma taxa de juros que está entre as mais elevadas do mundo, e isso, sim, é grave e preocupante.

FOLHA - E o real valorizado também é outro obstáculo a ser enfrentado?
GOMES DA SILVA -
Sim, pois houve inversão da balança comercial dos produtos industriais. Em 2006, a balança comercial de produtos manufaturados apresentou superávit de US$ 5 bilhões e, em 2007, déficit de US$ 7 bilhões. Isso se inverteu por causa da taxa de câmbio. Estamos preocupados também com o fato de a produção de bens intermediários ter crescido, em 2007, menos do que a produção média da indústria. Isso significa já uma porosidade que vai sendo criada na cadeia industrial brasileira, e isso não é bom para o país. Os setores de bens duráveis e não-duráveis também poderiam ter crescido mais. Quer dizer que o crescimento de consumo desses produtos está sendo atendido pela importação.

FOLHA - O BNDES divulgou nesta semana números recordes de desembolsos, especialmente para o setor de infra-estrutura. O que o sr. achou dos números?
GOMES DA SILVA -
Os números são positivos e o BNDES é uma das instituições que permitem que o Brasil se desenvolva. Agora, infra-estrutura não deve ser alguma coisa só do BNDES ou só do PAC. Tem de ser prioridade absoluta nacional. O país precisa lançar o "super-PAC". Se os investimentos em infra-estrutura avançarem, o país vai assegurar taxas de crescimento maiores que 5% ao ano e por prazos longos.

FOLHA - A ameaça de recessão nos EUA pode inibir o crescimento da indústria e do país neste ano?
GOMES DA SILVA -
Eu sou daqueles que não acreditam que os EUA já não importam mais para o mundo. Acredito que os EUA importam, e muito, para o mundo, apesar de não terem mais a participação no PIB mundial que tinham no passado. O mundo está muito interligado. É muito difícil acreditar que a diminuição de atividade de um país com a relevância dos EUA não afete o resto do mundo. Mas o fato é que o Brasil está muito mais bem preparado para enfrentar crises.

FOLHA - A crise recente enfrentada pelas Bolsas internacionais e a do Brasil pode afetar uma fonte de recursos para as empresas, o mercado de capitais?
GOMES DA SILVA -
Quando você pega o valor de mercado das empresas com papéis na Bolsa de Nova York em um período longo, você nota que é sempre crescente, apesar de sempre existirem períodos de queda. Agora, se a pessoa está pensando em investir no mercado de capitais para obter ganho no curto prazo, é melhor não ir por esse caminho. Mas, se pensar no mercado de capitais como uma fonte de financiamento de longo prazo, não existe nada melhor, é claro, se selecionar bem os papéis. Se pensar no curto prazo, aí é como um cassino, é perigoso.

FOLHA - Os empresários reunidos no Iedi sentem falta de uma política industrial para o Brasil?
GOMES DA SILVA -
Nós sempre defendemos no Iedi que o melhor instrumento de política industrial é o que abrange uma política tributária que reduza o peso do tributo na produção, no emprego e no investimento. Que o país tenha também uma política monetária que seja compatível com a de nossos competidores e uma política cambial inteligente. Esse é o tripé básico de uma política industrial. Só que há distorções nesse tripé. Nós sempre tivemos uma política monetária menos favorável à produção do que a de nossos competidores.


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