São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

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Textos de Doha vêm sem mudança em propostas

Revisão poderia estimular negociações paradas

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Esperados como possível base para alavancar as estancadas negociações comerciais da Rodada Doha, os textos revisados sobre agricultura e produtos industriais foram divulgados ontem sem mudanças nos números originais. Nos temas mais espinhosos -reduções de tarifas industriais nos países em desenvolvimentos e cortes de subsídios agrícolas nos desenvolvidos-, mantêm as cifras divulgadas em julho, que levaram ao impasse atual.
Os documentos foram bem recebidos pela diplomacia brasileira em Genebra, que os consideraram uma boa base para que a negociação suba um estágio, e seja encaminhada aos governos. "Nunca estivemos tão próximos de definir a proposta sobre agricultura", disse um negociador brasileiro à Folha. "Não quer dizer que a Rodada Doha esteja próxima de ser concluída, pois isso depende de fatores políticos, entre eles a sucessão presidencial americana. Mas dá margem para a negociação de um acordo."
O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, pretende usar os documentos para acelerar as negociações e convocar uma reunião ministerial para abril. Ele declarou ontem que os textos revisados "refletem o progresso" desde julho, mas "algumas áreas" exigem mais trabalho.
O neozelandês Crawford Falconer, mediador das discussões sobre agricultura, admitiu que o texto não contém "grandes surpresas". Mas representa um avanço em relação a julho. O novo texto tem as propostas apresentadas durante 150 horas de negociações mantidas por Falconer nos últimos sete meses com os países-membros.
A Rodada Doha, lançada em 2001 com metas ambiciosas de abertura comercial para 2005, está estagnada há meses com a disputa entre países em desenvolvimento e desenvolvidos.
As nações emergentes, lideradas por Brasil, Índia e África do Sul, exigem que as ricas como Estados Unidos e União Européia reduzam seu protecionismo agrícola. Os países ricos endurecem, pedindo abertura dos mercados emergentes com corte de tarifas industriais e liberalização dos serviços.
"Todos sabem que essas são decisões políticas", disse o embaixador neozelandês, que marcou para sexta uma reunião para discutir a proposta com os membros.
O texto de Falconer mantém o teto de subsídios agrícolas americanos entre US$ 13 bilhões e 16,4 bilhões anuais. O G20, grupo de emergentes liderado pelo Brasil, não ajuda acima de US$ 11 bilhões. Mas aceita o patamar menor proposto pela OMC, de US$ 13 bilhões.
Para o embaixador canadense Dan Stephenson, mediador das negociações de produtos industriais, é prematuro pensar em uma reunião ministerial. "Ainda há muito trabalho a ser feito." Ele manteve inalterados os coeficientes de cortes tarifários propostos em julho.
O texto propõe coeficientes entre 19 e 23 para os países em desenvolvimento, o que significa redução tarifária entre 55% e 60%, o que o Itamaraty considera excessivo. Na chamada "fórmula suíça", quanto menor o coeficiente, maior é o corte. Para os países desenvolvidos, os coeficientes variam de 8 a 9.


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