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Textos de Doha vêm sem mudança em propostas
Revisão poderia estimular negociações paradas
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Esperados como possível base para alavancar as estancadas
negociações comerciais da Rodada Doha, os textos revisados
sobre agricultura e produtos
industriais foram divulgados
ontem sem mudanças nos números originais. Nos temas
mais espinhosos -reduções de
tarifas industriais nos países
em desenvolvimentos e cortes
de subsídios agrícolas nos desenvolvidos-, mantêm as cifras divulgadas em julho, que
levaram ao impasse atual.
Os documentos foram bem
recebidos pela diplomacia brasileira em Genebra, que os consideraram uma boa base para
que a negociação suba um estágio, e seja encaminhada aos governos. "Nunca estivemos tão
próximos de definir a proposta
sobre agricultura", disse um
negociador brasileiro à Folha.
"Não quer dizer que a Rodada
Doha esteja próxima de ser
concluída, pois isso depende de
fatores políticos, entre eles a
sucessão presidencial americana. Mas dá margem para a negociação de um acordo."
O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, pretende usar os documentos para acelerar as negociações e convocar uma reunião ministerial para abril. Ele
declarou ontem que os textos
revisados "refletem o progresso" desde julho, mas "algumas
áreas" exigem mais trabalho.
O neozelandês Crawford
Falconer, mediador das discussões sobre agricultura, admitiu
que o texto não contém "grandes surpresas". Mas representa
um avanço em relação a julho.
O novo texto tem as propostas
apresentadas durante 150 horas de negociações mantidas
por Falconer nos últimos sete
meses com os países-membros.
A Rodada Doha, lançada em
2001 com metas ambiciosas de
abertura comercial para 2005,
está estagnada há meses com a
disputa entre países em desenvolvimento e desenvolvidos.
As nações emergentes, lideradas por Brasil, Índia e África
do Sul, exigem que as ricas como Estados Unidos e União
Européia reduzam seu protecionismo agrícola. Os países ricos endurecem, pedindo abertura dos mercados emergentes
com corte de tarifas industriais
e liberalização dos serviços.
"Todos sabem que essas são
decisões políticas", disse o embaixador neozelandês, que
marcou para sexta uma reunião para discutir a proposta
com os membros.
O texto de Falconer mantém
o teto de subsídios agrícolas
americanos entre US$ 13 bilhões e 16,4 bilhões anuais. O
G20, grupo de emergentes liderado pelo Brasil, não ajuda acima de US$ 11 bilhões. Mas aceita o patamar menor proposto
pela OMC, de US$ 13 bilhões.
Para o embaixador canadense Dan Stephenson, mediador
das negociações de produtos
industriais, é prematuro pensar em uma reunião ministerial. "Ainda há muito trabalho a
ser feito." Ele manteve inalterados os coeficientes de cortes
tarifários propostos em julho.
O texto propõe coeficientes
entre 19 e 23 para os países em
desenvolvimento, o que significa redução tarifária entre 55%
e 60%, o que o Itamaraty considera excessivo. Na chamada
"fórmula suíça", quanto menor
o coeficiente, maior é o corte.
Para os países desenvolvidos,
os coeficientes variam de 8 a 9.
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