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OPINIÃO ECONÔMICA
Crescimento
BENJAMIN STEINBRUCH
Afinal surgiram os primeiros sinais de que o governo Lula se deu conta da urgência
de recolocar o país na rota do
crescimento econômico e da criação de empregos.
É justo reconhecer e comemorar
essas evidências, ainda que elas
tenham sido desencadeadas pela
crise política e pelas repercussões
da constatação matemática de
que o Brasil viveu uma recessão
em 2003.
Houve uma sucessão de iniciativas que já deveriam ter sido tomadas havia muito tempo. Na
quarta-feira, Lula ligou para o
presidente George W. Bush. Pediu
ajuda para convencer o FMI de
que os investimentos em infra-estrutura não devem ser considerados no cálculo do superávit primário. Depois falou sobre isso
também com o presidente da
França, Jacques Chirac, com o
chanceler alemão, Gerhard
Schröder, e com os primeiros-ministros da Espanha, José María
Aznar, e do Reino Unido, Tony
Blair.
Parece uma tecnicalidade que
não deveria ocupar o tempo de
presidentes, mas não é. Se o FMI
aceitar a proposição, o Brasil poderá ter mais recursos disponíveis, alguns bilhões de reais por
ano, para rodovias, ferrovias,
portos, usinas de energia e outras
obras urgentes para melhorar a
infra-estrutura. Deficiências nesses setores dificultam a expansão
da economia e, particularmente,
das exportações. Essas obras também criarão postos de trabalho.
Há 10 milhões de brasileiros desempregados.
Na mesma quarta-feira, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, divulgou detalhes de
um projeto de lei com medidas
para estimular a construção civil,
por meio da injeção de crédito no
mercado imobiliário. Tradicional
absorvedora de mão-de-obra, a
construção civil teve queda de
8,6% em sua atividade no ano
passado e dispensou 38 mil trabalhadores. Se as previsões do governo forem corretas, o pacote poderá abrir 1,4 milhão de vagas.
O próprio Palocci retomou a
idéia de adoção do "superávit anticíclico", outra tecnicalidade que
dormia nas gavetas ministeriais e
que, na prática, pode dar fôlego à
retomada do investimento público. Esse mecanismo permite ao
governo aumentar os gastos
quando o desempenho da economia estiver abaixo do previsto e
economizar quando o PIB superar a expectativa.
Lula também reuniu os presidentes de estatais -BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil e
Petrobras- e pediu que eles acelerassem investimentos em infra-estrutura que possam ajudar a estimular ainda mais as exportações e, em conseqüência, criar
empregos.
Pode-se fazer muito mais. O setor de turismo, por exemplo, precisa receber atenção especial, porque é grande gerador de empregos. Medidas específicas para reduzir a carga tributária de outros
setores intensivos em mão-de-obra também podem ser tomadas
em caráter de emergência.
E há, finalmente, a mais importante de todas as atitudes, que cabe ao Banco Central. Num período de demanda totalmente desaquecida, o BC continua assombrado com o velho e cansado dragão da inflação. Não existem argumentos para justificar neste
mês, outra vez, a manutenção da
Selic em 16,5%, que obriga a economia a viver com uma das mais
altas taxas reais de juros do mundo.
Se o BC continuar empacado, as
iniciativas técnicas e microeconômicas terão pouco efeito duradouro. De qualquer forma, já são
um começo e trazem esperanças.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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