São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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OPINIÃO ECONÔMICA

Crescimento

BENJAMIN STEINBRUCH

Afinal surgiram os primeiros sinais de que o governo Lula se deu conta da urgência de recolocar o país na rota do crescimento econômico e da criação de empregos.
É justo reconhecer e comemorar essas evidências, ainda que elas tenham sido desencadeadas pela crise política e pelas repercussões da constatação matemática de que o Brasil viveu uma recessão em 2003.
Houve uma sucessão de iniciativas que já deveriam ter sido tomadas havia muito tempo. Na quarta-feira, Lula ligou para o presidente George W. Bush. Pediu ajuda para convencer o FMI de que os investimentos em infra-estrutura não devem ser considerados no cálculo do superávit primário. Depois falou sobre isso também com o presidente da França, Jacques Chirac, com o chanceler alemão, Gerhard Schröder, e com os primeiros-ministros da Espanha, José María Aznar, e do Reino Unido, Tony Blair.
Parece uma tecnicalidade que não deveria ocupar o tempo de presidentes, mas não é. Se o FMI aceitar a proposição, o Brasil poderá ter mais recursos disponíveis, alguns bilhões de reais por ano, para rodovias, ferrovias, portos, usinas de energia e outras obras urgentes para melhorar a infra-estrutura. Deficiências nesses setores dificultam a expansão da economia e, particularmente, das exportações. Essas obras também criarão postos de trabalho. Há 10 milhões de brasileiros desempregados.
Na mesma quarta-feira, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, divulgou detalhes de um projeto de lei com medidas para estimular a construção civil, por meio da injeção de crédito no mercado imobiliário. Tradicional absorvedora de mão-de-obra, a construção civil teve queda de 8,6% em sua atividade no ano passado e dispensou 38 mil trabalhadores. Se as previsões do governo forem corretas, o pacote poderá abrir 1,4 milhão de vagas.
O próprio Palocci retomou a idéia de adoção do "superávit anticíclico", outra tecnicalidade que dormia nas gavetas ministeriais e que, na prática, pode dar fôlego à retomada do investimento público. Esse mecanismo permite ao governo aumentar os gastos quando o desempenho da economia estiver abaixo do previsto e economizar quando o PIB superar a expectativa.
Lula também reuniu os presidentes de estatais -BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil e Petrobras- e pediu que eles acelerassem investimentos em infra-estrutura que possam ajudar a estimular ainda mais as exportações e, em conseqüência, criar empregos.
Pode-se fazer muito mais. O setor de turismo, por exemplo, precisa receber atenção especial, porque é grande gerador de empregos. Medidas específicas para reduzir a carga tributária de outros setores intensivos em mão-de-obra também podem ser tomadas em caráter de emergência.
E há, finalmente, a mais importante de todas as atitudes, que cabe ao Banco Central. Num período de demanda totalmente desaquecida, o BC continua assombrado com o velho e cansado dragão da inflação. Não existem argumentos para justificar neste mês, outra vez, a manutenção da Selic em 16,5%, que obriga a economia a viver com uma das mais altas taxas reais de juros do mundo.
Se o BC continuar empacado, as iniciativas técnicas e microeconômicas terão pouco efeito duradouro. De qualquer forma, já são um começo e trazem esperanças.


Benjamin Steinbruch, 50, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.

E-mail - bvictoria@psi.com.br


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