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CONTAGEM REGRESSIVA
País decide hoje se paga dívida de US$ 3,1 bilhões com a instituição, para a qual houve avanços
ontem
Argentina envia contraproposta ao FMI
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A Argentina enviou contraproposta a uma nova carta de revisão
ofertada ontem pelo FMI (Fundo
Monetário Internacional) e adiou
para hoje a decisão sobre o pagamento da dívida de US$ 3,1 bilhões em vencimento com o organismo. O conteúdo dos dois documentos não foi divulgado.
Na sexta-feira, o Fundo havia
enviado um texto com proposta
de revisão do acordo para a Argentina, que foi contestado no sábado pelo país. Ontem, com o novo documento, a expectativa do
Fundo era que fosse possível um
acordo, evitando o risco de a Argentina não pagar a parcela.
O Fundo procurou não vincular
a revisão à ameaça argentina e informou que houve avanços nas
negociações com o país durante a
tarde de ontem.
O FMI e a Argentina assinaram,
em setembro de 2003, um acordo
que previa empréstimos totais de
US$ 13,3 bilhões ao país em três
anos. Os créditos serão desembolsados paulatinamente, a cada revisão do acordo. A intenção do
Fundo, ao fechar o acordo, era
pressionar periodicamente o país
a aceitar novas exigências.
O programa foi montado de
modo a que o Fundo tivesse datas
coincidentes entre os pagamentos
do governo argentino ao FMI e as
revisões periódicas que permitem
a continuidade dos desembolsos.
Após receber o documento, o
presidente Néstor Kirchner se
reuniu com funcionários do governo para definir que posição
adotar. Durante o dia, Kirchner
havia ratificado sua posição de
não honrar o pagamento sem um
sinal do Fundo indicando que a
revisão do acordo seria aprovada.
"Já está tudo dito", disse, ao ser
questionado se faria ou não o pagamento. A posição do Fundo é
que a atitude do presidente "não
ajuda" no relacionamento entre a
instituição e a Argentina.
Obstáculo
Com as metas fiscais fixadas para 2003 cumpridas pela Argentina, o principal obstáculo para a
aprovação do acordo é o programa de reestruturação da dívida do
país, de US$ 88 bilhões, com credores privados, a maioria estrangeiros.
Na última sexta-feira, a diretora-gerente interina do FMI, Anne
Krueger, apresentou ao governo
argentino uma lista de exigências
relacionadas à questão da reestruturação que, se cumpridas, destravariam a aprovação do acordo.
A primeira delas foi a publicação do decreto de designação do
sindicato de bancos que atuarão
como organizadores da reestruturação da dívida argentina.
Esperava-se que o governo assinasse o decreto ontem como um
sinal de aproximação com o Fundo, mas, até o fechamento desta
edição, isso não ocorreu.
Outra exigência feita pelo FMI
foi o reconhecimento formal do
Comitê de Credores Argentinos
como negociador no processo de
reestruturação. O governo alega,
no entanto, que há mais de 20 comitês de credores e rejeita privilegiar apenas um deles.
O FMI exigiu ainda o estabelecimento de uma porcentagem "alta"
de participação de credores na
reestruturação. Recentemente, o
ministro Lavagna havia afirmado
que uma adesão entre 50% e 66%
seria suficiente para o governo.
Segundo o diário "Clarín", o
subsecretário de Tesouro dos
EUA, John Taylor, empenhou-se
na mediação do impasse entre a
Argentina e o FMI.
A tentativa de Taylor era que a
Argentina respondesse minimamente às exigências feitas pelo
Fundo e que esse, por sua vez, baixasse o nível das exigências.
Além de contar com a mediação
americana, o ministro Roberto
Lavagna também empreendeu
ontem uma maratona de telefonemas a representantes do G7
(grupo de países mais ricos do
mundo) e reuniu-se com o delegado do FMI no país, John Dodsworth.
A posição da Argentina de vincular a revisão do acordo ao pagamento da dívida com o Fundo
tem explicação. Kirchner tem impulsionado uma estratégia política - até agora, com sucesso -
de transformar o tema da dívida
em uma "causa nacional". O pagamento colocaria em jogo o respaldo popular construído pelo governo em torno da questão e poderia ser interpretado como uma
"traição" do presidente aos "interesses dos argentinos".
Analistas lembram, por outro
lado, que a Argentina tem pouco a
perder com intransigência com o
Fundo, já que praticamente não
conta com investimentos externos para garantir seu crescimento
econômico.
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