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OPINIÃO ECONÔMICA
Duas rainhas da Inglaterra
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Outro dia, folheando uma
revista sobre filosofia, deparei-me com esta frase de Nietzsche: "A verdade é feia, mas temos
a arte para não sucumbir a ela".
Maravilhosa, não? Em passagens
como essa é que se vê o quanto o
pessimismo de Nietzsche é superior, mais interessante do que o de
Schopenhauer, por exemplo.
Desculpe a divagação, leitor.
Não era sobre isso que queria escrever hoje. Meu tema é prosaico,
como já insinua o título. O primeiro parágrafo ficou solto. Paciência.
Prossigo. Enquanto a nossa rainha da Inglaterra visita a versão
original, meia dúzia de tecnocratas bisonhos continua dando as
cartas na economia do país. Lula
pode espernear à vontade. O Banco Central faz o que bem entende.
É independente "de facto" -e como nunca!
Neste momento, o famigerado
Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central está
reunido em Brasília. Famigerado? Pequeno esclarecimento: escrevo sempre de véspera e tenho
de entregar o artigo até 18h,
18h30, no máximo. Geralmente, o
Copom anuncia a nova taxa Selic
depois desse horário. Assim, corro
o risco de que a diretoria do BC
sofra um acesso momentâneo de
lucidez, diminua a taxa de juro
de forma mais acentuada e arruíne o meu artigo. Mas o risco é pequeno.
Uma coisa é certa: o Brasil continuará liderando, por larga margem e por bom tempo, o campeonato mundial da usura. Continuará imenso o diferencial de juros entre o Brasil e o resto do
mundo.
Não por acaso, o real foi, de longe, a moeda que mais se valorizou
em relação ao dólar nos últimos
12 meses, considerando um conjunto de 35 moedas dos principais
países desenvolvidos e mercados
emergentes. Na verdade, nesse período a grande maioria das moedas registrou desvalorização em
relação ao dólar. Só duas valorizaram-se mais do que 10%: a do
Chile (11,9%) e a do Brasil (19%).
Em termos efetivos, portanto, a
apreciação do real é ainda maior
do que sugere a simples observação da taxa bilateral com o dólar.
Não tenha dúvida, leitor: o estrago será grande. Os efeitos negativos já estão aparecendo. Dados divulgados recentemente pelo
IBGE confirmaram a desaceleração das exportações, fruto da perda de competitividade dos produtos e dos serviços brasileiros. A taxa de crescimento do volume de
bens e serviços exportados, em
comparação com igual trimestre
do ano precedente, diminuiu de
16,2% no quarto trimestre de
2004 para 13,6% no primeiro trimestre de 2005, 12,9% no segundo
trimestre, 12,3% no terceiro e
8,1% no quarto. Com a persistência e o agravamento do problema
da sobrevalorização do real, a
perda de ritmo das exportações
está prosseguindo no início de
2006, como mostram os dados divulgados semanalmente pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
As exportações de manufaturados, que são normalmente mais
sensíveis aos movimentos da taxa
de câmbio, vêm experimentando
uma desaceleração firme e contínua desde o início de 2005, com a
taxa de crescimento em 12 meses
do quantum exportado caindo de
cerca de 28% para pouco mais de
9% no intervalo de um ano, segundo a Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior). A Funcex alertou para o fato de que a valorização do real
vem reduzindo gradualmente o
universo de produtos ainda capazes de obter boa rentabilidade
com a atividade exportadora.
Com isso, o crescimento das exportações está se concentrando
em um menor número de produtos. Entre janeiro de 2005 e janeiro de 2006, por exemplo, apenas
três produtos (petróleo, minério
de ferro e soja) responderam por
47% do crescimento total das exportações brasileiras.
Em alguns setores, a erosão da
competitividade tem levado ao fechamento de unidades de produção e a demissões de trabalhadores. Empresas importantes, inclusive de capital nacional, estão
transferindo atividades produtivas para outros países, em resposta às perdas provocadas pelo fortalecimento do real.
Barbaridade! Os países dinâmicos, que crescem de forma sustentada, combinam juros moderados
com câmbio depreciado.
O Brasil insiste em fazer o oposto.
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-Eaesp, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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