São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Copom mantém gradualismo e reduz taxa para 16,50%; dos 9 membros, 3 votaram por diminuição de um ponto

Sem consenso, BC corta juro em 0,75 ponto

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central deu continuidade ao processo gradual de corte nos juros e reduziu ontem a taxa Selic em 0,75 ponto percentual. Dentro da própria diretoria do BC, porém, a decisão não teve consenso: dos nove membros do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), seis votaram pela queda gradual e três preferiam uma diminuição de um ponto percentual.
Prevaleceu, portanto, a vontade da maioria. A partir de hoje, a Selic será fixada em 16,50% ao ano. A taxa irá vigorar até a próxima reunião do Copom, marcada para os dias 18 e 19 de abril. A medida foi anunciada por meio de uma nota, na qual o BC informou ter decidido dar "prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária".

6ª queda
Foi a sexta queda seguida da Selic, que, ainda assim, continua num nível mais elevado do que o observado no início do processo de alta dos juros conduzido pelo BC. Em setembro de 2004, quando os aumentos começaram, a Selic estava em 16% ao ano.
No final de 2005, quando os encontros do Copom eram mensais, os cortes eram de 0,5 ponto percentual cada um. A partir deste ano, as reuniões acontecem a cada seis semanas -agora, uma redução de 0,75 ponto equivale a um corte mensal de 0,5 ponto.
Foi a primeira reunião do Copom depois do anúncio, pelo IBGE, de que a economia brasileira cresceu somente 2,3% no ano passado. O número ficou bem longe da expansão média de 6,3% registrada pelos países emergentes em 2005, de acordo com estimativa do FMI (Fundo Monetária Internacional).
A alta dos juros promovida pelo BC é vista, dentro e fora do governo, como um dos principais responsáveis por essa desaceleração -em 2004, o Brasil cresceu 4,9%.
Ainda que a redução decidida ontem pelo Copom fosse de um um ponto percentual, os juros brasileiros continuariam entre os mais altos do mundo. A diferença é que um corte maior sinalizaria um compromisso maior do BC em estimular o crescimento, o que poderia reduzir os juros praticados no mercado financeiro e aumentar a confiança de consumidores e empresários no desempenho da economia.
Entre os que defendem uma queda mais acelerada da taxa Selic, o que se diz é que a inflação está sob controle, e isso permitiria um corte maior nos juros. No começo do ano os índices de preços chegaram a registrar uma ligeira alta, mas essa elevação foi creditada a fatores sazonais, que não devem prejudicar o cumprimento das metas do governo.
Além disso, o ainda elevado desemprego -cuja taxa chegou a 9,2% em janeiro, de acordo com o IBGE- e o próprio crescimento do PIB no ano passado seriam um indício de que a economia precisa de um impulso extra para retomar um crescimento mais forte neste ano.
Além disso, a queda do risco-país e da cotação do dólar, a redução da dívida externa e os resultados positivos alcançados pela balança comercial são outros fatores que mostrariam que a economia brasileira tem avançado nos últimos anos, e a taxa Selic deveria cair mais para acompanhar o ritmo dessa melhora.
Nas últimas semanas, porém, surgiram dois obstáculos a esse cenário predominantemente positivo. Um deles é a disparada do preço do álcool. Na reunião do Copom de janeiro, a diretoria do BC dizia esperar que a gasolina não sofresse nenhum reajuste neste ano.
No mês passado, porém, a decisão do governo de reduzir a quantidade de álcool misturada na gasolina levou a um aumento dos combustíveis. Essa situação pode se reverter caso os preços voltem a recuar quando tiver início a safra da cana-de-açúcar, mas o impacto que isso terá sobre a inflação ainda é incerto.
Além disso, tem ganhado força nos mercados financeiros internacionais a expectativa de que o processo de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos continue por mais tempo do que o inicialmente previsto. Diante disso, muitos investidores passaram a trocar suas aplicações em títulos de países emergentes por papéis do Tesouro norte-americanos, que ficaram mais rentáveis.
No Brasil, esse movimento ajudou a puxar para cima a cotação do dólar, que estava perto de R$ 2,10 até a semana passada e fechou ontem em R$ 2,186.


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