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COMUNICAÇÕES
Empresas contestam escolha do padrão japonês e oferta de fábrica e tecnologia; Nokia ameaça reduzir produção
Europeus cobram neutralidade na TV digital
ELVIRA LOBATO
EM SÃO PAULO
A informação de que o governo
escolheu o padrão japonês para a
implantação da TV digital, antecipada, ontem, pela Folha, provocou violenta reação das indústrias
européias reunidas em torno da
Coalizão DVB, fórum criado no
final do ano passado, por fabricantes de equipamentos, para
contrapor o lobby dos radiodifusores em favor do sistema japonês.
O presidente da Philips (uma
das gigantes européias que integram a coalizão), Marcos Magalhães, cobrou isenção do governo
na escolha do padrão e insinuou
que a notícia havia sido "plantada" pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa . Segundo ele, o
governo deve se portar como um
juiz, neutro. "O país tem de escolher se quer a democracia ou o
monopólio do espectro magnético; se quer beneficiar um grupo
econômico ou os cidadãos", disse
Magalhães, durante entrevista coletiva, no campus da USP (Universidade de São Paulo), onde foi
feita uma demonstração do funcionamento do sistema europeu.
Executivos das seis empresas
que formam a Coalizão DVB
-Nokia, Siemens, Rohde &
Schwarz, Thomson , ST Microeletronics e Philips- participaram
da demonstração que, segundo
afirmaram, tinha sido pedida pelo
próprio ministro Hélio Costa.
Diante do receio dos radiodifusores de que as companhias telefônicas tomem parte de seus mercados com a adoção do padrão
europeu, o presidente da Philips
sugeriu que o governo dê reserva
de mercado por dez anos aos radiodifusores para que façam a
transição para os novos modelos
de negócios criados pela convergência tecnológica.
O vice-presidente de Celulares
da Nokia, Cláudio Raupp, disse
que esteve anteontem com a ministra Dilma Roussef, da Casa Civil, em companhia do vice-presidente de Multimídia da empresa,
Mark Selby, e que ela teria lhes garantido que não havia decisão
quando ao modelo.
O presidente da Philips disse
que a discussão de escolha do padrão de TV digital só ganhou
transparência quando Dilma assumiu a coordenação, "há um par
de meses", e pediu que o processo
seja levado à consulta pública. Na
USP, as empresas procuraram
mostrar que o sistema europeu
atende aos requisitos determinados pelo governo.
Fábrica
Como a Folha divulgou ontem,
pesou, em favor dos japoneses a
expectativa de construção de uma
fábrica de semicondutores, que
envolveria investimentos da ordem de US$ 2 bilhões, e a promessa de transferência de tecnologia a
fabricantes nacionais. Os dois argumentos foram também contestados pelas indústrias européias.
O presidente da Rohde &
Schwarz, Heitor Vita, disse que o
Japão é um mercado fechado e
não iria transferir tecnologia para
o Brasil porque isso o transformaria em um potencial competidor
do Japão no futuro.
Já o presidente da Philips disse
não ver perspectiva para construção de uma fábrica de semicondutores no país pelos japoneses.
"O Brasil perdeu o trem da história dos semicondutores quando
decretou a reserva de mercado
quando a Secretaria Nacional de
Informática convidou as empresas estrangeiras a fechar suas fábricas no Brasil, no passado. Não
tem mais volta", afirmou. Ele disse que a Philips fechou uma fábrica de componentes em Recife, naquela ocasião.
Ele duvidou ainda que os japoneses se disponham a investir
US$ 2 bilhões nesse projeto no
Brasil, alegando que a construção
de uma indústria de semicondutores faz parte de uma plataforma
global, na qual a competitividade
depende de aspectos tributários,
logísticos e trabalhistas.
Nokia
O vice-presidente de Celulares
da Nokia, Cláudio Raupp, disse
que se a escolha for pelo padrão
japonês, a empresa não produzirá
aparelhos de telefone celular GSM
no Brasil com o sistema japonês,
porque o desenvolvimento de um
produto voltado apenas para um
país elevaria muito seu custo. A
Coalizão DVB diz que 74 países já
optaram pelo padrão europeu, ao
passo que o japonês só foi adotado pelo Japão até agora.
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