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Alta do PIB alcança expansão das empresas
Depois de anos crescendo muito abaixo do setor produtivo, economia converge para taxa de expansão das companhias
Commodities puxaram começo de recuperação das empresas, seguidas pelo
setor financeiro e depois pelo
consumo das famílias
Reuters
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Caminhão na mina de minério de ferro de Sossego, da Vale, uma das empresas que deram impulso ao atual ciclo de crescimento
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma China em gestação
dentro do Brasil, com taxas de
crescimento anual que passam
de 10% ao ano, pelo menos desde 2001. Uma elite de grandes
empresas brasileiras consegue
o feito mesmo com o crescimento baixo do passado recente do país, que só no ano passado ultrapassou os 5%. A novidade é que a expansão do PIB chegou à altura do avanço das empresas que iniciaram o mais recente ciclo de crescimento.
Estudo da consultoria Economática mostra que, enquanto o PIB crescia em torno de 3%
nos últimos anos, as empresas
abertas brasileiras do setor
produtivo tinham aumento vigoroso de mais de 6% em suas
receitas. Com uma expansão do
PIB entre 5,2% e 5,3% -o IBGE
divulga na quarta o dado oficial-, esses dois mundos voltam a se aproximar. Ou seja, o
crescimento vigoroso se espalha pela economia.
"Em longo prazo, o país não
pode crescer só no atacado. Essas diferenças tendem a se reequilibrar. Tudo isso agora converge para um crescimento
mais próximo e generalizado",
disse Fernando Exel, presidente da Economática.
Para Exel, há um "parentesco
distante" entre o crescimento
do PIB e o aumento da receita
das empresas, que permite a
comparação entre esses dois
universos. Ele lembra que as
primeiras empresas brasileiras
de "crescimento chinês" foram
exportadoras de commodities.
Depois, vieram os bancos e as
empresas de serviços financeiros. Na avaliação de Exel, a queda nos juros possibilitou a expansão do crédito, que agora
chega ao consumo das famílias
e se tornou um dos motores da
expansão do PIB.
No levantamento, as empresas do setor varejista elevaram
suas receitas em 13,32% em
2007 -o dobro da expansão de
6% esperada pela LCA Consultores e de 6,1% projetada pela
Tendências para o consumo
das famílias. No estudo, o investimento das maiores empresas -excluindo a Vale, que
comprou a canadense Inco por
US$ 15 bilhões- cresceu 10%,
pouco menos que os 13,5% previstos pela LCA e os 13,4% da
Tendências para a expansão do
nível de investimento do país.
O estudo leva em conta cerca
de cem empresas de capital
aberto que já divulgaram seus
resultados de 2007, mas desconsidera os bancos. Também
exclui companhias que passaram por mudanças relevantes,
como fusões e cisões.
"As grandes empresas são
mais eficientes e mais rápidas
para perceber essas oportunidades de crescimento. O setor
privado brasileiro é muito competente. Veja a Vale, que foi estatal durante anos, aonde ela
foi parar [após a privatização]?
Tem a Embraer, também. O capitalismo brasileiro, do ponto
de vista microeconômico, é
muito eficiente. A dinâmica
nossa é toda privada. A única
coisa que o governo fez foi acumular reservas e manter o controle da inflação", diz o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça
de Barros.
"Na história, as grandes empresas têm um papel fundamental para mover o crescimento e explicar algumas arrancadas. Em geral, as grandes
empresas têm entre seus fornecedores pequenas e médias.
Em alguns setores, as grandes
cresciam mais que o PIB, mas
estavam voltadas ou para a exportação ou para segmentos específicos. O que temos agora é
um crescimento interno baseado no consumo das famílias.
Todos os setores têm de crescer
para dar [expansão de] 5%", diz
João Sicsú, diretor de Estudos
Macroeconômicos do Ipea.
Motor chinês
Fora das fronteiras brasileiras, o motor da recuperação do
PIB no início da década veio
das exportações, especialmente de commodities minerais e
energéticas. A partir de 2001, a
China precisou importar insumos para suprir seu parque industrial. A escalada no preço de
commodities depois contaminou os alimentos, de que o Brasil é também produtor.
Para o país, a mudança trouxe uma enxurrada de dólares,
reequilibrou a taxa de câmbio,
aumentou a confiança na economia, possibilitou a queda nos
juros, aumentou o investimento privado e permitiu a expansão do crédito.
"A indústria brasileira começou a se olhar como fonte de
oferta para concorrer no mercado interno. Isso tem um efeito importante sobre a inflação e
permitiu ao BC baixar os juros.
Os bancos começaram a expandir o crédito. A combinação do
aquecimento industrial com
salário, emprego e crédito provocou um boom do consumo,
que estamos vivendo hoje", diz
Mendonça de Barros.
Para o ex-ministro Delfim
Netto, as importações tiveram
um papel fundamental para
alavancar a competitividade da
empresas nacionais voltadas ao
mercado interno."As importações trazem a competitividade,
novas tecnologias, novos produtos, novos nichos, criam necessidades e abrem a possibilidade de que os empresários nacionais passem a produzir também. As exportações são o instrumento para pagar as importações. Isso é que é processo de
substituição de importação."
Os economistas temem um
desaquecimento na China como fator para desestabilizar o
atual ciclo. "A inflação chinesa
pode levar a um aumento nos
juros que pode frear a economia, com reflexos no preço das
commodities. Como máquina
produtiva, o Brasil caminha
com seriíssimos problemas.
Falta implementar uma agenda
de reformas para ganhar competitividade", disse Exel.
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