São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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Alta do PIB alcança expansão das empresas

Depois de anos crescendo muito abaixo do setor produtivo, economia converge para taxa de expansão das companhias

Commodities puxaram começo de recuperação das empresas, seguidas pelo setor financeiro e depois pelo consumo das famílias

Reuters
Caminhão na mina de minério de ferro de Sossego, da Vale, uma das empresas que deram impulso ao atual ciclo de crescimento

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há uma China em gestação dentro do Brasil, com taxas de crescimento anual que passam de 10% ao ano, pelo menos desde 2001. Uma elite de grandes empresas brasileiras consegue o feito mesmo com o crescimento baixo do passado recente do país, que só no ano passado ultrapassou os 5%. A novidade é que a expansão do PIB chegou à altura do avanço das empresas que iniciaram o mais recente ciclo de crescimento.
Estudo da consultoria Economática mostra que, enquanto o PIB crescia em torno de 3% nos últimos anos, as empresas abertas brasileiras do setor produtivo tinham aumento vigoroso de mais de 6% em suas receitas. Com uma expansão do PIB entre 5,2% e 5,3% -o IBGE divulga na quarta o dado oficial-, esses dois mundos voltam a se aproximar. Ou seja, o crescimento vigoroso se espalha pela economia.
"Em longo prazo, o país não pode crescer só no atacado. Essas diferenças tendem a se reequilibrar. Tudo isso agora converge para um crescimento mais próximo e generalizado", disse Fernando Exel, presidente da Economática.
Para Exel, há um "parentesco distante" entre o crescimento do PIB e o aumento da receita das empresas, que permite a comparação entre esses dois universos. Ele lembra que as primeiras empresas brasileiras de "crescimento chinês" foram exportadoras de commodities. Depois, vieram os bancos e as empresas de serviços financeiros. Na avaliação de Exel, a queda nos juros possibilitou a expansão do crédito, que agora chega ao consumo das famílias e se tornou um dos motores da expansão do PIB.
No levantamento, as empresas do setor varejista elevaram suas receitas em 13,32% em 2007 -o dobro da expansão de 6% esperada pela LCA Consultores e de 6,1% projetada pela Tendências para o consumo das famílias. No estudo, o investimento das maiores empresas -excluindo a Vale, que comprou a canadense Inco por US$ 15 bilhões- cresceu 10%, pouco menos que os 13,5% previstos pela LCA e os 13,4% da Tendências para a expansão do nível de investimento do país.
O estudo leva em conta cerca de cem empresas de capital aberto que já divulgaram seus resultados de 2007, mas desconsidera os bancos. Também exclui companhias que passaram por mudanças relevantes, como fusões e cisões.
"As grandes empresas são mais eficientes e mais rápidas para perceber essas oportunidades de crescimento. O setor privado brasileiro é muito competente. Veja a Vale, que foi estatal durante anos, aonde ela foi parar [após a privatização]? Tem a Embraer, também. O capitalismo brasileiro, do ponto de vista microeconômico, é muito eficiente. A dinâmica nossa é toda privada. A única coisa que o governo fez foi acumular reservas e manter o controle da inflação", diz o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros.
"Na história, as grandes empresas têm um papel fundamental para mover o crescimento e explicar algumas arrancadas. Em geral, as grandes empresas têm entre seus fornecedores pequenas e médias. Em alguns setores, as grandes cresciam mais que o PIB, mas estavam voltadas ou para a exportação ou para segmentos específicos. O que temos agora é um crescimento interno baseado no consumo das famílias. Todos os setores têm de crescer para dar [expansão de] 5%", diz João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea.

Motor chinês
Fora das fronteiras brasileiras, o motor da recuperação do PIB no início da década veio das exportações, especialmente de commodities minerais e energéticas. A partir de 2001, a China precisou importar insumos para suprir seu parque industrial. A escalada no preço de commodities depois contaminou os alimentos, de que o Brasil é também produtor.
Para o país, a mudança trouxe uma enxurrada de dólares, reequilibrou a taxa de câmbio, aumentou a confiança na economia, possibilitou a queda nos juros, aumentou o investimento privado e permitiu a expansão do crédito.
"A indústria brasileira começou a se olhar como fonte de oferta para concorrer no mercado interno. Isso tem um efeito importante sobre a inflação e permitiu ao BC baixar os juros. Os bancos começaram a expandir o crédito. A combinação do aquecimento industrial com salário, emprego e crédito provocou um boom do consumo, que estamos vivendo hoje", diz Mendonça de Barros.
Para o ex-ministro Delfim Netto, as importações tiveram um papel fundamental para alavancar a competitividade da empresas nacionais voltadas ao mercado interno."As importações trazem a competitividade, novas tecnologias, novos produtos, novos nichos, criam necessidades e abrem a possibilidade de que os empresários nacionais passem a produzir também. As exportações são o instrumento para pagar as importações. Isso é que é processo de substituição de importação."
Os economistas temem um desaquecimento na China como fator para desestabilizar o atual ciclo. "A inflação chinesa pode levar a um aumento nos juros que pode frear a economia, com reflexos no preço das commodities. Como máquina produtiva, o Brasil caminha com seriíssimos problemas. Falta implementar uma agenda de reformas para ganhar competitividade", disse Exel.


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