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JOSÉ MÁRCIO CAMARGO
Que venha a recessão
Quanto menor a redução
do nível de atividade em
2008, maior a probabilidade
de que tal ocorra em 2009
DESDE SETEMBRO de 2007, o
Fed já reduziu os juros nos
EUA de 5,25% para 3% ao
ano. Nesse período, a inflação permaneceu em níveis elevados, acima
de 4% ao ano, mais que o dobro do
considerado confortável pela autoridade monetária. Essa política só se
justifica se, apesar da queda do juro,
os diretores do Fed estiverem esperando forte redução do nível de atividade, provavelmente recessão.
Com recessão, ou crescimento
muito baixo, a taxa de desemprego
subiria, os ganhos salariais e o custo
unitário do trabalho se reduziriam e,
como resultado, as pressões inflacionárias se acalmariam. Mas os preços
das principais commoditites, como
ferro, aço, alimentos e petróleo, continuam se acelerando, o que mostra
que há excesso de demanda por elas
no mundo. Porém, se tivermos recessão na maior economia do planeta, a expectativa de excesso de demanda não se justificaria.
Diante desse comportamento do
mercado de commodities, cabe perguntar: se a economia mundial efetivamente não apresentar forte desaceleração, qual o cenário para os
próximos anos? Esse cenário poderá
se materializar em duas condições:
1) se a desaceleração da economia
dos EUA for menor que o esperado
pelo Fed, ou não ocorrer; 2) ou, se,
ainda que ela aconteça, o crescimento do resto do mundo for suficiente
para compensá-la, mantendo a demanda por commodities em níveis
elevados. Ainda que nenhum desses
cenários pareça muito provável, o
comportamento dos mercados de
commodities sugere que eles devem
ser analisados com cuidado.
Caso a desaceleração da economia
americana seja amena ou inexistente, os efeitos esperados sobre o mercado de trabalho não se farão sentir
e, com as baixas taxas de desemprego e a alta das commodities, principalmente petróleo e alimentos, as
pressões inflacionárias deverão se
intensificar no futuro. Nesse caso, já
no segundo semestre o Fed se veria
em uma posição delicada, com a economia crescendo, ainda que a taxas
baixas, a taxa de inflação acima do
desejado e as pressões inflacionárias
cada vez mais fortes. Como resultado, iria se ver forçado a fazer forte reversão da política de afrouxamento
monetário, produzindo uma desaceleração da economia em 2009.
No segundo cenário, caso o crescimento do resto do mundo seja suficiente para compensar a desaceleração americana, isso só seria possível
com a manutenção do crescimento
chinês. Nesse caso, os preços das
commodities continuarão em sua
trajetória de aceleração, e as pressões inflacionárias mundiais, em especial na China, iriam se exacerbar
ao longo de 2008. O resultado seria
uma retomada na trajetória de aumento dos juros mundiais já no segundo semestre deste ano. A questão é com que rapidez isso se daria, o
que iria depender da intensidade da
aceleração inflacionária. Quanto
mais fortes forem as pressões inflacionárias, mais rapidamente os juros teriam que ser elevados e maiores seriam os efeitos sobre a atividade. Para o Brasil, esse seria o pior cenário. Levaria a queda dos preços
das commodities, aumento do déficit em transações correntes, saída de
capitais, desvalorização cambial,
pressão inflacionária, aumento das
taxas de juros e menos crescimento.
Em outras palavras, caso a economia mundial não apresente a desaceleração esperada em 2008, poderemos ver tal desaceleração em
2009, devido ao forte aperto monetário para reduzir as pressões inflacionárias induzidas pelo afrouxamento de 2007/2008. Ou seja,
quanto menor a redução do nível de
atividade em 2008, maior a probabilidade de que tal ocorra em 2009.
Para o Brasil, quanto mais cedo, melhor.
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO, professor do Departamento de
Economia da PUC/RJ, e sócio da Tendências Consultoria
Integrada.
Excepcionalmente, hoje, a coluna de JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN não é publicada.
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