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Diretor da Anatel apóia união BrT-Oi e prevê 3 grandes teles
Para Pedro Jaime Ziller, movimento de consolidação das empresas é natural e necessário para a sobrevivência delas
Diretor da agência estima que mudanças na legislação
que poderão permitir compra da BrT pela Oi deverão ficar
prontas entre junho e agosto
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na avaliação do engenheiro
Pedro Jaime Ziller, 62, diretor
da Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações), as mudanças na legislação que poderão
permitir a compra da Brasil Telecom pela Oi (ex-Telemar) deverão ficar prontas, para análise do Ministério das Comunicações e da Presidência da República, entre junho e agosto.
Para Ziller, que já foi diretor
da Fittel (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações, ligada à CUT),
o movimento de consolidação
das empresas é natural. Em entrevista exclusiva à Folha, ele
disse que, no Brasil, deverão
restar três grandes grupos oferecendo ao consumidor pacotes com vários serviços (telefonia fixa e móvel, internet e TV).
A pedido das empresas e do
Ministério das Comunicações,
a Anatel está analisando modificações no PGO (Plano Geral
de Outorgas), documento que
define as áreas de atuação de
cada empresa e, na sua forma
atual, impede que uma concessionária de telefonia fixa compre outra.
FOLHA - Como o senhor avalia as
mudanças na regulamentação do
setor de telefonia, pedidas pelo Ministério das Comunicações? Houve
recomendação específica para suprimir dois artigos do PGO, além de
outros pedidos mais genéricos. É o
momento de fazer isso?
PEDRO JAIME ZILLER - Não concordo que veio coisa específica do
ministério. A partir de uma carta da Abrafix [associação das teles], veio um documento que
colocou algumas informações
do que ele acha. E disse o tempo
todo que era sob julgamento da
Anatel, de acordo com aquilo
que a Anatel entender. Houve
sugestão do ministério para
mexer em algumas coisas, mas
não quer dizer que é para mexer. A Lei Geral de Telecomunicações diz que o PGO deve ser
revisto periodicamente pela
Anatel para que garanta competição e universalização. A
gente vai analisar como é que
deve ser feito.
FOLHA - Mas o governo pede especificamente supressão dos artigos 7
e 14 do PGO...
ZILLER - Em uma análise que
ele [ministério] fez do PGO,
imagina que por ali resolve uma
série de problemas. Mas tem
que ser analisado o contexto
como um todo. A partir de um
ofício do ministro, imediatamente a Anatel se mexe. Tem
um grupo de trabalho em cima
disso.
FOLHA - Como é a tramitação desse processo?
ZILLER - Um grupo estuda tecnicamente, com todas as implicações, e faz uma proposta, que
passa por uma consulta interna
na Anatel. Depois passa para a
Procuradoria, para ver se não
há ilegalidade. É sorteado um
conselheiro, que vira relator da
matéria. Ele faz as considerações dele, muda o que achar
que tem que mudar. Depois, o
conselho diretor aprova um documento para ir a consulta pública. É um documento proposto. Aí, a sociedade contribui.
FOLHA - Como são analisadas as
contribuições?
ZILLER - A área técnica recebe o
material todo e faz considerações. Ela é obrigada a responder a todas as contribuições.
Informar se aceita ou não e os
motivos. Uma nova proposta é
feita, novamente passa pela
Procuradoria e é colocada no
conselho. O detalhe é que, depois da consulta pública, só pode ser mexido aquilo que foi objeto de contribuição.
FOLHA - E depois que o conselho
aprova o texto final, o que acontece?
ZILLER - Passa pelo conselho
consultivo, que dá um parecer,
que é anexado ao que foi aprovado pela Anatel. Isso é encaminhado ao Ministério das Comunicações e daí para o presidente da República, que faz um
decreto.
FOLHA - O que a Anatel faz, então,
é uma sugestão de mudança, que
pode ou não ser acatada pelo presidente da República?
ZILLER - Exatamente. O governo pode decidir que não quer a
mudança sugerida pela Anatel.
O decreto é expressão de vontade do presidente. Se o que a
Anatel preparar estiver em desacordo com o que o presidente
pensa, evidentemente ele pode
não publicar o decreto. Agora,
se for emitir um decreto, tem
que passar por aqui.
FOLHA - Qual a fase atual do processo?
ZILLER - Estamos na fase de estudos. Isso tem dez dias.
FOLHA - Quanto tempo leva esse
processo?
ZILLER - Normalmente, a gente
procura fazer o mais rápido
possível. Eu acho que de quatro
a seis meses é um prazo razoável para concluir.
FOLHA - Para um processo complicado como mudar o PGO, não pode
levar mais tempo?
ZILLER - Essas coisas, apesar de
toda a complexidade, não têm
novidade nenhuma. Nós estamos analisando há muito tempo. Você tem uma situação no
mundo que estamos acompanhando.
FOLHA - Já existe um entendimento de que é preciso mudar a lei, porque as mudanças já aconteceram do
ponto de vista prático, de consolidação de empresas?
ZILLER - Nos Estados Unidos,
na década de 80, uma grande
empresa foi dividida em sete
menores, as "baby bells". E fizeram outras três empresas de
longa distância. Passou o tempo e hoje nós temos três grandes empresas nos Estados Unidos: Sprint, Vodafone e AT&T.
O Brasil tem um PIB per capita
menor, menos habitantes e
menor capacidade de investimento. Por que nós vamos ter
um monte de empresas? Com
uma tecnologia que exige muito investimento, tem que ter
bala na agulha para investir. Isso exige empresas poderosas.
Você não consegue manter
uma empresa em permanente
evolução sem ter bala na agulha.
FOLHA - Qual seria o cenário razoável para o Brasil?
ZILLER - Hoje, você tem a TIM,
a Embratel, a Telefônica/Vivo,
a Oi e a Brasil Telecom. São cinco grandes grupos, mais a
CTBC, que é um grupo razoável. Você tem seis grupos
atuando no Brasil com áreas razoáveis. Eu não acredito que a
gente passe de três.
FOLHA - Três grupos ofertando
múltiplos serviços, fixo, móvel, internet e TV?
ZILLER - Sem dúvida nenhuma.
TV em um futuro não muito
próximo, porque tem uma lei
[Lei do Cabo, que impede as teles de oferecerem TV por assinatura por cabo]. Mas as coisas
estão configuradas, você olha o
mercado. Se você tem a Net
com a Telmex e a TVA com a
Telefônica, é razoável que isso
aconteça.
FOLHA - Dado o movimento de fusões no mercado e de evolução tecnológica, o PGO ficou "anacrônico",
como o ministério definiu?
ZILLER - A carta da Abrafix e a
carta do ministério catalisaram
uma coisa que a Anatel tinha
que estar fazendo. E estava fazendo, observando. De repente,
veio uma carta que acelerou o
processo de rever o PGO. Ou
pode ser que a minha visão esteja errada e não seja para rever.
FOLHA - Mas por trás da carta há
uma conjuntura político-econômica, que é a possibilidade da compra
da Brasil Telecom pela Oi, e aí o governo se colocou como interessado
na possibilidade de haver empresa
de capital nacional...
ZILLER - Isso aí, esse interesse
do mercado de fazer isso, agilizou o processo.
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