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Para Nossa Caixa, compra de bancos privados pelo BB "é equívoco"
Presidente da instituição, que a partir de amanhã passa ao comando do Banco do Brasil, afirma ser contra a ampliação da presença do Estado no segmento
Eduardo Knapp - 7.jan.08/Folha Imagem
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O presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Melo Santos, que deve assumir comando da nova agência de fomento do Estado de SP
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Funcionário de carreira do
Banco Central, o presidente da
Nossa Caixa, Milton Luiz de
Melo Santos, deixa amanhã o
banco paulista, que passa para
o comando do Banco do Brasil.
Em dois anos, Santos levou um
banco "coadjuvante" em São
Paulo, atrasado no crédito, com
equipe desmotivada e tecnologia defasada, a despertar a cobiça do Banco do Brasil em ter a
maior rede bancária no Estado.
Santos disse que o maior desafio foi oferecer serviços de
qualidade com a compra da folha do Estado para reter os servidores vindos do Santander.
Apesar de trabalhar em banco público, afirma que não vê
sentido em o Estado ter instituição de varejo. Ele defende a
presença na área de fomento,
como o BNDES, e diz que "é um
equívoco" o BB adquirir bancos
privados. Santos cumprirá uma
quarentena antes de assumir,
possivelmente, o comando da
nova agência de fomento do Estado -ele não confirma nem
nega a indicação.
FOLHA - Como era o banco que o sr.
pegou há dois anos?
MILTON SANTOS - Recebi um
banco que passou por uma mudança muito grande quando
abriu o capital em 2005. Ao ingressar nas novas regras do
mercado, a Nossa Caixa adquiriu profissionalismo e competência extraordinários. Ela era
uma espécie de coadjuvante
nas finanças do Estado -o banco principal era o Banespa. O
governador José Serra tinha o
propósito de vender a folha de
pagamentos do Estado, tal como fez quando estava no município de São Paulo. Como o município não tinha banco, teve de
fazer licitação. Como o governo
tinha a Nossa Caixa, consultou
o banco para ver se havia interesse. Quando realizamos o investimento, procuramos fazer
um trabalho comercial muito
forte para que esses clientes
que antes recebiam o salário no
Santander trabalhassem com a
Nossa Caixa. O Santander contra-atacou, procurou reter esses clientes, oferecendo mimos
e uma série de benefícios.
FOLHA - Quais são as limitações para concorrer com o Santander?
SANTOS - Temos de seguir uma
série de preceitos legais estabelecidos na lei de licitações ou de
concursos públicos. O Santander abre uma agência aqui na
rua em dez dias; eu levo quatro
meses. O Santander vai ao mercado e recruta o melhor gerente, pagando bônus. Eu tenho de
fazer concurso.
FOLHA - Como vocês conseguiram?
SANTOS - O desafio foi modernizar o banco e trazer o máximo de inovações tecnológicas
para que pudesse melhorar o
atendimento e ter imagem de
competência e de segurança.
Resolvemos desligar 2.000 funcionários que tinham salários
muito altos. Isso é um tabu na
administração pública. Contratamos 1.300 com concurso, entrando com salário inicial. Desligamos aquelas pessoas que
não tinham desempenho adequado, como qualquer outra
empresa faz, com o objetivo de
melhorar a eficiência como
prestador de serviço. Tivemos
reuniões com o sindicato, dissemos que não tinha perseguição a ninguém. Estabelecemos
metas de realização de operações de crédito, venda de produtos e cobramos a ponto de o
sindicato dizer que estávamos
cometendo assédio moral.
Também procuramos melhorar a avaliação de mérito.
FOLHA - Para os funcionários, como foi conviver com a venda ao BB?
SANTOS - O ambiente da venda
do banco cria um pouco de incerteza, insegurança, é um desestímulo. É difícil fazer com
que as pessoas se abstraiam
dessa situação e foquem no negócio. Queria mostrar [ao funcionário] que, quanto melhor o
seu desempenho na agência,
melhor seria o cacife para se colocar no BB. Com os diretores
fizemos o mesmo porque era
óbvio que seriam os primeiros a
perder o cargo. Primeiro, negociamos com o BB a permanência de quatro diretores. Pedi ao
secretário da Fazenda [Mauro
Ricardo Costa] que desse uma
sinalização de que as pessoas
não ficariam desamparadas.
Até para que pudessem ficar
comigo até o final, senão corria
o risco de ficar sozinho aqui.
FOLHA - É possível atender bem ao
acionista minoritário, que é privado,
e ao Estado e seu interesse público?
SANTOS - Nós temos feito isso,
deixando claro que o banco vai
fazer operações em condições
de mercado. Como o governo
tem interesse em beneficiar determinados segmentos, entra
com recursos do Orçamento e
subsidia os juros. O governo paga o subsídio dentro do seu arcabouço legal de indutor de desenvolvimento.
FOLHA - Há uma papel específico
desempenhado pelo banco público?
SANTOS - Não vejo como o poder público possa ter banco de
varejo. A iniciativa privada pode prover bem esse serviço,
melhor do que uma empresa
pública, que tem suas amarras.
Vejo com mais sentido a atividade de uma instituição ligada
ao desenvolvimento, como o
BNDES. Ela tem um papel muito claro, associado a estratégias
do governo de desenvolver regiões mais carentes.
FOLHA - Qual desafio o BB terá pela
frente com a Nossa Caixa?
SANTOS - O BB está sendo empurrado [para aquisições] porque se não fizer vai perdendo
participação. Para se manter
nesse mercado, vai ter de buscar alternativas -primeiro, pelos bancos estaduais. Tem também aquela medida provisória
que permite a compra de bancos privados. Como economista, acho que é um equívoco. Você está ampliando a participação do Estado em atividade de
natureza privada. Também é
difícil explicar por que comprou participação no banco A e
não no B ou C. Por que foi esse o
preço e não aquele. Não queria
estar na pele [deles]. Acho que
não é esse o caminho, mas respeito a posição que eles têm.
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