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Retaliação encarece 102 produtos dos EUA
Sobretaxação de itens americanos, autorizada pela OMC, pode somar US$ 591 mi, mas ainda é alvo de negociação com governo Obama
Lista de artigos com tarifa maior inclui desde alimentos até carros; para o governo, consumidor vai encontrar itens similares mais baratos
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma série de produtos norte-americanos poderá ficar
mais cara para o consumidor
brasileiro daqui a 30 dias, prazo
marcado para a entrada em vigor da retaliação comercial
contra os Estados Unidos por
causa dos subsídios concedidos
pelo país aos produtores de algodão, prática que foi condenada pela OMC (Organização
Mundial do Comércio).
Na lista de retaliação, publicada ontem no "Diário Oficial
da União", foram incluídos 102
itens, que vão desde alimentos
até automóveis. O objetivo é
elevar o custo desses bens e,
consequentemente, estimular
a substituição pelo consumo de
equivalentes nacionais ou importados de outros países.
"Não esperamos um aumento de preços no mercado. Apenas os produtos americanos ficarão mais caros", explicou a
secretária-executiva da Camex
(Câmara de Comércio Exterior), Lytha Spíndola. "Espera-se que ocorra um desvio de comércio para produtos de outros
fornecedores", afirmou.
Autoridades dos EUA, no entanto, ainda tentam negociar
uma saída que evite que a retaliação seja colocada em prática,
em abril. Na semana passada, a
secretária de Estado, Hillary
Clinton, encontrou-se em Brasília com o chanceler Celso
Amorim para debater o assunto
e hoje é a vez de o secretário de
Comércio americano, Gary
Locke, chegar ao país para buscar um acordo.
Mas o governo brasileiro,
apesar de seguir aberto ao diálogo, alega ainda não ter recebido proposta satisfatória. "Temos recebidos indicações em
vários níveis políticos sobre negociação, mas nada concreto",
afirmou o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey.
Com a lista, o governo espera
que os setores afetados pela
medida pressionem o Congresso americano a retirar ao menos parte do subsídio ao algodão. A retaliação, que tem prazo de vigência de um ano, pode
ser renovada enquanto os EUA
continuarem a conceder incentivos ilegais e que distorcem o
mercado mundial do produto.
Xampus e cremes dentais
O valor estimado para o impacto da sobretaxação de bens
nos próximos 12 meses é de
US$ 591 milhões. Essa quantia
é calculada a partir da importância da variação do preço de
cada produto na decisão de
consumo dos consumidores.
Por exemplo, o aumento de
18% para 36% nas alíquotas de
importação de artigos de higiene pessoal, como xampus e cremes dentais americanos, seria
suficiente para estimular a escolha de outras marcas, que
não sofrem a penalidade.
"A OMC autoriza tarifas adicionais de até cem pontos percentuais, mas a maior parte da
lista não foi aplicada nesse patamar, que seria proibitivo ao
comércio", afirmou Cozendey.
Apenas as alíquotas de produtos têxteis e de algodão estão
programadas para terem aumentos superiores, de até 94
pontos percentuais, por estarem diretamente relacionados
ao contencioso com os EUA.
Como o direito de retaliação
conquistado pelo Brasil para
2010 chega a US$ 829 milhões,
o restante desse potencial, US$
238 milhões, estará voltado para propriedade intelectual e
serviços -cuja implementação
será divulgada posteriormente.
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