São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2010

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Retaliação encarece 102 produtos dos EUA

Sobretaxação de itens americanos, autorizada pela OMC, pode somar US$ 591 mi, mas ainda é alvo de negociação com governo Obama

Lista de artigos com tarifa maior inclui desde alimentos até carros; para o governo, consumidor vai encontrar itens similares mais baratos


EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma série de produtos norte-americanos poderá ficar mais cara para o consumidor brasileiro daqui a 30 dias, prazo marcado para a entrada em vigor da retaliação comercial contra os Estados Unidos por causa dos subsídios concedidos pelo país aos produtores de algodão, prática que foi condenada pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
Na lista de retaliação, publicada ontem no "Diário Oficial da União", foram incluídos 102 itens, que vão desde alimentos até automóveis. O objetivo é elevar o custo desses bens e, consequentemente, estimular a substituição pelo consumo de equivalentes nacionais ou importados de outros países.
"Não esperamos um aumento de preços no mercado. Apenas os produtos americanos ficarão mais caros", explicou a secretária-executiva da Camex (Câmara de Comércio Exterior), Lytha Spíndola. "Espera-se que ocorra um desvio de comércio para produtos de outros fornecedores", afirmou.
Autoridades dos EUA, no entanto, ainda tentam negociar uma saída que evite que a retaliação seja colocada em prática, em abril. Na semana passada, a secretária de Estado, Hillary Clinton, encontrou-se em Brasília com o chanceler Celso Amorim para debater o assunto e hoje é a vez de o secretário de Comércio americano, Gary Locke, chegar ao país para buscar um acordo.
Mas o governo brasileiro, apesar de seguir aberto ao diálogo, alega ainda não ter recebido proposta satisfatória. "Temos recebidos indicações em vários níveis políticos sobre negociação, mas nada concreto", afirmou o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey.
Com a lista, o governo espera que os setores afetados pela medida pressionem o Congresso americano a retirar ao menos parte do subsídio ao algodão. A retaliação, que tem prazo de vigência de um ano, pode ser renovada enquanto os EUA continuarem a conceder incentivos ilegais e que distorcem o mercado mundial do produto.

Xampus e cremes dentais
O valor estimado para o impacto da sobretaxação de bens nos próximos 12 meses é de US$ 591 milhões. Essa quantia é calculada a partir da importância da variação do preço de cada produto na decisão de consumo dos consumidores.
Por exemplo, o aumento de 18% para 36% nas alíquotas de importação de artigos de higiene pessoal, como xampus e cremes dentais americanos, seria suficiente para estimular a escolha de outras marcas, que não sofrem a penalidade.
"A OMC autoriza tarifas adicionais de até cem pontos percentuais, mas a maior parte da lista não foi aplicada nesse patamar, que seria proibitivo ao comércio", afirmou Cozendey.
Apenas as alíquotas de produtos têxteis e de algodão estão programadas para terem aumentos superiores, de até 94 pontos percentuais, por estarem diretamente relacionados ao contencioso com os EUA.
Como o direito de retaliação conquistado pelo Brasil para 2010 chega a US$ 829 milhões, o restante desse potencial, US$ 238 milhões, estará voltado para propriedade intelectual e serviços -cuja implementação será divulgada posteriormente.


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