São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2010

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Regras globais contra a crise emperram

Reunião de presidentes de bancos centrais na Suíça termina sem acordo, e ritmo diferente das economias dificulta consenso

Oposição de instituições barram "lista negra" de bancos em dificuldade; Meirelles chefiará Conselho das Américas do BIS


Johannes Eisele/Reuters
O presidente do BC europeu, o francês Jean-Claude Trichet

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL À BASILEIA

Está empacando o plano de impor regras mais duras para os bancos "sistemicamente importantes" -aqueles cuja quebra pode se perpetuar em cascata pelas finanças de um país ou pela economia global.
A proposta foi inicialmente colocada como um pilar da estratégia do BIS (o Banco para Compensações Internacionais, que rege os BCs mundiais) para evitar novas bolhas de crédito e conter o efeito de crises futuras. Mas, a cada reunião da entidade e de seu Conselho de Estabilidade Financeira, as medidas que poriam o plano de pé ficam mais nebulosas.
O prazo para definir as regras é setembro, com vistas à sua aprovação até o fim do ano e implementação até 2012.
De início, o BIS listaria as instituições alvo de atenção especial. Mas queixas dos bancos privados, contrários a uma "lista negra", dividiu os 27 BCs, e a ideia sucumbiu. Depois, proclamou-se que as medidas (como um valor mais alto para o "colchão" de capital que cada banco terá para se prevenir contra crises) seriam fixadas pela entidade central. Agora, não mais.
"O que estamos discutindo é exatamente o quão específico o comitê da Basileia pode ser nessa definição das organizações sistemicamente importantes, de quais serão os colchões de capital e de liquidez", disse o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles.
Mais cedo, Mario Draghi, presidente do conselho, afirmara que caberia a cada BC avaliar as medidas aplicáveis a seu sistema. "Temos de ter um mínimo de regulação comum em um campo como este, e aí os países teriam liberdade para tomar mais medidas", disse.
A discussão cresce com a desarmonia no ritmo da recuperação econômica global, com a Ásia à frente, os demais emergentes em seguida (Brasil inclusive), os EUA depois e a Europa na lanterna. Afinal, enquanto delineiam as regras, os BCs precisam tratar da retirada gradual das medidas que tomaram para ampliar a liquidez em seus países no auge da crise.
E a disparidade nessa operação ficou clara nas reuniões do BIS ontem e domingo. Jean-Claude Trichet, que preside a entidade, frisou ser interesse geral corrigir o desequilíbrio.
O Brasil nesse campo vai bem, diz Meirelles, já tendo retirado das reservas o saldo dos estímulos e revertido quase completamente a decisão excepcional de liberar o compulsório, entre outras coisas.
Segundo ele, EUA e emergentes se recuperam mais rápido, e o risco é a União Europeia. O BIS debateu o risco de a crise da dívida grega contaminar o bloco, inflando os juros das dívidas de outros países. Outra preocupação, segundo Meirelles, é com uma bolha chinesa.
Ontem, como antecipou a coluna "Mercado Aberto", Meirelles anunciou que chefiará o Conselho das Américas do BIS.


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