São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Para instituto, produção voltou a crescer no mês passado

Iedi culpa timidez do BC por retração da indústria

DA SUCURSAL DO RIO

Para o economista Júlio de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), as quedas da produção industrial nos meses de dezembro a fevereiro mostram claramente que o crescimento iniciado em julho do ano passado foi interrompido. Segundo Almeida, tecnicamente, já é possível dizer que a indústria está em recessão.
Ainda assim, ele diz acreditar que a tendência, a partir de março, será de crescimento.
Almeida afirma que a principal explicação para essa terceira queda consecutiva da produção industrial é a reversão de expectativa de consumidores e de empresários causada pela política econômica. "Ao paralisar a redução da taxa de juros, a equipe econômica sinalizou que o processo de recuperação poderia ser interrompido devido a riscos inflacionários. Isso reverteu expectativas favoráveis que se formavam entre empresários e consumidores."

Fantasmas
O Iedi continua prevendo, em seu boletim de análise dos dados da Pesquisa Industrial Mensal, crescimento neste ano, mas pondera que tudo dependerá da condução da política econômica. "Ver fantasmas onde não há, subordinar de tal forma a economia real à economia financeira e concorrer para súbitas e desnecessárias mudanças de expectativa do setor produtivo são equívocos que precisam ser corrigidos."
O economista Juan Pedro Jensen, da Tendências Consultoria, diz que o resultado negativo de fevereiro era esperado. Ele concorda que houve um clima de expectativa na economia um pouco pior neste início de ano em comparação com o último trimestre de 2003, o que pode ter influenciado os resultados de fevereiro.
Ele afirma, no entanto, que ainda espera uma trajetória de crescimento da economia para este ano. "Esse crescimento depende de vários fatores, mas a gente acredita que em março o indicador da indústria já será positivo e que será possível crescer 5% em 2004."
Em boletim, os analistas da LCA Consultoria dizem ser "natural" uma "parada técnica" da produção industrial depois de um período de forte recuperação, como o que aconteceu entre os meses de junho e novembro do ano passado. Ou seja, era esperado que os resultados do início do ano fossem negativos.
Ainda assim, segundo a LCA, o maior pessimismo induzido pela interrupção da queda da taxa de juros e pela crise política pode ter prolongado essa parada.
A previsão dos analistas da consultoria é que a indústria volte a se expandir de forma contínua, mas gradativa. O boletim não menciona a "recessão industrial". Pelo contrário, a LCA prefere relativizar o resultado.
Os dados do IBGE são dessazonalizados, ou seja, o instituto elimina, por meio de técnicas estatísticas, as altas e quedas típicas do mês, movimentos que ocorreriam com expansão ou retração do setor. Para que os cálculos fiquem mais precisos, são necessárias séries longas de dados. Como a nova pesquisa só tem dados desde janeiro de 2002, os analistas dizem acreditar "que tais números não devam ser considerados em suas grandezas absolutas".
(ANTÔNIO GOIS)


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