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LUÍS NASSIF
Rockefeller e a
ciência brasileira
Sem Nelson Rockefeller, não
teria existido a Embrapa, a
soja brasileira não seria a mais
competitiva do mundo, o Brasil
não estaria no topo da pesquisa
agronômica tropical. Já escrevi
sobre isso. Não foi dito que, sem
Rockefeller, dificilmente teria
acontecido o Projeto Genoma, o
Brasil não teria se tornado um
dos poucos países do mundo a
dominar o ciclo de enriquecimento do urânio e provavelmente não haveria uma instituição
com a excelência da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa).
Ainda está por ser inteiramente
contada a extraordinária contribuição de Nelson Rockefeller ao
Brasil.
Em 1938, o jovem Nelson se encantou com a América Latina e
convenceu o presidente Franklin
Delano Roosevelt a criar um segundo "new deal" -desta vez
desenvolvendo os países vizinhos
dos Estados Unidos.
Durante alguns anos, até a
morte de Roosevelt, realizou uma
obra extraordinária, modificando completamente os conceitos
colonialistas vigentes até então.
Morto Roosevelt, o trabalho de
Rockefeller foi esvaziado pelo sucessor, presidente Truman. Mas
Rockefeller persistiu e passou a
usar recursos próprios para estimular o desenvolvimento da região.
Em 1942, o principal homem de
Rockefeller para a área de ciências era o americano Harry Miller Jr., figura fundamental para
o desenvolvimento da ciência
aplicada no país. Os "meninos"
de Miller foram as pessoas que,
anos mais tarde, fundaram e desenvolveram os princípios que
transformaram a Fapesp numa
referência mundial de financiamento à pesquisa e de sistemas de
avaliação de bolsas.
Em 1942, Miller procurou André Dreifus, o grande professor de
biologia geral da Faculdade de
Filosofia, Ciência e Letras, e lhe
disse que deveria passar um ano
nos Estados Unidos. Dreifus pediu um dia para pensar. No dia
seguinte procurou Miller e respondeu que precisaria de seis meses para dar a parte teórica do
curso. Depois disso, seus assistentes Clodovaldo Pavan e Rosina
de Barros dariam a parte prática
e ele poderia viajar.
Miller foi incisivo: "Se você não
pode viajar, então mando um
professor estrangeiro para cá, e
você pode passar um ano lá".
Dreifus perguntou o nome do
professor. Era Teodosius
Dobzhnsky, nome mundial, que
em 1936 havia publicado um livro considerado o mais importante para o estudo da genética
desde os estudos de Darwin. "Se
ele vier, não preciso ir", concluiu
Dreifus. Começava ali a nova fase da genética brasileira. Dreifus
deixou tudo nas mãos de
Dobzhnsky, tornando-se seu braço direito.
Pavan era presidente da Sociedade Brasileira de Genética.
Tempos depois, Miller procurou-o e disse que estava começando
uma nova ciência nos EUA, que
tenderia a ser muito importante:
a genética humana. E que Pavan
deveria iniciar essa ciência no
Brasil. Pavan solicitou três bolsas
para colegas que passariam um
ano treinando genética humana.
Quando voltassem, seria criada
uma comissão na SBG. Acabaram saindo quatro bolsas, a
quarta para Oswaldo Frota Pessoa, que já estava nos EUA e se
tornaria o grande pioneiro da
matéria no Brasil. Em pouco
tempo, Dobzhnsky criaria uma
rede de geneticistas, seus ex-alunos, espalhados por várias universidades brasileiras.
A Comissão de Genética Humana passou a dispor dos recursos de que precisava, de forma ilimitada. Precisava apenas justificar adequadamente a necessidade.
Não apenas isso. Mr. Miller foi
o principal responsável por ter
transformado a física brasileira
em um ponto de excelência. O
grande físico Leite Lopes foi
apoiado por ele, assim como
Marcello Damy e Gleb Wataghin. Outros cientistas que mereceram seu apoio foram Carlos
Chagas e Vieira Pinto.
Damy permaneceu seis meses
nos EUA, em Illinois, estudando
o acelerador de elétrons desenvolvido pelo Prêmio Nobel Arthur Compton. Depois, enviou
para os EUA alguns de seus assistentes, Oscar Sala, Paulo de Tacques Bittencourt e José Goldemberg.
Surgiria dali um novo ramo da
ciência brasileira, que resultaria,
dois anos atrás, no domínio do
processo de enriquecimento de
urânio.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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