|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Estímulo à economia em ano eleitoral chega a R$ 51,5
bi
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O esforço do governo para estimular a economia neste ano de
eleições já envolve recursos no
montante de R$ 51,5 bilhões. Mais
da metade desse dinheiro -R$
28,7 bilhões distribuídos em seis
"pacotes de bondades" diferentes- sairá dos cofres públicos ou
será arcada por estatais como a
Caixa Econômica e o Banco do
Brasil. O resto ficará por conta do
setor privado.
Dessa parcela que cabe ao governo federal, R$ 19 bilhões têm
impacto direto no Orçamento
deste ano porque significam gastos extras ou renúncia de receita.
Apesar de a meta de ajuste fiscal
para 2006 ser de 4,25% do PIB
(Produto Interno Bruto), o que
abre espaço para mais gastos em
relação a 2005 -já que, no ano
passado, o aperto fiscal gerou
uma economia equivalente a
4,88% do PIB-, o ritmo de gastos
públicos preocupa especialistas
dentro e fora do governo.
Desde o início do ano, o governo federal vem lançando medidas
que injetam recursos na economia, postergam pagamento de dívidas ou reduzem a arrecadação.
A cada início de mês, são divulgados de um a dois pacotes de bondades.
No dia 7 de fevereiro, foram lançadas as medidas para a área de
habitação. Um mês depois, benefícios para formalização do emprego doméstico. Na semana passada, os agricultores e os aposentados foram os favorecidos. Entre
um lançamento e outro, houve
ainda reajuste do salário mínimo
e uma série de desonerações, incluindo a correção da tabela de IR
(Imposto de Renda).
Entre as despesas extras do governo federal, a que tem maior
peso é a desoneração de tributos
para vários setores, que vão desde
a construção civil e os bens de capital até a isenção de Imposto de
Renda para investidores estrangeiros que aplicam em títulos públicos no país.
Segundo as projeções mais recentes do Ministério do Planejamento, somada à correção da tabela do IR (Imposto de Renda),
essa redução da carga de impostos e tributos representará perda
de arrecadação de R$ 9 bilhões.
Mínimo
Além dessa despesa adicional, o
reajuste real de 13% do salário mínimo significará um custo extra
de R$ 5,6 bilhões para o Tesouro e
a correção dos benefícios pagos
pelo INSS a aposentados e pensionistas que ganham acima de um
salário mínimo, mais R$ 1 bilhão.
O pacote para incentivar o setor
de habitação, lançado em fevereiro, acrescentou ainda R$ 550 milhões aos R$ 450 milhões já orçados para o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, criado
no ano passado para financiar casas populares. Também previu R$
1,27 bilhão do Orçamento a fundo
perdido para programas que beneficiam pessoas carentes como o
PAR (Programa de Arrendamento Residencial) e o PSH (Programa Social de Habitação).
Bondade agrícola
Na semana passada, o governo
anunciou ainda um pacote de
bondades para o setor agrícola
que prevê a liberação de R$ 1 bilhão a mais para apoio à comercialização e outros R$ 238 milhões
para o Programa de Aquisição de
Alimentos.
Cerca de R$ 300 milhões, custo
estimado da permissão para que
contribuintes que têm empregado doméstico com carteira assinada abatam do Imposto de Renda parte da contribuição patronal
feita para o INSS, ficarão para ser
pagos pelo próximo governo. A
medida valerá para a declaração
anual de ajuste que será entregue
no ano que vem.
Além dessas medidas que têm
impacto direto nos cofres públicos, a Caixa Econômica Federal
entrará com mais R$ 2 bilhões em
financiamentos para compra da
casa própria para classe média. O
governo prorrogou ainda a quitação de dívidas já vencidas e a vencer neste ano de agricultores no
valor total de R$ 7,7 bilhões. Quase tudo era devido ao BB.
Mesmo reconhecendo que boa
parte das medidas é necessária, o
que vem preocupando, sobretudo, os técnicos da própria área
econômica é a rapidez com que as
decisões têm sido tomadas e a
concentração de despesas neste
início de ano. Muitas vezes, alegam, não há o cálculo devido dos
benefícios ou prejuízos que elas
poderão gerar.
Cobrança
Desde que assumiu o cargo, há
quase duas semanas, o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem sido cobrado por analistas
financeiros e investidores sobre o
que pretende fazer para melhorar
a qualidade do ajuste fiscal. A avaliação é que não é possível mais
sustentar o equilíbrio das contas
públicas com base no aumento da
arrecadação.
"É preciso olhar os gastos com
atenção, e isso dá trabalho e não é
nada popular", afirmou o economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências. "É necessário mudar a dinâmica da despesa
pública. Esse é o maior consenso
no mercado nos últimos 30 anos",
destacou o economista Marcelo
Fonseca, do banco Safra, num seminário sobre economia na semana passada. Mantega não gostou, mas voltou a reafirmar que a
meta de 2006 será cumprida.
O secretário do Tesouro, Carlos
Kawall, tem defendido que as travas legais, impostas pela legislação eleitoral e pela Lei de Responsabilidade Fiscal, dão a garantia
de que as pressões por mais gastos
serão acomodadas dentro da meta de ajuste estabelecida.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Crise no ar: Estrangeiras já dominam rotas externas Índice
|