São Paulo, segunda-feira, 09 de abril de 2007

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Após 32 anos, só 23% das empresas mantêm status

Estudo mostra que 117 das 500 maiores companhias perderam importância desde 73

Principal destino foi aquisição por outras organizações, segundo Fundação Dom Cabral; parte faliu ou foi privatizada


JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Das 500 maiores e mais importantes empresas do país em 1973, só 117 permanecem a atuar com excelência em seus respectivos setores -23,4% do total. A constatação é de estudo coordenado pelo professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral.
O trabalho, obtido com exclusividade pela Folha, discorre sobre longevidade e performance das empresas brasileiras. Será apresentado nesta semana em Comandatuba (BA), durante o IT Fórum, um dos principais eventos de tecnologia e telecomunicações realizados no Brasil.
Segundo os pesquisadores, o motivo para tantas baixas é que essas organizações não foram capazes de criar condições para resistir às mudanças nos fatores sociais, políticos e econômicos ocorridas ao longo desses 32 anos.
No período -para ficar apenas no campo da economia-, os brasileiros conviveram com hiperinflação, carga tributária inchada, juros altos, desvalorização cambial, cinco moedas e sete planos econômicos.
"E nada indica que o ambiente se tornará mais fácil", diz Arruda. "O ambiente de negócios tende a ficar cada vez mais difícil em todo o mundo."
Ex-ministro da Fazenda e ex-congressista, o economista Delfim Netto concorda. Para ele, o resultado está em linha com a tendência mundial de concentração econômica, embora o empresário brasileiro conviva com certas perversidades, como a política monetária apertada.
"Quando se levam em conta 30 anos, o cemitério sempre será maior que a maternidade", resume Delfim. "Só quem tem um comichão pelo risco agüenta ser empresário no Brasil."
Na avaliação do economista Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC de São Paulo, existe uma "elite" de empresas brasileiras que se antecipou à globalização. "A atuação fica mais complicada porque é um cenário contraditório, que acentua a competitividade, cria necessidade de demanda e resulta em concentração."

Conclusões
As empresas que perderam status e deixaram de figurar no rol das maiores e melhores tiveram vários destinos, conforme o estudo levado adiante pela Fundação Dom Cabral.
Das 383 pesquisadas, a maioria deixou de existir da forma como eram conhecidas em 1973: 36,5% foram adquiridas por outras empresas; 12,4% fecharam por motivos diversos; 10,3% faliram; 9,9% acabaram privatizadas e 9% fundiram-se a outras companhias.
Qual o segredo para manter o mesmo peso no mercado, ou mesmo aumentá-lo?
"Esperávamos, pelos estudos, descobrir que essas companhias seriam aquelas com valores bem definidos, capazes de renovação e relativamente conservadoras na gestão dos negócios. É esse o modelo vitorioso na Europa, nos Estados Unidos e no Japão", observa Arruda. "Mas não foram esses os fatores mais significativos no Brasil, segundo a pesquisa."
O segredo, afirma Carlos Arruda, pode ser dividido em três características. O primeiro ponto em comum entre as empresas longevas no país é que elas têm consciência de que é preciso expansão contínua: vale engolir as concorrentes, diversificar a área de atuação ou lançar produtos, ocupando novos nichos de mercado.
Parte da explicação está no fato de que a perspectiva de crescimento da empresa motiva os profissionais, que vêem aí chances de ascensão.
A segunda particularidade observada no levantamento da Dom Cabral está diretamente relacionada com a cúpula das empresas: a capacidade das lideranças de perceber e antecipar mudanças no ambiente interno e externo, de forma a preparar a equipe para uma guinada, se isso for necessário.
A última conclusão é que o cuidado com processos de sucessão é determinante. As empresas que não souberam preparar seus futuros gestores minguaram.
A equipe da Dom Cabral desenvolverá agora a segunda parte da pesquisa, na qual serão analisadas também companhias estrangeiras.


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