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Após 32 anos, só 23% das empresas mantêm status
Estudo mostra que 117 das 500 maiores companhias perderam importância desde 73
Principal destino foi aquisição por outras organizações, segundo
Fundação Dom Cabral; parte faliu ou foi privatizada
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Das 500 maiores e mais importantes empresas do país em
1973, só 117 permanecem a
atuar com excelência em seus
respectivos setores -23,4% do
total. A constatação é de estudo
coordenado pelo professor
Carlos Arruda, da Fundação
Dom Cabral.
O trabalho, obtido com exclusividade pela Folha, discorre sobre longevidade e performance das empresas brasileiras. Será apresentado nesta semana em Comandatuba (BA),
durante o IT Fórum, um dos
principais eventos de tecnologia e telecomunicações realizados no Brasil.
Segundo os pesquisadores, o
motivo para tantas baixas é que
essas organizações não foram
capazes de criar condições para
resistir às mudanças nos fatores sociais, políticos e econômicos ocorridas ao longo desses 32 anos.
No período -para ficar apenas no campo da economia-,
os brasileiros conviveram com
hiperinflação, carga tributária
inchada, juros altos, desvalorização cambial, cinco moedas e
sete planos econômicos.
"E nada indica que o ambiente se tornará mais fácil", diz Arruda. "O ambiente de negócios
tende a ficar cada vez mais difícil em todo o mundo."
Ex-ministro da Fazenda e
ex-congressista, o economista
Delfim Netto concorda. Para
ele, o resultado está em linha
com a tendência mundial de
concentração econômica, embora o empresário brasileiro
conviva com certas perversidades, como a política monetária
apertada.
"Quando se levam em conta
30 anos, o cemitério sempre
será maior que a maternidade",
resume Delfim. "Só quem tem
um comichão pelo risco agüenta ser empresário no Brasil."
Na avaliação do economista
Antônio Corrêa de Lacerda, da
PUC de São Paulo, existe uma
"elite" de empresas brasileiras
que se antecipou à globalização. "A atuação fica mais complicada porque é um cenário
contraditório, que acentua a
competitividade, cria necessidade de demanda e resulta em
concentração."
Conclusões
As empresas que perderam
status e deixaram de figurar no
rol das maiores e melhores tiveram vários destinos, conforme o estudo levado adiante pela Fundação Dom Cabral.
Das 383 pesquisadas, a maioria deixou de existir da forma
como eram conhecidas em
1973: 36,5% foram adquiridas
por outras empresas; 12,4% fecharam por motivos diversos;
10,3% faliram; 9,9% acabaram
privatizadas e 9% fundiram-se
a outras companhias.
Qual o segredo para manter o
mesmo peso no mercado, ou
mesmo aumentá-lo?
"Esperávamos, pelos estudos, descobrir que essas companhias seriam aquelas com
valores bem definidos, capazes
de renovação e relativamente
conservadoras na gestão dos
negócios. É esse o modelo vitorioso na Europa, nos Estados
Unidos e no Japão", observa
Arruda. "Mas não foram esses
os fatores mais significativos
no Brasil, segundo a pesquisa."
O segredo, afirma Carlos Arruda, pode ser dividido em três
características. O primeiro
ponto em comum entre as empresas longevas no país é que
elas têm consciência de que é
preciso expansão contínua: vale engolir as concorrentes, diversificar a área de atuação ou
lançar produtos, ocupando novos nichos de mercado.
Parte da explicação está no
fato de que a perspectiva de
crescimento da empresa motiva os profissionais, que vêem aí
chances de ascensão.
A segunda particularidade
observada no levantamento da
Dom Cabral está diretamente
relacionada com a cúpula das
empresas: a capacidade das lideranças de perceber e antecipar mudanças no ambiente interno e externo, de forma a preparar a equipe para uma guinada, se isso for necessário.
A última conclusão é que o
cuidado com processos de sucessão é determinante. As empresas que não souberam preparar seus futuros gestores
minguaram.
A equipe da Dom Cabral desenvolverá agora a segunda
parte da pesquisa, na qual serão
analisadas também companhias estrangeiras.
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