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Ação do BB recua 8,15% após mudança
Investidores temem diminuição da lucratividade e têm dúvidas sobre eficácia de eventual nova política de crédito
Para analistas, redução
dos juros por bancos
públicos pode não ter muito
resultado em estimular o
sistema a cortar as taxas
DENYSE GODOY
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se realmente for colocada em
prática pelo Banco do Brasil,
uma nova política de concessão
de empréstimos com juros e
"spread" mais baixos deverá fazer a lucratividade da instituição cair, dizem especialistas.
"Não há nenhuma garantia
de que, ao reduzir as taxas cobradas dos clientes, a demanda
por crédito será estimulada",
afirma Rogério Sobreira, professor da Ebape/FGV (Escola
de Administração Pública e de
Empresas da Fundação Getulio
Vargas). Além disso, não se sabe se o BB terá estrutura para
atender um grande aumento da
procura por financiamentos,
afirma.
No ano passado, o BB teve lucro recorde de R$ 8,803 bilhões
-o montante representa uma
elevação de 74% em relação ao
resultado obtido em 2007.
Os analistas não veem na
eventual mudança de estratégia uma ameaça à solidez do
banco porque cortar juros não
significa necessariamente ser
menos rigoroso na concessão
de empréstimos. Caso a inadimplência entre os clientes do
BB começasse a crescer acima
da média do mercado, o Banco
Central, que tem a função de
fiscalizar as instituições e garantir a saúde do sistema, poderia intervir.
Mesmo assim, o mercado financeiro reagiu mal à inesperada troca de comando no BB: a
ação ordinária do banco recuou
8,15% ontem na Bovespa. Foi a
maior queda do principal índice da Bolsa de Valores de São
Paulo (que reúne os 65 papéis
mais negociados) e o terceiro
papel mais negociado, com 9%
do total movimentado.
Os acionistas minoritários
sofrem bastante com esse tipo
de movimento porque, diferentemente dos fundos e dos grandes investidores, não costumam correr para vender uma
ação apenas por causa de um
dia negativo.
"Entendo que deve ter sido
uma queda pontual, em decorrência do desconforto momentâneo causado com a intervenção política na instituição",
afirma Marcos Duarte Santos,
vice-presidente da Amec (Associação de Investidores no
Mercado de Capitais).
Mario Engler, professor da
Escola de Direito da FGV e
doutorando pela USP com uma
tese sobre o controle do Estado
sobre empresas públicas, lembra que a existência delas só se
justifica pela sua missão pública. "Para conciliar os interesses
dos dois tipos de acionista, o
governo e o privado, é preciso
compreender que a estatal não
tem como diretriz buscar o lucro maximizado. Por isso, o minoritário já compra os papéis
com um certo desconto. Em
contrapartida, está investindo
em uma companhia sólida e
idônea."
Na sua avaliação, substituir o
presidente não garante que todas as vontades do seu controlador, que é o governo federal,
sejam absolutamente cumpridas. "Nas estatais, existem regras de governança corporativa
que limitam a intromissão do
acionista majoritário nas decisões das empresas", diz.
Concorrência
Pairam, ainda, dúvidas sobre
a eficácia do uso de instituições
públicas para baixar as taxas de
juros em todo o mercado bancário. A medida até gera uma
pressão; porém, em tempos de
alta da inadimplência, o banco
privado deve preferir esperar
um pouco antes de copiá-la.
"Esse tipo de ação demora
um certo tempo para fazer algum efeito que nem sabemos
qual é", diz Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.
Melhor seria, afirma ele, efetuar reformas estruturais como
a tributária e acelerar a implantação do cadastro positivo para
reduzir o "spread" de forma
consistente. "Parece que o governo quer ser coerente com o
seu próprio discurso de que as
taxas precisam cair tomando
alguma providência concreta, e
essa é a que pode ser implantada rápido."
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