São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

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Ação do BB recua 8,15% após mudança

Investidores temem diminuição da lucratividade e têm dúvidas sobre eficácia de eventual nova política de crédito

Para analistas, redução dos juros por bancos públicos pode não ter muito resultado em estimular o sistema a cortar as taxas


DENYSE GODOY
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se realmente for colocada em prática pelo Banco do Brasil, uma nova política de concessão de empréstimos com juros e "spread" mais baixos deverá fazer a lucratividade da instituição cair, dizem especialistas.
"Não há nenhuma garantia de que, ao reduzir as taxas cobradas dos clientes, a demanda por crédito será estimulada", afirma Rogério Sobreira, professor da Ebape/FGV (Escola de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas). Além disso, não se sabe se o BB terá estrutura para atender um grande aumento da procura por financiamentos, afirma.
No ano passado, o BB teve lucro recorde de R$ 8,803 bilhões -o montante representa uma elevação de 74% em relação ao resultado obtido em 2007.
Os analistas não veem na eventual mudança de estratégia uma ameaça à solidez do banco porque cortar juros não significa necessariamente ser menos rigoroso na concessão de empréstimos. Caso a inadimplência entre os clientes do BB começasse a crescer acima da média do mercado, o Banco Central, que tem a função de fiscalizar as instituições e garantir a saúde do sistema, poderia intervir.
Mesmo assim, o mercado financeiro reagiu mal à inesperada troca de comando no BB: a ação ordinária do banco recuou 8,15% ontem na Bovespa. Foi a maior queda do principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (que reúne os 65 papéis mais negociados) e o terceiro papel mais negociado, com 9% do total movimentado.
Os acionistas minoritários sofrem bastante com esse tipo de movimento porque, diferentemente dos fundos e dos grandes investidores, não costumam correr para vender uma ação apenas por causa de um dia negativo.
"Entendo que deve ter sido uma queda pontual, em decorrência do desconforto momentâneo causado com a intervenção política na instituição", afirma Marcos Duarte Santos, vice-presidente da Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais).
Mario Engler, professor da Escola de Direito da FGV e doutorando pela USP com uma tese sobre o controle do Estado sobre empresas públicas, lembra que a existência delas só se justifica pela sua missão pública. "Para conciliar os interesses dos dois tipos de acionista, o governo e o privado, é preciso compreender que a estatal não tem como diretriz buscar o lucro maximizado. Por isso, o minoritário já compra os papéis com um certo desconto. Em contrapartida, está investindo em uma companhia sólida e idônea."
Na sua avaliação, substituir o presidente não garante que todas as vontades do seu controlador, que é o governo federal, sejam absolutamente cumpridas. "Nas estatais, existem regras de governança corporativa que limitam a intromissão do acionista majoritário nas decisões das empresas", diz.

Concorrência
Pairam, ainda, dúvidas sobre a eficácia do uso de instituições públicas para baixar as taxas de juros em todo o mercado bancário. A medida até gera uma pressão; porém, em tempos de alta da inadimplência, o banco privado deve preferir esperar um pouco antes de copiá-la.
"Esse tipo de ação demora um certo tempo para fazer algum efeito que nem sabemos qual é", diz Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating. Melhor seria, afirma ele, efetuar reformas estruturais como a tributária e acelerar a implantação do cadastro positivo para reduzir o "spread" de forma consistente. "Parece que o governo quer ser coerente com o seu próprio discurso de que as taxas precisam cair tomando alguma providência concreta, e essa é a que pode ser implantada rápido."


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