São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Doze empresas querem disputar Belo Monte

Governo tenta formar dois ou mais consórcios, mas poucas inscritas têm como criar competição com grupo liderado pela Andrade Gutierrez

Planalto diz que não exerce pressão para a formação de consórcios, após desistência da Camargo Corrêa e da Odebrecht da licitação

LEILA COIMBRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo tenta formar mais dois ou até mesmo três consórcios para disputar Belo Monte. A estratégia é juntar as 12 empresas inscritas na chamada pública da Eletrobras em consórcios capitaneados cada um por uma subsidiária da empresa (Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul). Mas, das 12 empresas habilitadas, poucas teriam condições concretas de formar um consórcio competitivo, segundo apurou a Folha.
Apenas os grupos Mendes Júnior, J. Malucelli, Serveng, Queiroz Galvão, OAS e uma estatal russa de energia teriam musculatura financeira suficiente e devem se juntar formando um único grupo. O Bertin teria demonstrado interesse, mas não se inscreveu, disse à Folha fonte próxima à negociação. A solução seria entrar posteriormente no consórcio, adquirindo indiretamente fatia de alguma empresa inscrita.
Desistiram de se associar à Eletrobras e também de participar do leilão, além da Camargo Corrêa e da Odebrecht, a CPFL e a Suez. Esta última afirma oficialmente que ainda está analisando o projeto. Mas pessoas ligadas ao grupo dizem que a empresa não participará.
O presidente da Suez no Brasil, Maurício Bahr, disse anteontem que "é um projeto muito grande e ainda sem garantias de viabilidade".
A Braskem demonstrou interesse em participar do leilão como um autoprodutor (produzindo para consumo próprio), mas teria recebido um veto da sua controladora, a Odebrecht.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que acredita na formação de pelo menos mais dois consórcios competindo com o grupo liderado pela Andrade Gutierrez e composto ainda por Vale, Neoenergia e Votorantim.
"Estão se formando grupos. No total, pode até haver a formação de três consórcios, mas o mais provável é vermos dois", afirma. Tolmasquim disse que um número significativo de interessados pulverizados se candidatou. "A tendência é a de se agruparem e formarem um ou dois novos consórcios com as subsidiárias da Eletrobras, além daquele já formado."
Tolmasquim enfatizou que o processo está ocorrendo normalmente para o leilão, que será realizado no dia 20, e descartou a possibilidade de o governo pressionar para a existência de mais de um consórcio na disputa, para não ficar frágil politicamente. "Não existe pressão nenhuma. Ninguém forma grupos por pressão. Ou se tem interesse empresarial ou não se tem. Como é que se pressiona? Eles se inscreveram lá com a Eletronorte", disse.
O preço-teto da tarifa a ser cobrada pela energia que será produzida pela usina, estipulado em R$ 83 o megawatt-hora, "é competitivo", afirmou o presidente da EPE. "Mesmo que não tenha deságio, R$ 83 já é um sucesso. Mas, se tiver deságio, melhor ainda", completou. O teto da tarifa foi citado por Camargo Corrêa e Odebrecht como motivo para a desistência da disputa.
A usina de Belo Monte será a terceira maior do mundo, com capacidade para gerar 11 mil megawatts, projeto que estava na gaveta do governo havia décadas por enfrentar obstáculos socioambientais.
Apesar de ter obtido a licença ambiental prévia do Ibama após pressão do governo -que resultou até em demissões dentro do órgão-, o documento é frequentemente questionado. O Ministério Público do Pará entrou ontem na Justiça contra a licença concedida para o projeto.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.