|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONJUNTURA
Na comparação com fevereiro, produção industrial cai 0,8% em março, a primeira queda desde outubro de 2001
Indústria volta a regredir, afirma IBGE
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A produção industrial brasileira, que vinha mostrando recuperação no começo do ano, entrou em sinal de alerta, de acordo com
os números de março divulgados
ontem pelo IBGE. Na comparação com fevereiro, houve uma
queda de 0,8%, a primeira desde
outubro do ano passado.
Em relação a março de 2001, a
queda foi de 3,8%, a maior desde
fevereiro. O indicador referente a
12 meses passou de 0,3% positivo
em fevereiro para 0,7% negativo
em março. No primeiro trimestre
do ano, em relação ao mesmo período do ano passado, o resultado
foi queda de 2,2%.
Na comparação com março do
ano passado, houve queda de
17,4% na produção de veículos e
de 10,9% na de eletrodomésticos.
Dos 20 ramos industriais pesquisados pelo IBGE, 16 tiveram produção menor do que em março
do ano passado. Em relação a fevereiro, 12 dos 20 ramos mostraram queda.
"Estamos em sinal amarelo, que
significa alerta. O que vai acontecer, não sabemos. Pode ir para o
verde ou para o vermelho. Os analistas estão dizendo que a recuperação vai ser lenta e que o segundo
semestre será melhor", disse a
economista Mariana Rebouças,
gerente do Departamento de Indústria do IBGE.
Para ela, a análise aprofundada
dos números de março mostra
que a situação é mais de estabilidade que de reversão de crescimento positivo para negativo.
O indicador trimestral móvel,
que busca apurar a tendência para um período mais longo que um
mês, mostra que no trimestre encerrado em março houve crescimento de 0,27% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro.
Mariana argumentou também
que a forte queda em relação a
março do ano passado decorre,
em parte, do que os estatísticos e
economistas chamam de efeito
base. A base de comparação
(março de 2001) era muito elevada. O crescimento havia sido de
8,3%.
A economista ressalta que nem
tudo pode ser atribuído ao efeito
base. Para ela, a indústria patina
também porque o volume de crédito é insuficiente e o preço do dinheiro (juros) está alto, o rendimento médio das pessoas está em
queda desde o ano passado, a retomada do crescimento nos Estados Unidos está lenta e o Brasil sofre os efeitos da crise argentina.
"Devagar, quase parando"
O economista Salomão Quadros, responsável pela Sondagem
Conjuntural feita trimestralmente
pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), disse que "o primeiro trimestre foi devagar, quase parando", mas concorda com sua colega do IBGE quando diz que não
há ainda reversão do crescimento.
"Não abortou-se o movimento
[de recuperação econômica]. Ele
está apenas indo mais devagar do
que se gostaria", afirmou.
Segundo Quadros, as expectativas do setor industrial para os
próximos meses "continuam
muito boas", em que pese os resultados ainda não refletirem essas expectativas.
Ainda sem dados para uma análise aprofundada, o economista
da FGV disse que os números de
março podem ser, em parte, explicados pelo efeito da crise argentina sobre as exportações, especialmente dos bens de capital
(máquinas e equipamentos, principalmente).
Caso isso se confirme, Quadros
avalia que pode ter ocorrido "um
pequeno choque" no processo de
recuperação que não deve comprometer sua continuidade.
Opinião parecida tem o economista Hamilton Kai, analista de
conjuntura do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
"Acho que uma queda de 0,8% está dentro da margem de estabilidade."
Para Kai, a freada de março ainda não está muito clara, mas ele
avalia que "as expectativas não estão para euforia nem para pessimismo". Em suas últimas projeções, o Ipea previu que no segundo trimestre deste ano (abril a junho) a indústria brasileira crescerá 2,2% em relação ao mesmo período de 2001.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Para Wall Street, brasileiros rebaixaram Brasil primeiro Índice
|