São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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CONJUNTURA

Na comparação com fevereiro, produção industrial cai 0,8% em março, a primeira queda desde outubro de 2001

Indústria volta a regredir, afirma IBGE

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A produção industrial brasileira, que vinha mostrando recuperação no começo do ano, entrou em sinal de alerta, de acordo com os números de março divulgados ontem pelo IBGE. Na comparação com fevereiro, houve uma queda de 0,8%, a primeira desde outubro do ano passado.
Em relação a março de 2001, a queda foi de 3,8%, a maior desde fevereiro. O indicador referente a 12 meses passou de 0,3% positivo em fevereiro para 0,7% negativo em março. No primeiro trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano passado, o resultado foi queda de 2,2%.
Na comparação com março do ano passado, houve queda de 17,4% na produção de veículos e de 10,9% na de eletrodomésticos. Dos 20 ramos industriais pesquisados pelo IBGE, 16 tiveram produção menor do que em março do ano passado. Em relação a fevereiro, 12 dos 20 ramos mostraram queda.
"Estamos em sinal amarelo, que significa alerta. O que vai acontecer, não sabemos. Pode ir para o verde ou para o vermelho. Os analistas estão dizendo que a recuperação vai ser lenta e que o segundo semestre será melhor", disse a economista Mariana Rebouças, gerente do Departamento de Indústria do IBGE.
Para ela, a análise aprofundada dos números de março mostra que a situação é mais de estabilidade que de reversão de crescimento positivo para negativo.
O indicador trimestral móvel, que busca apurar a tendência para um período mais longo que um mês, mostra que no trimestre encerrado em março houve crescimento de 0,27% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro.
Mariana argumentou também que a forte queda em relação a março do ano passado decorre, em parte, do que os estatísticos e economistas chamam de efeito base. A base de comparação (março de 2001) era muito elevada. O crescimento havia sido de 8,3%.
A economista ressalta que nem tudo pode ser atribuído ao efeito base. Para ela, a indústria patina também porque o volume de crédito é insuficiente e o preço do dinheiro (juros) está alto, o rendimento médio das pessoas está em queda desde o ano passado, a retomada do crescimento nos Estados Unidos está lenta e o Brasil sofre os efeitos da crise argentina.

"Devagar, quase parando"
O economista Salomão Quadros, responsável pela Sondagem Conjuntural feita trimestralmente pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), disse que "o primeiro trimestre foi devagar, quase parando", mas concorda com sua colega do IBGE quando diz que não há ainda reversão do crescimento.
"Não abortou-se o movimento [de recuperação econômica]. Ele está apenas indo mais devagar do que se gostaria", afirmou.
Segundo Quadros, as expectativas do setor industrial para os próximos meses "continuam muito boas", em que pese os resultados ainda não refletirem essas expectativas.
Ainda sem dados para uma análise aprofundada, o economista da FGV disse que os números de março podem ser, em parte, explicados pelo efeito da crise argentina sobre as exportações, especialmente dos bens de capital (máquinas e equipamentos, principalmente).
Caso isso se confirme, Quadros avalia que pode ter ocorrido "um pequeno choque" no processo de recuperação que não deve comprometer sua continuidade.
Opinião parecida tem o economista Hamilton Kai, analista de conjuntura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). "Acho que uma queda de 0,8% está dentro da margem de estabilidade."
Para Kai, a freada de março ainda não está muito clara, mas ele avalia que "as expectativas não estão para euforia nem para pessimismo". Em suas últimas projeções, o Ipea previu que no segundo trimestre deste ano (abril a junho) a indústria brasileira crescerá 2,2% em relação ao mesmo período de 2001.



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